Autoridades da Coreia do Sul alertam sobre a ameaça de uma reascensão de surtos da Covid-19 desde pelo menos a semana passada, quando o país registrou mais de 100 novos casos em um mesmo dia pela primeira vez desde abril. E, assim como na “primeira onda”, uma igreja evangélica é responsabilizada por parte da disseminação da doença.
A igreja denunciada pelo governo desta vez é a ultra-conservadora Sarang-Jeil, sediada na capital, Seul.
Desde 12 de agosto — quando foram registrados os primeiros casos recentes de Covid-19 entre membros da igreja — até sábado 22, quase 800 infecções foram rastreadas à Sarang-Jeil, relatou o jornal britânico The Guardian.
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Clique e AssineEm comparação, no mesmo período em toda a Coreia do Sul, menos de 3.000 novos casos foram contabilizados pelas autoridades.
A polícia sul-coreana foi instruída a identificar e rastrear pessoas relacionadas à igreja, enquanto o Ministério da Saúde pediu a testagem e a quarentena, ambos de forma voluntária, de todos os fiéis que participaram de congregações na Sarang-Jeil entre 27 de julho e 13 de agosto.
Segundo a imprensa local, porém, centenas de fiéis se recusaram a ser testados e o pastor da igreja, Jun Kwang-hoon, não cooperou com as autoridades para rastreamentos, motivo pelo qual ele é processado criminalmente por obstrução de monitoramento de casos.
O advogado Kang Yeon-jae, que representa Jun, argumenta que é impossível a igreja saber quem frequenta suas congregações “a não ser que a igreja seja trancada com uma porta que permita as pessoas entrarem [apenas após] passarem um cartão de identidade”.
“A igreja não pode ter uma lista perfeita de todos os seus membros”, acrescentou.
O pastor também é processado pelo poder público por violação de quarentena após ter participado de uma mobilização anti-governo com milhares de manifestantes no dia 15 de agosto. De acordo com as medidas de isolamento sul-coreanas, eventos em espaço aberto não podem ter mais de 100 pessoas.
A imprensa local relatou que membros da Sarang-Jeil também foram vistos nas manifestações sem máscaras. De acordo com a emissora americana CNN, pelo menos 60 pessoas contraíram a Covid-19 nesse protesto, entre elas o próprio Jun.
De fato, as autoridades sul-coreanas acreditam que a participação de Jun e alguns fiéis nas manifestações de 15 de agosto possam ter contribuído para disseminar o novo coronavírus na igreja.
Em resposta ao governo, fiéis acusam o governo de perseguição religiosa, tendo em vista que Jun é crítico recorrente do presidente sul-coreano, Moon Jae-in. O líder religiosos considera o presidente fraco nas relações diplomáticas com a Coreia do Norte.
Precedente
Esta não é a primeira vez em que uma igreja evangélica é associada a surtos de Covid-19 na Coreia do Sul. Em fevereiro, antes mesmo da Organização Mundial da Saúde (OMS) decretar uma pandemia, mais de 5.000 casos da doença foram rastreados até a Igreja de Jesus Shincheonji, na cidade de Daegu.
No início de março, a igreja respondia por 73% dos casos da Covid-19 em todo o país. O líder da Shincheonji, Lee Man-hee, foi detido pelas autoridades após fornecer às autoridades sanitárias registros falsos sobre as congregações da igreja e sobre os seus membros.