Guy Mettan é deputado e ex-presidente do Parlamento Estadual de Genebra, chamado oficialmente de Grande Conselho. Ele chega à sede do Poder Legislativo de um dos mais importantes cantões (província) da Suíça em sua scooter.
Mettan não tem carro oficial. Tampouco tem direito a uma vaga reservada diante do histórico prédio no centro da cidade. Por vezes, ele admite que vai ao trabalho com um motorista — aquele que conduz o ônibus público da cidade.
A região é uma das mais ricas do mundo, tem uma taxa de desemprego de 5,3% e é um dos pilares de um sistema financeiro que guarda em seus cofres trilhões de dólares. Genebra, de forma insistente, entra em todas as listas das cidades mais caras –e ricas– do mundo há anos.
Mas, para não atrapalhar o emprego “normal” dos cem representantes do povo, como os deputados são chamados aqui, as sessões do Parlamento são todas organizadas no final da tarde, quando o expediente já terminou — ser parlamentar é um privilégio e não uma profissão.
Não apenas o deputado comum não conta com um carro oficial, mas tampouco é beneficiado por qualquer tipo de transporte. Uma exceção é feita ao presidente do Grande Conselho que, caso esteja indo a um evento oficial, tem o direito de usar um veículo oficial. Mesmo assim, o privilégio só é concedido se ele estiver indo à reunião na condição de presidente da Câmara e não a título pessoal.
O auxílio-moradia não faz parte dos benefícios. Ao final de quatro anos de mandato, os deputados também não ganham uma aposentadoria.
Durante anos no “poder”, não podem contratar parentes e ganham um voucher para fazer duas refeições por mês. Cada uma delas de 40 francos suíços (137 reais). “Dá para uma pizza e um copo de vinho”, brinca Mettan.
Salário
Na melhor das hipóteses, um deputado em Genebra vai somar um salário anual de 50.000 francos suíços (o equivalente a 172.000 reais), cerca de 4.100 francos por mês. Isso se ele for o presidente do Parlamento e comparecer a todas às sessões. O cálculo de quanto Mettan e todos os demais recebem a cada mês é feito por hora. “Se você vem, você recebe. Se não, não recebe”, disse o deputado, que conta que precisa assinar com seu próprio punho uma lista de presença a cada reunião.
Transformado em reais, o valor pode ate parecer elevado. Mas, hoje, o pagamento ao presidente do Grande Conselho de Genebra é inferior à média salarial de um fabricante de queijo e menor que a renda de um mecânico de carros na Suíça, de uma secretária, de um policial, de um carpinteiro, de uma professora de jardim de infância, de um metalúrgico ou de um motorista de caminhão. Ele, porém, é equivalente ao salário médio de um açougueiro da cidade alpina.
Para um deputado “ordinário”, o salário é muito inferior ao do presidente do Parlamento. Por ano, eles chegam a receber cerca de 30 mil francos suíços, o equivalente ao pagamento médio atribuído a um artista de circo ou a um ajudante de cozinha, postos ocupados em grande parte por imigrantes.
No Brasil, o salário de um deputado estadual chega a 25.300 reais por mês em São Paulo, por exemplo. Além disso, os parlamentares brasileiros têm direito a uma verba mensal (o chamado “cotão”), que pode superar 30.000 reais, para custeio de gastos de alimentação, transporte, passagens aéreas e despesas de escritório.
Empregos primários
Mettan explica que a função de deputado consome apenas 25% do seu tempo de trabalho e que, por conta do salário baixo, todos são orientados a manter seus empregos primários, mesmo depois de eleitos.
“Na Suíça, a política é considerada um envolvimento popular”, explicou. “É um sistema de milícia. Ou seja, não é um sistema profissional. Somos obrigados a ter um emprego paralelo, a ter uma profissão paralela. Não se pode viver com essa indenização”, admitiu o deputado suíço. “Não existe deputado profissional”, completou ele.
(Com Estadão Conteúdo)