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“Tenho todas as evidências contra Maduro”, diz ex-procuradora

Em entrevista a VEJA, Luisa Ortega diz que está preservando as provas contra o presidente da Venezuela para evitar que elas sejam destruídas

Por Thiago Bronzatto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 10 dez 2018, 10h06 - Publicado em 23 ago 2017, 14h02

Em fevereiro deste ano, a então procuradora-geral da Venezuela, Luisa Ortega Díaz, estava em Brasília tratando das informações constantes das delações da Odebrecht sobre governos da América Latina quando recebeu uma notícia estarrecedora — a sua filha e o seu neto haviam sido sequestrados. Apavorada, ela deixou às pressas a reunião na Procuradoria-Geral da República e voltou para o seu país. Poucos dias depois, a filha e o neto de Ortega Díaz foram libertados. A procuradora atribuiu o episódio a uma tentativa de intimidação nos trabalhos de investigação da corrupção envolvendo o governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro. Depois de seis meses, Ortega Díaz retornou à capital do Brasil, onde participou na manhã desta quarta-feira da 22ª Reunião Especializada de Ministérios Públicos do Mercosul (REMPM) e de um encontro no Itamaraty com o chanceler Aloysio Nunes. Em entrevista exclusiva a VEJA, ela disse: “Tenho todas as evidências (contra Maduro) e estou compartilhando com alguns procuradores-gerais da região e de outros continentes (…), porque a Venezuela não é garantia de Justiça. Qualquer evidência que exista na Venezuela que comprometa o governo vai ser destruída. Em consequência, estou preservando essa evidência”. Veja o vídeo abaixo.

https://www.youtube.com/watch?v=UP-4RV2HDzs

Para Ortega Díaz, a corrupção na Venezuela tem deixado o país num estado de penúria. “O tema de corrupção na Venezuela tem atraído como consequência os grandes males de que está padecendo a população porque o dinheiro que deveria ser destinado para os alimentos, para a saúde e medicamentos termina no bolso e no cofre de quem está no poder. É isso o que está acontecendo na Venezuela, lamentavelmente”, afirmou a VEJA a ex-procuradora-geral venezuelana.

Na semana passada, Ortega Díaz e seu marido, o deputado Germán Ferrer, mudaram-se para Bogotá, na Colômbia. O casal deixou a Venezuela alegando ser vítima de uma “perseguição sistemática” promovida pelo governo de Nicolás Maduro após a ex-procuradora iniciar uma investigação para apurar um esquema de propinas da Odebrecht na região. Em delações premiadas, executivos da empreiteira relataram pagamentos de quase 100 milhões de dólares em subornos. Nesta terça-feira, o procurador-geral da Colômbia, Fernando Carrillo, disse em coletiva de imprensa que Ortega Díaz tem documentos que comprovam a corrupção da construtora brasileira na Venezuela.

“É o maior caso de corrupção na região e isso os mantêm muito preocupados e angustiados porque eles sabem que temos informação e detalhes de todas as operações e valores”, disse Ortega Díaz numa teleconferência com procuradores e promotores da América Latina realizada na semana passada.

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No início de agosto, Ortega Díaz foi destituída do cargo de procuradora-geral da Venezuela, teve os seus bens congelados e foi impedida de deixar o país pela Assembleia Constituinte, formada por 545 membros que têm poderes para interferir em outras instituições de Estado. Após Ortega Díaz ser substituída pelo chavista Tarek William Saab, o marido da ex-procuradora, Germán Ferrer, teve o seu pedido de prisão solicitado. Ele foi declarado suspeito de integrar uma rede de extorsão de empresários envolvidos em casos de corrupção.

Os atritos entre Ortega Díaz e Maduro se iniciaram no ano seguinte à morte de Hugo Chávez, em março de 2013. A família da ex-procuradora sempre teve uma boa relação com o pai da revolução bolivariana. Essa proximidade levou Ortega Díaz a comandar a área jurídica da emissora venezuelana VTV. A lealdade a Chávez a alçou ao posto de chefe do Ministério Público da Venezuela, em 2008. Seis anos depois, foi mantida no cargo pela Assembleia Nacional, composta de maioria chavista. As acusações direcionadas contra o governo ditatorial de Maduro geraram um entrevero. Para piorar ainda mais a situação, Ferrer se afastou do governo e passou a integrar uma pequena bancada formada por opositores ao governo. Tanto a ex-procuradora como seu marido começaram a receber ameaças de morte, sendo algumas delas do Serviço Bolivariano de Inteligência (Sebin).

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