O Parlamento de Israel aprovou no último dia 28 o banimento da UNRWA – a agência de ajuda humanitária da Nações Unidas para refugiados palestinos – de trafegar em seu território.
Essa proibição acontece num contexto de anos de críticas de Israel à entidade. Esses problemas se intensificaram desde os atentados de 7 de outubro de 2023, que resultaram na morte de mais de 1 200 israelenses, e da subsequente invasão à Faixa de Gaza pelo Estado judeu.
Segundo autoridades israelenses, a UNRWA abriga terroristas entre seus funcionários. As Forças de Defesa de Israel disseram, inclusive, que um funcionário da agência atuava como comandante do grupo terrorista Hamas.
Segundo a ONU, a decisão inviabiliza o alívio às populações da Faixa de Gaza, ainda em guerra, e da Cisjordânia. O cientista político André Lajst, especialista em Oriente Médio e presidente executivo da StandWithUs Brasil, afirma, porém, que a substituição da atuação da UNRWA por outras instituições é viável.
“Prova disso são as organizações envolvidas na distribuição de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, muitas delas como agências da própria ONU, a exemplo do World Food Programme (WFP), da UNICEF e da Organização Mundial da Saúde (OMS), as quais não têm ligações com grupos terroristas”, diz Lajst.
“Essa agência da ONU se tornou parte do problema, e não da solução para o conflito”, prossegue.
De acordo com o The Wall Street Journal, pelo menos 12 funcionários da UNRWA participaram dos ataques terroristas do dia 7 de outubro e cerca de 1.200 dos empregados pela organização na Faixa de Gaza – o equivalente a 10% da força de trabalho – possuem algum tipo de ligação com o Hamas e a Jihad Islâmica, grupos terroristas palestinos. A ONU reconheceu a legitimidade das denúncias feitas por Israel este ano e demitiu nove pessoas.
Além disso, ao longo do último ano, Israel forneceu evidências do envolvimento de membros da UNRWA nos atentados de outubro.
Mussalem al-Naami, por exemplo, um dos assistentes sociais da agência da ONU, foi responsável por sequestrar o corpo do israelense Jonathan Samerano, assassinado no festival de música eletrônica Nova.
Até hoje, Ayelet Samerano, mãe do jovem, pede à ONU que pressione o Hamas para que o corpo de Jonathan, ainda na Faixa de Gaza, seja devolvido.
Criada em 1950, a UNRWA tinha como objetivo atender às necessidades dos árabes que foram deslocados durante a Guerra de Independência de Israel (1948-1949).
Na época, ainda não havia nenhuma legislação internacional sobre o status de refugiados e a UNRWA deveria ser uma medida provisória. Com a Convenção de Genebra de 1951 e o Protocolo de 1967, que estabeleceram o ACNUR, a agência da ONU para refugiados, a UNRWA deveria ter sido extinta; o que não aconteceu.
A UNRWA atende apenas aos refugiados palestinos, os quais possuem uma definição de refugiados diferente da aplicada aos de todas as demais nacionalidades, que estão debaixo do mandato do ACNUR.
A maior diferença entre as duas organizações, no entanto, é que enquanto o ACNUR busca encontrar uma solução definitiva para os refugiados, reassentando-os em outros países e defendendo o retorno deles às nações de origem apenas quando possível, a UNRWA faz o oposto, tendo como única solução o retorno dessas pessoas para os locais onde os seus pais e avós viviam; no caso, para Israel.
Segundo Lajst, isso não apenas prolonga, por gerações, o status de refugiados entre os palestinos, como ainda é um grande empecilho para a solução do conflito no Oriente Médio.
“Os netos e bisnetos dos demais refugiados do mundo não são refugiados, mas cidadãos dos países onde nasceram. Se fossem tratados desse modo, os palestinos que hoje estão debaixo do mandato da UNRWA viveriam melhor, com mais direitos. Isso teria evitado grande sofrimento, principalmente na Faixa de Gaza, onde a agência da ONU foi praticamente sequestrada pelo Hamas e a Jihad Islâmica. Sem falar que a manutenção do status de refugiados para os palestinos por décadas, dificulta ainda mais a solução do conflito palestino-israelense, alimentando falsas ilusões sobre um suposto ‘direito de retorno’ dessas pessoas a territórios que hoje fazem parte do Estado de Israel”, explica o cientista político.