Um tribunal na França condenou nesta quarta-feira, 29, vinte homens por participarem do pior ataque terrorista islâmico da história do país. Em novembro de 2015, uma série coordenada de tiroteios e atentados matou 130 pessoas e feriu outras 500 em Paris e nos arredores da capital francesa.
O julgamento durou 10 meses. Salah Abdeslam, o único membro sobrevivente da equipe de extremistas do Estado Islâmico, que realizou os ataques, foi considerado culpado de todas as acusações. Outros réus, que pretendiam participar dos ataques ou fornecer ajuda logística aos agressores, foram considerados culpados de quase todas as acusações.
Aquele foi o mais mortal de uma série de ataques terroristas na Europa ao longo de alguns anos – em Bruxelas, Nice, Berlim, Barcelona e em Paris mais de uma vez. Desde então, a França ainda convive com esfaqueamentos e tiroteios em menor escala, e autoridades expandiram a legislação antiterrorista e contra o extremismo religioso.
O julgamento contou com mais de 100 testemunhas. Um gigantesco tribunal foi construído em Paris especificamente para acomodar mais de 500 pessoas, entre advogados, sobreviventes, famílias de vítimas, réus, especialistas e até mesmo o presidente da França na época dos ataques, François Hollande. Foi também um dos poucos julgamentos franceses a serem filmado, para fins de pesquisa histórica, e o primeiro a ser transmitido ao vivo na Internet.
As sentenças anunciadas na quarta-feira ainda podem ser apeladas, e o tribunal não obteve todas as respostas que queria dos réus, porque vários recusaram-se a depor. A origem da maioria das armas usadas no ataque ainda é desconhecida. As vítimas também ficaram no escuro sobre o que motivou os agressores ou como a trama foi planejada.
Mas o julgamento prosseguiu metodicamente, com pouca fanfarra, poucos incidentes e um mínimo de espetáculo político. Também serviu de catarse para alguns sobreviventes e familiares das vítimas.
O veredicto “não curará as feridas, visíveis ou invisíveis, não trará os mortos de volta à vida, mas pelo menos poderá garantir-lhes que a justiça e a lei têm a última palavra aqui”, Camille Hennetier, uma das promotores, disse no início deste mês.
Nos ataques na noite de 13 de novembro de 2015, 10 extremistas do Estado Islâmico realizaram uma série de tiroteios e atentados suicidas quase simultâneos na sala de concertos Bataclan, uma área fora do estádio nacional de futebol da França e nos terraços de cafés e restaurantes no centro Paris.
Os agressores eram em sua maioria cidadãos franceses que, em uma trama cuidadosamente orquestrada, haviam viajado para o território da Síria controlado pelo Estado Islâmico para treinamento militar, antes de retornar à Europa, onde os ataques foram planejados.
Apenas 14 dos 20 réus compareceram ao tribunal, com os outros seis desaparecidos ou presumivelmente mortos. O único agressor sobrevivente no banco dos réus, Abdeslam, 32, era a figura central – e talvez também a mais evasiva. Ele acabou se abrindo sobre seu envolvimento nos ataques e pediu perdão às vítimas, mas nunca renunciou à ideologia do Estado Islâmico e insistiu repetidamente que o atentado foi apenas uma resposta a ataques aéreos franceses na Síria.
Ele reconheceu que deixou homens-bomba do lado de fora do estádio de futebol, nos bairros nobres do norte da capital. Mas ele disse que se envolveu na trama apenas dois dias antes e que mudou de ideia quando chegou ao bar onde deveria detonar a bomba.
“Cometi erros”, disse Abdeslam ao tribunal na segunda-feira, no último dia de audiências. “Mas eu não sou um assassino, não sou um assassino.”
Apenas Abdeslam foi acusado diretamente de assassinato, tentativa de assassinato e sequestro. Outros réus foram acusados de planejar participar dos ataques ou ajudar os agressores alugando esconderijos para guardar armas e explosivos, conduzindo membros da célula através das fronteiras ou garantindo dinheiro e documentos falsos. Alguns réus foram acusados de serem extremistas islâmicos que sabiam da iminência do ataque. Outros, como alguns amigos de infância de Abdeslam, eram suspeitos de ajudar os conspiradores sem saber totalmente o que estavam planejado.