Rússia repudia sugestão feita por Trump de que Ucrânia pode recuperar territórios ocupados
Presidente dos EUA mudou de tom em reunião com homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, às margens da Assembleia Geral da ONU

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, insistiu nesta quarta-feira, 24, que é um grande erro acreditar que a Ucrânia pode recuperar territórios ocupados pela Rússia na guerra, rejeitando a sugestão que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez na véspera. Ele, que vinha defendendo que ucranianos cedessem terras aos russos como forma de negociar o fim do conflito, mudou de tom durante reunião com seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, às margens da 80ª Assembleia Geral das Nações Unidas.
Em entrevista à rádio RBC, Peskov disse nesta manhã que “não há alternativa” para a Rússia a não ser continuar sua ofensiva contra a Ucrânia, lançada em 2022.
“Continuaremos nossa operação militar especial para garantir nossos interesses e atingir nossos objetivos”, afirmou ele, usando o termo light de Moscou para a guerra.
Ele acrescentou que o Exército russo avança em todas as frentes na Ucrânia, rejeitando a possibilidade de uma reconquista dos territórios capturados. O presidente Vladimir Putin, disse Peskov, “afirmou repetidamente que estamos avançando com muito cuidado para minimizar as perdas, são ações muito deliberadas”.
O porta-voz também minimizou a sugestão de Trump de que a Rússia seria “um tigre de papel”, expressão que indica uma pessoa ou coisa que parece ameaçadora, mas é ineficaz. Peskov afirmou que seu país é um urso, não um tigre, e “não existem ursos de papel”.
Mudança de tom
Na terça-feira 23, após reunir-se com Zelensky em Nova York, Trump afirmou que a Ucrânia, “com apoio da União Europeia, está em posição de lutar e recuperar todo o território em sua forma original”.
Anteriormente, ele apoiou um plano que previa a cessão à Rússia das regiões orientais de Donetsk e Luhansk, em troca de um congelamento da frente nas regiões do sul, Kherson e Zaporizhzhia. No entanto, Kiev rejeita, por enquanto, entregar esses territórios, que considera “temporariamente ocupados”.
Ao todo, Moscou reivindica soberania sobre a Crimeia, anexada ilegalmente em 2014, e outras áreas que, juntas, compõem 20% do território ucraniano. Atualmente, militares russos controlam mais de 99% de Luhansk e 79% de Donetsk, assim como suas capitais, segundo uma análise da agência de notícias AFP baseada em dados do Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), dos Estados Unidos.
Kiev diz não aceitar a cessão de nenhum território da Ucrânia, defendendo a validade das linhas respeitadas entre 1991 e 2014, entre a dissolução da União Soviética e a anexação da península da Crimeia.
Na terça, o líder americano também minimizou o poderio militar de Moscou, dizendo que a Rússia trava “uma guerra que uma potência militar de verdade teria vencido em menos de uma semana”.
Peskov, o porta-voz do Kremlin, atribuiu os comentários ao fato do ocupante da Casa Branca ter acabado de se encontrar com Zelensky.
“É claro que o presidente Trump ouviu a versão de Zelenskyy sobre os acontecimentos. E, aparentemente, neste momento, essa versão é a razão para as declarações que ouvimos”, disse ele.
Trump tem um histórico de ecoar o que o último líder mundial com quem conversou lhe disse durante reuniões. Com frequência, porém, muda de posição posteriormente.