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Suíça investiga pagamento de propina à oposição venezuelana

Acusações de corrupção afundaram líderes opositores como Henrique Capriles e ajudaram em avanço de Guiadó

Por Estadão Conteúdo
Atualizado em 18 fev 2019, 12h28 - Publicado em 18 fev 2019, 11h18

A ascensão de Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela levantou uma questão: como um jovem de 35 anos, aliado do opositor preso Leopoldo López, se tornou a principal voz da oposição? Além da perseguição política do chavismo e da fuga de muitos líderes opositores, denúncias de corrupção ajudaram a manchar a imagem de muitos políticos tradicionais. O caso mais emblemático é o de Henrique Capriles.

Em 2013, Capriles quase derrotou Nicolás Maduro na primeira eleição presidencial após a morte de Hugo Chávez. Desde então, apesar de alguns lampejos de liderança, desapareceu. Seu desterro começou com a série de denúncias de que ele teria recebido propina da construtora Odebrecht.

Um levantamento realizado pelas autoridades da Suíça revelou que a oposição venezuelana recebeu da empresa brasileira milhões de dólares em contas em paraísos fiscais. Segundo o relatório, pelo menos dez campanhas eleitorais de grupos de oposição foram turbinadas por recursos ilegais da empresa brasileira entre 2006 e 2013.

Um dos principais beneficiados teria sido o grupo de empresários e pessoas aliadas de Capriles, com movimentações de mais de 15 milhões de dólares.

Em um documento produzido pelos suíços, ainda em 2017, as autoridades afirmam que “Capriles teria recebido subornos relacionados a obras realizadas em Miranda, Estado no qual o grupo Odebrecht realizou obras importantes”. Parte da investigação tem como base documentos de bancos suíços repassados às autoridades venezuelanas ainda em 2017.

A forma utilizada para permitir que o dinheiro chegasse à oposição era o uso de uma série de empresas de fachada e em nome de aliados de Capriles, entre eles Romulo Lander Fonseca e Juan Carlos Briquete Marmol, irmão de Armando Briquet, um político do Estado de Miranda, onde Capriles havia sido governador.

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Uma das contas identificadas e suspeita de fazer parte de um esquema de apoio à oposição é da empresa de fachada Link Worldwide Corp, com sede no Panamá. Entre 26 de agosto de 2011 e 10 de abril de 2013, a conta recebeu 940.000 euros e 3,9 milhões de dólares em pagamentos da Odebrecht.

Para fazer os depósitos, a construtora brasileira usava suas próprias empresas de fachada, entre elas a Klienfeld e a Trident, também identificadas na Operação Lava Jato.

Ciúmes

Ainda existem contas relacionadas aos empresários no banco Sarasin, fechadas em 2016. Entre 24 de outubro de 2012 e 14 de novembro de 2012, a empresa Blue Skies Investments, com sede no Panamá e também tendo Fonseca como beneficiário, recebeu na Suíça mais 785.000 dólares. O dinheiro foi depositado pelos intermediários da Odebrecht.

Briquet Marmol ainda aparece como beneficiário da empresa de fachada Briq Corp, também com sede no Panamá. Entre maio e junho de 2012, foram registrados pagamentos para essa conta no valor de 2,6 milhões de dólares por parte das intermediárias da Odebrecht. Em fevereiro de 2017, essa conta somava 6,5 milhões de dólares.

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Um dos intermediários destacados é justamente Armando Briquet, irmão de Juan Carlos Briquet Marmol. Armando chegou a ser um dos expoentes, em Miranda, do partido Primero Justicia, comandado por Capriles.

Em 2013, em seu canal na Internet, o líder opositor declarou que, se os “corruptos do governo me atacam, isso quer dizer que vamos pelo bom caminho”. “Que digam o que queiram”, afirmou Capriles. “Eles têm ciúmes.”

Em 2013, Henrique Capriles havia se tornado o principal nome da oposição da Venezuela, e era o único considerado capaz de fazer frente ao chavismo. Um ano antes, ele tinha sido derrotado por Hugo Chávez na eleição presidencial por uma diferença de 1,4 milhão de votos – um dos piores resultados do comandante nas urnas.

Após a morte de Chávez, Capriles tornou-se a voz da oposição e conseguiu atrair milhares de pessoas em seus discursos. Na primeira eleição presidencial sem Chávez em 14 anos, em abril de 2013, Capriles surpreendeu a todos e por apenas 224.000 votos não chegou ao poder.

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Ao final, o sucessor de Chávez, Nicolás Maduro, obteve pouco mais de 7,5 milhões de votos e Capriles 7,3 milhões. Foi o resultado eleitoral mais positivo para a oposição desde 1999.

630 milhões de reais

No total, delações e documentos reunidos no Brasil e na Venezuela indicam que a Odebrecht pagou mais de 630 milhões de reais (173 milhões de dólares) em propinas e financiamentos ilegais de campanhas venezuelanas em oito anos.

Apenas para a campanha presidencial de Nicolás Maduro contra Capriles, mais de 110 milhões de reais (30 milhões de dólares) foram destinados pela construtora. Em troca, a empresa brasileira foi favorecida em mais de uma dezena de contratos públicos entre 2006 e 2014.

As informações fazem parte da investigação conduzida pela Procuradoria da Venezuela, quando o organismo ainda estava sob comando de Luisa Ortega Díaz. Em 2017, ela fugiu para o exterior depois de entrar em choque com o governo Maduro. Parte dos dados foi levada por ela e seus assessores ao escapar. Em Caracas, o trabalho foi abandonado pelos procuradores que a substituíram.

Os valores sob suspeita seriam resultado de uma compilação de documentos confiscados, extratos bancários e informações colhidas a partir de delações premiadas.

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