Sobe para 205 o número de mortos em enchentes na Espanha
Operações de busca revelam mais corpos; muitas pessoas ficaram presas em garagens e porões, que depois foram submersos
O número de mortos nas enchentes que atingiram a Espanha há três dias subiu para pelo menos 205 nesta sexta-feira, dia 1º, enquanto as buscas por sobreviventes continuam. Resultado de chuvas torrenciais na madrugada da última terça-feira, este já é considerado o pior desastre natural do século XXI na nação europeia, com um rastro de destruição que lembra mais a passagem de um furacão ou tsunami.
Carros empilhados uns sobre os outros, árvores arrancadas do chão, fios elétricos caídos e utensílios domésticos atolados na lama transformaram a paisagem de Valência, a região mais atingida pelas chuvas, onde pelo menos 202 morreram. Estima-se que dezenas continuem desaparecidas.
Valência registrou as maiores chuvas da área em 28 anos. Muitas pessoas foram pegas de surpresa e ficaram presas em porões, garagens e andares subterrâneos de edifícios.
Autoridades regionais afirmaram na quarta-feira à noite, depois que helicópteros salvaram cerca de 70 pessoas, que aparentemente não restava ninguém preso em telhados ou em carros.
“Nossa prioridade é encontrar as vítimas e os desaparecidos para que possamos ajudar a acabar com o sofrimento de suas famílias”, disse o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, após se reunir com políticos em Valência nesta quinta-feira, o primeiro de três dias oficiais de luto declarados pelo governo.
Ferrovias e fazendas danificadas
A costa mediterrânea da Espanha está acostumada com tempestades no outono do Hemisfério Norte, que costumam até causar inundações, mas este foi um evento de proporções irreconhecíveis. Cientistas associam a intensificação de desastres naturais às mudanças climáticas, que também estão por trás do aumento nas temperaturas e secas na Espanha. O aquecimento do Mar Mediterrâneo provoca maior evaporação da água, tornando as tempestades mais poderosas.
Paiporta, uma comunidade de 25.000 habitantes próxima à cidade de Valência, foi o local que mais sofreu com o desastre. Segundo a prefeita, Maribel Albalat, 62 habitantes morreram por lá, incluindo idosos em uma casa de repouso.
As tempestades também afetaram a costa sul e leste da Península Ibérica. Casas ficaram sem água até o sudoeste de Málaga, na Andaluzia, onde um trem de alta velocidade descarrilou na terça-feira à noite — embora nenhum dos quase 300 passageiros tenha se ferido.
Estufas e fazendas no sul da Espanha, conhecido como o jardim da Europa, pela exportação de produtos agrícolas, também foram arruinadas. As tempestades geraram um tornado anormal em Valência e uma tempestade de granizo que abriu buracos em carros na Andaluzia.
Buscas continuam
Mais de 1.000 soldados das unidades de resgate de emergência da Espanha se juntaram a equipes de resgate regionais na busca por mortos e sobreviventes. Os militares encontraram 29 corpos e resgataram pelo menos 110 pessoas até a quinta-feira.
Valência continua parcialmente isolada, já que várias estradas foram bloqueadas por entulho, e viagens de trem foram canceladas — incluindo a linha de alta velocidade para Madri. Oficiais afirmaram que vai demorar de duas a três semanas até que o sistema de transporte volte ao normal.
O caos também foi acompanhado por saques a lojas e mercearias. A Polícia Nacional fez 39 prisões na quarta-feira em áreas afetadas pelas tempestades. A Guarda Civil destacou policiais para impedir assaltos a casas, carros e shoppings.
Crítica às autoridades
O violento evento climático surpreendeu o governo regional. O serviço meteorológico nacional da Espanha disse que choveu mais em oito horas na cidade valenciana de Chiva do que nos 20 meses anteriores.
Agora, o governo valenciano está sendo criticado por não emitir avisos de enchentes até as 20h da terça-feira, quando algumas partes da região já estavam submersas e horas depois do alerta vermelho da agência meteorológica nacional.
O presidente regional de Valência, Carlos Mazón, defendeu sua administração, dizendo que “todos os nossos supervisores seguiram o protocolo padrão.”