Os senadores do Partido Republicano bloquearam, na noite de quarta-feira 7, um projeto de lei de gastos emergenciais que forneceria bilhões de dólares auxílio para a Ucrânia e Israel. O governo tentou tornar o pacote mais palatável ao incluir fundos para ambos aliados americanos em guerra, bem como para a segurança da fronteira sul, com o México, mas os republicanos exigiram medidas ainda mais duras para controlar a imigração.
Ao final da votação, 49 senadores se posicionaram a favor e 51 contra. Assim, o pacote de US$ 110,5 bilhões (R$ 542 bilhões) ficou aquém dos 60 votos necessários no Senado, que tem 100 membros, para aprovação, aumentando a pressão sobre o presidente americano, Joe Biden, para fornecer novas remessas de preciosa ajuda bélica à Ucrânia antes do final de 2023.
A votação foi partidária, com todos os republicanos do Senado votando não. Além disso, o senador Bernie Sanders, um independente de esquerda que geralmente vota com os democratas, se juntou ao Partido Republicano por preocupações sobre o financiamento da “atual estratégia militar desumana” de Israel contra os palestinos.
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“Sem tempo e dinheiro”
O projeto de lei forneceria cerca de US$ 50 bilhões para defesa e segurança da Ucrânia, bem como ajuda humanitária e econômica ao governo de Kiev. Outros US$ 14 bilhões seriam enviados para Israel, para combater o grupo terrorista palestino Hamas em Gaza.
Na terça-feira 5, Andriy Yermak, chefe de gabinete do presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que o adiamento do auxílio de Washington a Kiev provocará um “grande risco” para as tropas ucranianas, culminando na vitória da Rússia.
A diretora de orçamento da Casa Branca, Shalanda Young, havia alertado na segunda-feira 4 que os Estados Unidos estão ficando sem tempo e recursos para apoiar Kiev na batalha contra Moscou.
“Quero ser clara: sem ação do Congresso, até ao final do ano ficaremos sem recursos para adquirir mais armas e equipamento para a Ucrânia e para fornecer equipamento dos stocks militares dos Estados Unidos”, escreveu ela em texto divulgado pela Casa Branca. “Não existe um fundo mágico disponível para enfrentar este momento. Estamos sem dinheiro – e quase sem tempo.”
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Durante a votação, o líder da maioria no Senado, o democrata Chuck Schumer, destacou os riscos de uma derrota da Ucrânia. Ele afirmou que a guerra se trata de um “momento sério que terá consequências duradouras para o século 21”, e a queda de Kiev arriscaria o declínio da democracia ocidental.
México e imigração
Os republicanos que barraram o projeto justificaram era essencial defender políticas de imigração mais rigorosas, bem como um controle da fronteira com o México.
O líder do Partido Republicano no Senado, Mitch McConnell, declarou na noite de quarta-feira que o voto da sua legenda era uma prova para os democratas de que eles têm prioridades reais e querem cumpri-las.
“Vamos finalmente começar a cumprir as prioridades de segurança nacional da América, inclusive aqui em casa”, disse ele.
O pacote de emergência incluía US$ 20 bilhões de dólares para a segurança das fronteiras americanas. Democratas sugeriram quebrar o impasse oferecendo uma emenda no projeto aos republicanos, para que elaborem um texto sobre o maior controle das fronteiras.
Entraves
Mesmo que o projeto seja aprovado no Senado, ainda terá que passar na Câmara dos Deputados, controlada pelos republicanos, onde dezenas já votaram contra a ajuda à Ucrânia, incluindo o presidente da casa legislativa, Mike Johnson.
Os últimos dois pedidos da Casa Branca para que o Congresso aprovasse projetos de lei de gastos não avançaram, e o impasse ameaça se estender até 2024. Os democratas argumentam que a ajuda aos aliados é essencial para apoiar a democracia global e conter autocratas, enquanto os republicanos defendem que o Estado precisa adotar uma postura mais austera de cortes de gastos para controlar a inflação e priorizar a população americana.
“Não se engane, a votação de hoje será lembrada por muito tempo. A história julgará duramente aqueles que viraram as costas à causa da liberdade”, disparou Biden em um discurso na Casa Branca.