A polícia da Eslováquia anunciou nesta quinta-feira, 16, que o suspeito do ataque a tiros contra o primeiro-ministro do país, Robert Fico, foi acusado de tentativa de homicídio. O líder eslovaco sofreu um atentado na véspera, sendo baleado cinco vezes à queima-roupa, e permanece em estado “muito grave”.
O ministro do Interior, Matus Sutaj Estok, disse em coletiva de imprensa nesta quinta-feira que o suspeito agiu sozinho e que já tinha participado de protestos contra o governo.
O portal de notícias eslovaco tvnoviny.sk também reportou nesta quinta-feira que o suspeito pode ser condenado à prisão perpétua.
Relatos na mídia
O alegado agressor não foi formalmente identificado, mas a mídia eslovaca informou que ele tem 71 anos, vem da cidade de Levice, é ex-segurança de um shopping center, autor de três livros de poesia e membro da Sociedade Eslovaca de Escritores. O meio de comunicação Aktuality.sk entrevistou o filho do suspeito, que disse que seu pai era o titular legal de uma licença de porte de arma.
Jornais locais encontraram ainda um vídeo sem data publicado no Facebook, em que o suspeito diz: “Não concordo com a política do governo”, criticando os planos de Fico para fazer uma reforma envolvendo a televisão pública. O atentado ocorreu no dia em que o parlamento começou a discutir a proposta do governo para abolir a emissora RTVS da Eslováquia.
A Reuters afirmou ter verificado que a pessoa no vídeo corresponde às imagens do homem preso após o tiroteio de Fico.
A política de Fico
Os planos de reforma da TV estatal eslovaca não nasceram no vazio. Fico há muito critica a grande mídia da Eslováquia, recusando-se a falar com alguns meios de comunicação. Ele e seus aliados da coalizão no governo criticaram vários sectores da comunicação social e da oposição por “inflamarem” as tensões na nação da Europa Central.
Pode parecer hipócrita, uma vez que as polêmicas do premiê eslovaco também são fonte de tensão. Conhecido por atitudes nacionalistas e populistas, admira tanto Vladimir Putin (já disse que não permitiria a prisão do presidente russo por meio de um mandado internacional se ele fosse para a Eslováquia), como o líder da Hungria, Viktor Orbán, semi-autocrata que Fico avalia “defender os interesses do seu país e do seu povo”.
Mas o líder da Eslováquia não é preto no branco, e aparenta ser grande estrategista. Ao longo de uma carreira de três décadas, navegou com sucesso entre os políticos do establishment e pró-União Europeia, bem como por uma retórica feroz de nacionalismo anti-Ocidente. Dependendo da situação ou da opinião pública, ele se mostra mais do que disposto a mudar de rumo.
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Nas últimas eleições, sob a justificativa de que só tem os interesses eslovacos em mente, Fico enveredou por ataques à União Europeia e ONG internacionais, além de insultar rivais com falsas acusações a respeito de um suposto plano de golpe. Ele também incendiou a opinião pública ao se opor veementemente à imigração – um fator chave na sua vitória eleitoral em 2016 – e rejeitar que haja comunidades muçulmanas na Eslováquia. Mais recentemente, criticou a união de pessoas do mesmo sexo, taxando de “perversão” a adoção de filhos por casais gays.
Durante a pandemia de Covid-19, ele também foi a voz mais proeminente do país contra o uso de máscaras, confinamentos e a vacinação. Antes de voltar ao cargo de premiê em outubro passado, explorou um sentimento pró-Rússia, que é grande na Eslováquia, para minar o rumo pró-Ocidente do governo anterior..