Um áudio vazado nesta terça-feira, 11, no qual o bilionário Michael Bloomberg defendia a política de policiamento “stop-and-frisk” (“pare-e-reviste”), adotada quando foi prefeito de Nova York, rendeu ao pré-candidato democrata às eleições presidenciais dos Estados Unidos acusações de racismo. A munição foi usada pelo presidente americano, Donald Trump, que compartilhou o áudio no Twitter e comentou em maiúsculas: “Uau, Blommberg é completamente racista!
O candidato republicano à reeleição apagou logo em seguida seu comentário, sem maiores explicações. Mas sua atitude intempestiva deixou uma pista sobre quem considera seu potencial adversário nas eleições de novembro. Segundo o portal Real Clear Politics, que calcula a média das mais recentes pesquisas eleitorais, Bloomberg tem 13,6% das intenções de voto na disputa com os demais pré-candidatos democratas, apesar de ter entrado na briga mais tarde, em novembro. O porcentual foi suficiente para ultrapassar uma das mais fortes competidoras, a senadora Elizabeth Warren, e para conquistar o terceiro lugar no pódio dos favoritos.
Ainda mais preocupante para Trump é o fato de as pesquisas indicarem que, em disputa direta, Bloomberg sai com uma média de 6 pontos porcentuais de vantagem.
Tensões entre Bloomberg e Trump, que em 2016 disse que a política de policiamento do colega magnata funcionou “incrivelmente bem”, aumentaram à medida que as intenções de votos para o democrata cresceram.
Nesta terça-feira, o ex-prefeito de Nova York pediu desculpas pela política stop-and-frisk. “Esta questão e meus comentários sobre ela não refletem meu compromisso com a reforma da justiça criminal e a equidade racial”. O método de policiamento, que ele aplicou por mais de uma década, enquanto esteve na liderança da metrópole, , foi extremamente criticado por provocar revistas desproporcionais em negros e latinos por toda a cidade. Em 2013, a prática foi considerada inconstitucional.
Em novembro passado, quando se apresentou como possível candidato às eleições de 2020, Bloomberg fez um mea-culpa. “Eu estava errado. E eu sinto muito”. O áudio de 2015, vazado nesta terça-feira, reacendeu as acusações de racismo devido às velhas declarações do bilionário acerca do perfil de pessoas ligadas a crimes.
“Noventa e cinco por cento dos assassinos e vítimas de assassinato se encaixam em um modus operandi. Você pode pegar a descrição, fazer um xerox e distribuí-la a todos os policiais. São homens, minorias, de 16 a 25 anos. Isso é verdade em Nova York. Isso é verdade em praticamente todas as cidades. E é aí que está o verdadeiro crime”, disse.
Naquela época, Bloomberg ainda completou que a solução para impedir o acesso de menores – negros e latinos, obviamente – a armas de fogo era “jogá-los contra a parede e revistá-los”. À época, o democrata impediu que o vídeo, gravado no Instituto Aspen, fosse divulgado.
Depois de deletar o primeiro tuíte, Trump republicou a hashtag #BloombergIsRacist (#BloombergÉRacista), chamando o concorrente de “baixinho” e criticando suas habilidades no golfe – além de repetir o apelido que deu a Bloomberg: “Mini Mike”.
No bata-boca pela mesma rede, Bloomberg disse que o presidente dos Estados Unidos está tentando “dividir os americanos” e o acusou de empregar “apelos racistas e retórica odiosa”. “O ataque do presidente a mim reflete claramente seu medo pela força da minha campanha. Não se engane, senhor presidente, não tenho medo de você e não deixarei que você me intimide ou qualquer outra pessoa nos Estados Unidos”.
Por ter ingressado na corrida democrata mais tarde, Michael Bloomberg não está competindo nas primárias desta terça-feira no estado de New Hampshire, assim como não concorreu no caucus de Iowa na semana passada. Além de sua performance melhorada nas pesquisas gerais, o magnata também tem se destacado entre eleitores afro-americanos – um eleitorado democrata essencial na batalha contra Trump no segundo semestre.
Além disso, a riqueza de Bloomberg, estimada pela revista americana Forbes em 53,4 bilhões de dólares, supera a de Trump, projetada em 3,1 bilhões de dólares. O democrata, porém, já desembolsou mais de 200 milhões de dólares de sua própria fortuna na campanha e promete não recorrer a doações de empresas e pessoas físicas nem ao fundo eleitoral. Se depender de cofre, o ex-prefeito já está na vantagem.