Senado dos EUA aprova fim do apoio militar à Arábia Saudita no Iêmen
Congressistas também passaram resolução que culpa príncipe da coroa saudita pelo assassinato do jornalista Jamal Khashoggi
O Senado dos Estados Unidos ignorou os apelos do governo do presidente Donald Trump e aprovou nesta quinta-feira, 13, uma resolução para retirar o apoio americano à coalizão liderada pela Arábia Saudita na guerra no Iêmen.
A resolução deve ser votada apenas em janeiro na Câmara e provavelmente receberá o veto de Trump. No entanto, envia uma mensagem simbólica mas contundente à Casa Branca sobre a indignação provocada pelo crescente número de civis mortos no conflito iemenita.
A guerra no Iêmen já deixou cerca de 10.000 mortos e é considerada pela ONU como a pior tragédia humanitária do planeta atualmente.
Imediatamente após a votação na questão do Iêmen, o Senado passou uma resolução de forma unânime culpando o príncipe da coroa saudita, Mohammed bin Salman, pelo assassinato do jornalista Jamal Khashoggi, reforçando que a Arábia Saudita deve punir os responsáveis pela morte do jornalista.
Donald Trump tem insistido que Riad é um aliado estratégico vital, mesmo após a morte em outubro de Khashoggi, assassinado por agentes sauditas. Ele prometeu vetar qualquer resolução que tente agir de forma contrária.
A resolução
Na votação histórica que aprovou o fim do suporte militar americano à coalizão saudita, 56 senadores votaram a favor da medida, contra 41 que a rejeitaram.
Entre outros elementos, a resolução proibiria que os Estados Unidos reabasteçam aviões sauditas e determinaria a redução da presença do país na região.
Entre os que apoiaram a medida estão sete republicanos. O senador independente por Vermont, Bernie Sanders, alinhado aos democratas, qualificou a votação como um “momento histórico”.
“Hoje dissemos ao despótico governo da Arábia Saudita que não vamos ser parte de suas aventuras militares”, declarou Sanders.
Conflito
O conflito no Iêmen entre o governo e os rebeldes houthis, apoiados pelo Irã, já dura sete anos. Segundo o Banco Mundial, as lutas provocaram uma dramática crise econômica, com uma contração do PIB de 50% desde 2015.
Em 2014, os rebeldes houthis conquistaram amplas faixas do território do país, incluindo a capital Sanaa e a estratégica cidade portuária de Hodeida.
Em março de 2015, a Arábia Saudita passou a liderar uma coalizão militar de apoio ao governo do Iêmen para conter o avanço dos houthis. Desde então, o conflito deixou ao menos 60.000 mortos, de acordo com o projeto Armed Conflict Location and Event Data (ACLED, na sigla em Inglês).
O objetivo da coalizão, que inclui também países como Kuwait, Qatar e Bahrain, é reinstalar o governo de Abd-Rabbu Mansour Hadi, ameaçado desde a revolta iemenita de 2011.
Nesta quinta, com o auxílio da ONU, rebeldes e governo acertaram um cessar-fogo na cidade portuária de Hodeida. Os detalhes da trégua ainda serão discutidos, mas os dois lados deverão retirar suas forças da região, que é o mais importante ponto de entrada de alimentos e ajuda humanitária no país.
O assassinato de Khashoggi
A polícia da Turquia ainda investiga a morte do saudita Khashoggi, cujos restos mortais ainda não foram encontrados. Opositor do regime de seu país, ele vivia exilado nos Estados Unidos.
A CIA concluiu que o príncipe herdeiro Mohamed bin Salman encomendou o assassinato do jornalista após ter acesso a gravações que registraram o momento do assassinato no consulado saudita. Riad nega qualquer envolvimento do príncipe no caso.
Trump, contudo, rejeitou a versão da agência de inteligência americana, afirmando que os investigadores não apresentaram conclusões firmes.
Riad já mudou seu discurso sobre o ocorrido várias vezes, negando ter conhecimento do local onde o assassinato ocorreu e, depois, atribuindo a morte de Khashoggi a uma “briga”.
Segundo a última versão da Procuradoria saudita, quinze agentes foram à Turquia para trazer Kashoggi de volta ao país. Mas a operação foi mal executada, e o jornalista acabou maltratado e drogado, antes de ser assassinado e ter seu corpo “desmembrado”.
(Com Reuters, AFP e Estadão Conteúdo)