Ex-membro da Al Qaeda, o imigrante afegão Najibullah Zazi deve ser liberado de prisão em Nova York onde cumpre pena nos próximos dias. Em 2009, ele foi acusado de planejar um ataque terrorista no metrô da cidade americana e, depois de se declarar culpado, foi detido e estava sob custódia do Estado desde então.
Um juiz federal do Brooklyn sentenciou Zazi, de 33 anos, a dez anos de prisão contados desde sua prisão preventiva, sem tempo adicional, depois de os promotores do caso terem mencionado sua “cooperação extraordinária” com os investigadores dos Estados Unidos.
“Este é o mesmo senhor Zazi que vi há muitos anos?”, questionou o juiz da Corte de Nova York, Raymond Dearie, durante a leitura da pena. “Tudo indica que não é”, concluiu o magistrado, depois que a defesa e a acusação descreveram a transformação do réu, de prototerrorista a uma testemunha importante do governo.
Zazi se declarou culpado de três acusações sobre a ideia de plantar bombas no metrô nova iorquino no aniversário dos ataques de 11 de setembro, incluindo conspiração para usar armas de destruição em massa, conspiração para cometer assassinatos em um país estrangeiro e oferecer material de apoio a uma organização terrorista.
O afegão corria o risco de ser condenado à prisão perpétua, mas, com a pena de dez anos, tendo cumprido mais de nove, seu advogado espera por sua libertação muito em breve. “Dei o meu melhor para corrigir meu erro terrível cooperando com o governo”, declarou o réu na última quinta-feira 2, durante seu discurso ao juiz. “Não sou a mesma pessoa e não consigo nem imaginar como estive envolvido nas coisas que fiz entre 2008 e 2009”, disse Zazi, com a cabeça raspada e a barba aparada, distanciando-se da aparência de uma década atrás.
Ao argumentar pela sua libertação, ele contou que, apesar de não ter terminado o ensino médio, conquistou um diploma de segundo grau durante seu tempo na prisão e “estudou todas as matérias disponíveis”. “Eu sinto muito, meritíssimo, por toda dor que causei. E peço por perdão”, completou.
Seu advogado, William Stampur, deixou claro que a evolução de seu cliente inclui o repúdio “a qualquer ideologia terrorista”. Na saída do tribunal, Stampur disse aos jornalistas que Zazi “mudou muito” na última década e que está “extremamente agradecido” pela decisão do juiz. O responsável pela defesa ainda disse ter “esperança de que ele será colocado em liberdade em um curto período de tempo”.
Apesar da vitória, o juiz Dearie repreendeu o réu por ter chegado ao país “com gente honrada e trabalhadora” para depois “virar as costas” para seus semelhantes, segundo o tabloide New York Post.
Ingratidão aos EUA
Zazi chegou aos Estados Unidos aos 14 anos com sua família, mas se radicalizou depois de deixar a escola. Tornou-se o cérebro de uma das conspirações terroristas mais graves desde os atentados de 11 de setembro de 2001, conforme disse na época o procurador-geral do governo Obama, Eric Holder.
Ele foi ao Paquistão em 2008 com dois amigos, Zarein Ahmedzay e Adis Medunjanin, onde a organização terrorista Al Qaeda os recrutou para que realizassem um ataque com bombas no metrô de Nova York no oitavo aniversário dos atentados contra o World Trade Center. O complô foi desmantelado a tempo pelas autoridades.
Os advogados do réu defenderam, segundo relatórios dos promotores, que o afegão se mostrou um exímio cooperador, encontrando autoridades do governo mais de 100 vezes, testemunhando em diversas audiências contra seus cúmplices e “oferecendo informações preciosas sobre a inteligência da Al Qaeda e seus membros.”
Stampur afirmou que Zazi delatou seus amigos, Medunjanin e Ahmedzay, por delitos terroristas, apesar de “até chorar” ao falar sobre o primeiro investigado. Além disso, o afegão “revelou às autoridades vários atos de seus próprios familiares.”
De acordo a emissora americana CBS, o réu também testemunhou em 2015 contra Abid Naseer, um paquistanês acusado de conspirar para colocar bombas em um shopping de Manchester, no Reino Unido, em nome da Al Qaeda.
Segundo o documento dos advogados, a promotoria reconhece que a ajuda de Zazi “culminou em um forte perigo para ele mesmo e sua família. Organizações terroristas, como a Al Qaeda, deixaram claro em diversas ocasiões que podem ir atrás de ‘traidores’ ou de quem coopera contra elas. “Ao se posicionar ao lado do governo (americano) e ficar contra a Al Qaeda, ele assumiu o risco”, diz o documento.
(Com EFE)