Trump anuncia visita de Zelensky à Casa Branca para assinar acordo sobre concessões
Transação é considerada essencial para Kiev ganhar o apoio de Washington

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, confirmou na terça-feira, 25, que seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, deve visitar a Casa Branca na próxima sexta para assinar um acordo sobre minerais estratégicos, nas terras-raras ucraniana. Ambas as partes concordaram com um rascunho do texto na terça, em uma transação considerada essencial para Kiev para ganhar o apoio de Washington, enquanto o líder americano tenta encerrar a guerra com a Rússia o mais rápido possível.
“Ouvi dizer que ele virá na sexta-feira”, disse Trump a repórteres no Salão Oval. “Certamente está tudo bem para mim se ele quiser. E ele gostaria de assinar junto comigo. E eu entendo que isso é um grande negócio, um grande negócio.”
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A Ucrânia tem depósitos de 22 dos 34 minerais identificados pela União Europeia como “críticos”, de acordo com dados ucranianos, incluindo materiais industriais e de construção, ferroligas, metais preciosos e não ferrosos e alguns elementos de terras-raras. As reservas de grafite no país, um componente-chave em baterias de veículos elétricos e reatores nucleares, representam 20% dos recursos globais.
O anúncio do eventual encontro segue dias de tensas negociações entre os EUA e a Ucrânia, nas quais Zelensky alegou que os EUA pressionaram Kiev a assinar um acordo no valor de mais de US$ 500 bilhões que forçaria “10 gerações” de ucranianos a pagar de volta.
A agência de notícias Reuters afirmou que uma fonte próxima às negociações relatou que o pacto não especifica nenhuma garantia de segurança dos Estados Unidos para a Ucrânia, nem sequer a continuidade do fluxo de armas americanas doadas. No entanto, o texto diz que Washington quer que a Ucrânia seja “livre, soberana e segura”. Futuras remessas de assistência militar ainda estão sendo discutidas entre as partes, segundo a Reuters.
Questionado sobre o que a Ucrânia receberia no acordo, Trump disse: “US$ 350 bilhões, equipamento militar e o direito de continuar lutando.
“Nós praticamente negociamos nosso acordo sobre terras e várias outras coisas”, acrescentou Trump. “Vamos analisar … a segurança geral da Ucrânia mais tarde. Não acho que isso será um problema. Há muitas pessoas que querem fazer isso, e conversei com a Rússia sobre isso. Eles não pareciam ter problemas com isso. Então acho que eles entendem que não vão voltar. E quando fizermos isso, eles não vão voltar atrás.”
Mediante o acordo, os Estados Unidos e a Ucrânia estabeleceriam um Fundo de Investimento de Reconstrução para coletar e reinvestir receitas de fontes ucranianas, incluindo minerais, hidrocarbonetos e outros materiais extraíveis. Kiev contribuiria para o fundo com 50% da receita, subtraindo despesas operacionais, até que as contribuições atinjam a soma de US$ 500 bilhões. Washington, por sua vez, estabeleceria um compromisso financeiro de longo prazo para o desenvolvimento de uma “Ucrânia estável e economicamente próspera”.
Divergências e mudança de rumo
Um eventual acordo segue semanas de mal-estar entre Trump e Zelensky. Nos últimos dias, Trump começou a repetir pontos até então ecoados apenas por Moscou. O presidente dos Estados Unidos chamou seu homólogo ucraniano de “ditador sem eleições” (seu mandato expirou em maio passado, mas não houve novo pleito devido ao estado de guerra), dizendo que era melhor ele “agir rápido ou não terá mais um país. Ele também sugeriu que Kiev teria sido responsável pelo conflito.
Enquanto isso, Zelensky acusou o americano de viver em “uma bolha de desinformação” e acreditar nas “mentiras” da Rússia, sustentando que jamais aceitará um acordo de paz que não o inclua nas negociações. O ucraniano acusou ainda os Estados Unidos de tirarem a Rússia do isolamento global em que caiu após invadir a Ucrânia. Ele já havia protestado por ter sido deixado de fora das conversas, ao que Trump respondeu culpando-o por dar continuidade ao conflito ao falhar em firmar um acordo com Vladimir Putin.
Depois de um telefonema de noventa minutos entre os líderes americano e russo na semana passada, Pete Hegseth, secretário da Defesa dos Estados Unidos, proclamou que seria “irrealista” restaurar a integridade territorial ucraniana no âmbito de um armistício e descartou a entrada do país na Otan, jogando a responsabilidade de dar garantias de segurança a Kiev para a Europa. Essencialmente, as negociações começaram nos termos de Putin.
Até mesmo pessoas ligadas ao Kremlin parecem surpresas com a velocidade e intensidade dos acenos e da “mudança de rumo”, segundo avaliação feita por Vladimir Milov, ex-vice-ministro de Energia da Rússia, na semana passada.
Milov disse à CNN que, com base no que ouviu, “todos em Moscou estão totalmente surpresos agora que receberam todas as concessões que queriam, mesmo antes do início das negociações”. O cenário é “um resultado chocante, até mesmo para os padrões de Vladimir Putin”, acrescentou.
Em meio às tensões, líderes europeus estão cada vez mais temerosos de que Trump esteja dando concessões demais à Rússia em sua busca pelo acordo com a Ucrânia, que ele prometeu selar antes mesmo de assumir o cargo. Mas o republicano insiste em que seu único objetivo é a “paz”. para acabar com o maior conflito bélico na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.