As Nações Unidas estimam que o número de pessoas em situação grave de fome no mundo possa dobrar para cerca de 265 milhões de pessoas até o final de 2020. Relatório publicado na segunda-feira 20 não considera o impacto sobre a segurança alimentar causado pela pandemia da Covid-19, que contaminou mais de 2,3 milhões de pessoas e provocou a morte de 157.000.
“O número de pessoas que lutam contra a fome aguda e sofrem da desnutrição está em ascensão mais uma vez”, disse o secretário geral das Nações Unidas, o português António Guterres. “Fome aguda” significa sob risco de morrer em decorrência da subnutrição.
“Em muitos lugares, ainda nem temos capacidade de coletar dados confiáveis para conhecer a gravidade das crises alimentares”, concluiu Guterres.
No estudo, as autoridades das Nações Unidas alertam para o fato de os dados terem sido coletados antes da pandemia da Covid-19 e que, portanto, “não respondem pelo seu impacto nas pessoas vulneráveis em situações de crise alimentar”.
“A pandemia pode muito bem devastar os meios de subsistência e a segurança alimentar, particularmente para as pessoas mais vulneráveis que trabalham nos setores agrícolas e não-agrícolas informais”, afirmaram as Nações Unidas no relatório. “Uma recessão global perturbará principalmente as cadeias de suprimento de alimentos”, conclui.
Segundo a emissora britânica BBC, o diretor-geral do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas, David Beasley, afirmou que a pandemia pode elevar os casos de fome a “proporções bíblicas em poucos meses”. Em 2019, 135 milhões de pessoas foram consideradas em situação de fome aguda. Os dez países mais atingidos pela fome em 2019 responderam por 65% dos casos.
Além de cinco países africanos, de três no Oriente Médio e do Haiti, a Venezuela foi considerada pelas Nações Unidas como palco de uma das dez piores crises de fome no mundo em 2019. O país sul-americano abriga 9,3 milhões de pessoas em fome aguda – mais de 30% de sua população.
Em guerra civil há cinco anos, o Iêmen — epicentro da fome em 2019, com quase 16 milhões de casos, equivalente a mais de 50% da população local — sofre com a pior crise humanitária da atualidade, segundo as Nações Unidas.
O país reportou à Organização Mundial da Saúde (OMS) seu primeiro caso da Covid-19 em 11 de abril, em meio a receios pela sobrecarga de seu frágil sistema de saúde.