Segundo turno entre comunista e extrema direita: as eleições que dividem o Chile
Margem estreitíssima entre os candidatos é reflexo de um país rachado, ávido por renovação e frustrado com desempenho de Gabriel Boric
O primeiro turno das eleições do Chile neste domingo, 17, é prova categórica da força da polarização no país: a comunista Jeannette Jara, aliada do presidente Gabriel Boric, terminou com 26% dos votos, enquanto o ultradireitista José Kast arrematou 24%. A margem estreitíssima entre os candidatos de lados opostos do espectro político é reflexo de um país rachado, ávido por renovação e frustrado com o desempenho do atual líder chileno, que periga em terminar 0 mandato com 60% de desaprovação.
Boric enfrentou grandes dificuldades para implementar o programa da Frente Ampla, coalizão de esquerda que o elegeu, sem conseguir tirar do papel promessas de profundas mudanças sociais e econômicas, muito em razão da falta de maioria no Congresso Nacional. O resultado: as taxas de desemprego, em cerca de 9%, nunca retornaram aos níveis pré-pandemia, ao passo que a sensação de insegurança tem se alastrado. Embora o Chile seja uma das nações mais seguras da América Latina, as taxas de homicídio triplicaram na última década e gangues estrangeiras do crime organizado ganharam terreno, com delitos que vão de tráfico de drogas a sequestro e extorsão.
A imigração também está nas alturas, com 337.000 estrangeiros indocumentados, maioria venezuelanos que fogem do regime de Nicolás Maduro. Some-se à lista de problemas o fiasco duplo do governo Boric em aprovar uma nova Constituição em plebiscitos. Primeiro, o texto da esquerda foi derrotado pela radicalidade e por suspeitas de má condução dos delegados; depois, a proposta da direita foi rechaçada por ser ainda mais dura do que a do tempo de Augusto Pinochet, quando mais de 3 mil pessoas foram mortas ou desapareceram. Sem o sinal verde da população, o que vale ainda hoje são as normas constitucionais da ditadura.
+ Desencantados com Boric, os chilenos devem radicalizar de novo nas urnas
Quem são os candidatos
Impedido de concorrer à reeleição pela Carta Magna, o presidente chileno lançou a candidatura de Jara em seu lugar. Filiada ao Partido Comunista desde a adolescência, foi líder estudantil e sindical. Atuou como subsecretária da Previdência Social no governo da ex-presidente Michelle Bachelet e, mais tarde, integrou o gabinete de Boric como ministra do Trabalho. Para atrair o eleitorado, apostou em propostas de renda mínima e subsídios para empresas, além de ter se comprometido a modernizar a polícia, construir cinco novas prisões até 2033 e mobilizar as Forças Armadas na proteção das fronteiras.
Já Kast — que encontra inspiração em Donald Trump, dos Estados Unidos, e Javier Milei, da Argentina — começou a carreira política como deputado do partido de direita União Democrata Independente (UDI) na virada do milênio. Após 15 anos, rompeu com a sigla para fundar o ultraconservador Partido Republicano em 2019. Disputou três vezes nas eleições presidenciais, tendo sido derrotado por Boric na última.
Católico, pai de nove filhos e nostálgico dos tempos de Pinochet, ele levanta a bandeira contra o aborto e critica a “ditadura gay”. No páreo contra Jara, manteve o discurso linha dura e prometeu criminalizar a imigração irregular, expulsar “todos” os indocumentados e construir valas e muros nas divisas, bem como aumentar a taxa de crescimento anual do PIB para 4%.
“Um segundo turno entre Kast e Jara intensifica a polarização entre a ‘ameaça comunista’ e os alertas de um retorno ao autoritarismo”, disse
Carlos Malamud, pesquisador do think tank Real Instituto Elcano sobre política latinoamericana, a VEJA. “Independentemente do que aconteça nessas eleições, a governabilidade e as instituições democráticas estão em jogo. Existe o risco de paralisia institucional no Chile, onde a divisão entre os partidos levará a um legislativo fragmentado.”
Apesar de ter saído à frente no primeiro turno, Jara corre sério risco de ser derrotada na próxima rodada eleitoral. Uma pesquisa da AtlasIntel, divulgada no final de outubro, revelou que Kast deve ser eleito com uma diferença de cinco pontos percentuais. Há espaço para conquistar os indecisos, estimados em cerca de 13%. Será tarefa difícil, já que 54% dos entrevistados pela Atlas têm uma visão negativa sobre a candidata, contra 40% que a enxergam com bons olhos. O Chile se vê, portanto, diante de uma encruzilhada entre extremos.
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