Síria anuncia fim de ofensiva militar que viu vilas incendiadas e ‘corpos jogados no mar’
Conflitos visando apoiadores do ditador destituído, Bashar al-Assad, mataram mais de 1.000 pessoas desde quinta, de acordo com ONG

O Ministério da Defesa da Síria anunciou nesta segunda-feira, 10, a conclusão das operações militares contra apoiadores remanescentes do ditador deposto Bashar al-Assad e, de acordo com o governo, eliminar ameaças futuras. As investidas desencadearam uma onda de violência no país desde a semana passada, com acusações de que forças de segurança queimaram vilas inteiras e “jogaram corpos no mar”, segundo a Federação Alauíta na Europa.
De acordo com um balanço atualizado pelo Observatório Sírio dos Direitos Humanos, mais de 1.000 pessoas morreram desde a última quinta-feira 6, sendo 973 civis da minoria alauita, à qual pertence Assad. Os civis foram assassinados por “motivos confessionais” por agentes de segurança e aliados, e que também houve “saque de casas e propriedades”.
Ao menos 481 membros das forças de segurança e combatentes pró-Assad perderam a vida no conflito, dizem os dados do observatório. As autoridades oficiais não divulgaram um balanço, mas os números da ONG sugerem que este é o mais alto número de mortos desde 2013, quando um ataque com armas químicas pelas forças de Assad ceifou 1.400 vidas na periferia de Damasco.
Após cobranças das Nações Unidas e do governo dos Estados Unidos, Ahmed Sharaa, líder interino da Síria, anunciou no domingo 9 a formação de uma comissão para investigar as mortes. Ele disse que responsabilizaria qualquer um que excedesse a autoridade do Estado.
Sharaa, cujo movimento rebelde derrubou Assad em dezembro, acusou os leais ao ditador deposto – e potências estrangeiras que ele não especificou – de tentar fomentar revoltas.
“Hoje, enquanto estamos neste momento crítico, nos encontramos diante de um novo perigo – tentativas de remanescentes do antigo regime e seus apoiadores estrangeiros de incitar novos conflitos e arrastar nosso país para uma guerra civil, com o objetivo de dividi-lo e destruir sua unidade e estabilidade”, declarou ele.
“Nós responsabilizaremos, com total determinação, qualquer um que esteja envolvido no derramamento de sangue de civis, que maltrate civis, exceda a autoridade do Estado ou explore o poder para ganho pessoal. Ninguém está acima da lei”, acrescentou Sharaa.
Nas Nações Unidas em Nova York, diplomatas disseram que os Estados Unidos e a Rússia pediram ao Conselho de Segurança para se reunir a portas fechadas na segunda-feira sobre a escalada da violência na Síria.
À agência de notícias Reuters, uma fonte de segurança síria havia dito anteriormente que o ritmo dos combates diminuiu em torno das cidades de Latakia, Jablah e Baniyas, enquanto as forças vasculhavam áreas montanhosas ao redor, onde cerca de 5 mil combatentes pró-Assad estavam escondidos.
O ditador sírio fugiu para a Rússia no ano passado, depois que rebeldes liderados pelo grupo islâmico sunita Hayat Tahrir al-Sham (HTS), liderado por Sharaa, derrubaram o governo, encerrando décadas de repressão severa e uma guerra civil devastadora. Países ocidentais, estados árabes e Turquia apoiaram os rebeldes, enquanto a Rússia, o Irã e milícias leais a Teerã ficaram ao lado de Assad na guerra civil.
Depois de uma relativa calma que se instaurou na Síria após a queda de Assad, a violência aumentou recentemente, devido à repressão de insurgentes da seita alauíta, ramo do islamismo xiita que é a fé de alguns dos apoiadores mais fervorosos do ex-ditador, por forças ligadas ao governo sunita. Os ataques rapidamente se transformaram em assassinatos por vingança contra alauitas.
A SANA, agência de notícias estatal da Síria, reportou no domingo que uma vala comum contendo os corpos de membros de forças de segurança foi descoberta perto de Qardaha, cidade natal de Assad. Há relados de que um comboio de combatentes com tanques, armas pesadas e pequenos drones queimaram casas e carros ao longo da estrada principal da cidade de Qadmous. E grupos jihadistas ligados ao novo governo sírio foram acusados de promover limpeza étnica contra os alauitas e se livrando dos corpos para esconder as evidências dos crimes, afirmou à TV Globo o porta-voz da Federação Alauíta na Europa.