O secretário responsável por negociar o Brexit, a saída do Reino Unido da União Europeia, David Davis, pediu demissão do cargo neste domingo. A renúncia representa um duro golpe para a primeira-ministra, Theresa May, que tenta unir seu partido em torno de um plano para manter fortes laços econômicos com a União Europeia mesmo após sair do bloco.
No pedido de demissão, Davis criticou o plano de May, afirmando que ele fará “com que o suposto controle do Parlamento seja mais uma ilusão que uma realidade” e que a proposta de um regulamento que permita o livre comércio de bens entregaria à UE “o controle de amplos setores da nossa economia, e claramente não nos devolve o controle de nossas leis em nenhum sentido real”.
May respondeu, em carta, que seu plano “significará, sem dúvida, o retorno de poderes de Bruxelas ao Reino Unido” e que está em linha com seu compromisso de abandonar o mercado único europeu e a união alfandegária. “Gostaria de agradecê-lo sinceramente por tudo o que fez nos dois últimos anos como ministro para dar forma à nossa saída da União Europeia”, disse a premiê.
Davis, de 69 anos, é um velho conhecedor da política britânica. Foi secretário de Estado para Assuntos Europeus entre 1994 e 1997, e em 2005 se apresentou à direção do Partido Conservador, mas foi derrotado por David Cameron. É deputado de Haltemprice and Howden, circunscrição do norte da Inglaterra.
Depois de Davis, também o secretário de Estado para o Brexit, Steve Baker, pediu demissão.
Brexit só no nome
Davis, um eurocético de longa data, foi designado há dois anos para dirigir o Departamento para a Saída da União Europeia depois que os britânicos aprovaram, em referendo, a saída do Reino Unido do bloco. Tornou-se a face do Brexit, mas seu papel foi ofuscado nos últimos meses, à medida que May e seus assistentes assumiam um papel maior na estratégia de negociação. Pelas divergências, ameaçou por diversas vezes pedir demissão.
May deve apresentar suas propostas nesta segunda-feira aos deputados britânicos, antes de fazer o mesmo em Bruxelas. O plano prevê o estabelecimento de uma zona de livre comércio de bens e um novo modelo alfandegário com o restante dos Estados-membros da UE. Não está claro se Bruxelas vai aceitar a proposta, depois de ter advertido repetidamente que o Reino Unido não pode escolher apenas algumas partes do mercado único.
O plano não é aprovado pelos deputados do partido de May, que querem uma ruptura clara com a Europa, e os empresários, que acreditam que a proposta ainda provocará prejuízos econômicos. O deputado conservador Peter Bone avaliou que Davis fez o certo, ao considerar que as propostas de May não tinham de Brexit “mais que o nome”. Ian Lavery, presidente do Partido Trabalhista, principal partido da oposição, considerou que “isto é um caos absoluto e Theresa May não tem mais autoridade”.