Saúde pública britânica não funciona, diz Trump em nova polêmica
Presidente faz crítica ao sistema de saúde britânico, que ainda é motivo de orgulho nacional; May discorda publicamente de Trump
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, atacou nesta segunda-feira o NHS, o sistema de saúde público no Reino Unido, aumentando as dúvidas sobre sua eventual visita de estado ao país, já adiada anteriormente.
“Os democratas estão pressionando por um sistema de saúde universal, enquanto milhares de pessoas estão marchando no Reino Unido porque seu sistema universal está falindo e não funciona”, escreveu no Twitter. “Os democratas querem aumentar muito os impostos para uma atenção médica realmente ruim e não personalizada. Não, obrigado!”, disse.
Milhares de pessoas protestaram no último sábado no centro de Londres em apoio aos emblemático Serviços Nacionais de Saúde (NHS, na sigla em inglês), em crise há meses devido à falta de pessoal e de dinheiro, um problema agravado neste inverno por um surto de gripe, além do Brexit, que tem levado centenas de médicos e enfermeiras de outros países da União Europeia –e dos quais o sistema depende fortemente– a deixarem a Grã-Bretanha por não se sentirem mais bem-vindos.
Apesar dos muitos problemas atuais, o NHS, criado após a Segunda Guerra Mundial, é uma instituição venerada no Reino Unido e os comentários de Trump tendem a provocar ressentimentos em relação ao presidente.
O secretário de saúde do Reino Unido, Jeremy Hunt, respondeu ao tuíte de Trump, dizendo se orgulhar do sistema de saúde britânico. “Eu posso discordar das reivindicações feitas naquela marcha, mas nenhum deles querem viver em um sistema onde 28 milhões de pessoas não têm cobertura”, referindo-se aos 28 milhões de americanos que não têm seguro de saúde. “O NHS pode ter desafios, mas tenho orgulho de ser do país que inventou a cobertura universal – onde todos recebem cuidados, não importa o tamanho do saldo bancário”.
O porta-voz da primeira-ministra Theresa May também afirmou que a premiê se orgulha do sistema de saúde britânico.
Relações complicadas
As relações entre o Reino Unido e Trump não têm sido fáceis: May foi a primeira a visitar a Casa Branca quando Trump assumiu o cargo em janeiro de 2017. Ela o convidou para uma visita de Estado, almejando uma relação de cumplicidade no momento em que o Reino-Unido se prepara para romper com a União Europeia.
Esta viagem, diferentemente da visita que Trump suspendeu recentemente para inaugurar a embaixada americana em Londres, não foi oficialmente anulada. Mas segue sem data, apesar das visitas de Estado serem preparadas com grande antecedência em razão de todo o protocolo envolvido.
Trump irritou os britânicos com comentários polêmicos no Twitter, especialmente quando replicou propaganda anti-muçulmana de um grupo extremista e quando discutiu com o prefeito de Londres, Sadiq Khan, depois de um ataque terrorista.
As tentativas de Trump de reverter a reforma da saúde de seu antecessor, Barack Obama, conhecido como Obamacare, fracassaram duas vezes, antes que seu partido conseguisse eliminar um elemento-chave do plano, o chamado “mandato individual”.
Uma possível explicação para a crítica de Trump foi uma aparição televisiva de Nigel Farage, um dos políticos britânicos a favor da saída da União Europeia e amigo pessoal do presidente. Na Fox News, Farage questionou a viabilidade dos cuidados de saúde universais e responsabilizou os imigrantes pela situação do NHS.
Entenda o NHS
O NHS, apesar de servir a todos os residentes britânicos apresenta problemas sérios: unidades sobrecarregadas, demoras no agendamento de consultas e procedimentos, além de dificuldades na obtenção de certas medicações ou de atendimentos por especialistas. Apesar de todos esses problemas, o NHS ainda é muito mais eficiente que o sistema de saúde público brasileiro, o SUS, e que a assistência disponível para pessoas que não possuem planos de saúde privados nos Estados Unidos.
(Com AFP)