Trump distorce números para justificar interesse de transformar Canadá em estado dos EUA
Presidente americano falou à rede Fox News após premiê canadense, Justin Trudeau, alertar para ameaça "real"

Em entrevista à rede americana Fox News no domingo 9, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reforçou que leva a sério o interesse de que o Canadá se torne o 51º estado dos Estados Unidos, distorcendo números para tentar justificar uma anexação ao país vizinho.
“Sim, é (sério)“, disse Trump quando perguntado se o projeto é “uma coisa real” — como alertado na semana passada pelo primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau.
“Acredito que o Canadá estaria muito melhor como o 51º estado porque perdemos 200 bilhões de dólares por ano com o Canadá. E não vou deixar isso acontecer”, afirmou. “Por que estamos pagando 200 bilhões de dólares por ano, essencialmente um subsídio, ao Canadá?”
Washington, claro, não subsidia o Canadá. Ao invés disso, os Estados Unidos compram produtos canadenses, incluindo commodities, como o petróleo. Os EUA importam mais produtos canadenses do que exportam ao norte da fronteira — um déficit comercial.
Esses números são pequenos em relação ao cerca de 1 trilhão de dólares em bens e serviços que cruzam a fronteira nos dois sentidos a cada ano. Também são menores em comparação a outros mercados. Dados do U.S. Census Bureau mostram que o déficit comercial dos EUA com o Canadá foi apenas o décimo maior em 2023.
Embora o déficit comercial em bens tenha aumentado nos últimos anos, chegando a 72 bilhões de dólores em 2023, ele reflete em grande parte as importações de energia canadense pelos EUA.
Ameaça “real”
Na sexta-feira 7, Trudeau reforçou que a ameaça de Trump é “real” e está relacionada aos recursos naturais canadenses. A declaração foi feita durante reunião, a portas fechadas, do premiê com executivos de empresas, líderes industriais e sindicais em Toronto. Por engano, o microfone de Trudeau ficou aberto após a imprensa ter sido retirada da sessão, de acordo com o jornal canadense Toronto Star.
“Sugiro que o governo Trump não só sabe quantos minerais essenciais temos, mas pode ser por isso que eles continuam falando sobre nos absorver e nos tornar o 51º estado”, disse Trudeau, em resposta a uma pergunta feita pelo público da cúpula, segundo o veículo. “Eles estão muito cientes de nossos recursos, do que temos, e querem muito poder se beneficiar deles.”
“Mas o senhor Trump tem em mente que uma das maneiras mais fáceis de fazer isso é absorvendo nosso país. E isso é algo real”, acrescentou ele.
O primeiro-ministro citou “conversas” com o líder americano antes de o som ser cortado. Ainda no ano passado, em jantar com Trudeau (a quem chamou de “governador”), o republicano propôs que o país se tornasse o 51º estado americano. Já em entrevista coletiva em janeiro, Trump defendeu que a tomada do Canadá terminaria com a “linha artificialmente desenhada” da fronteira, o que “seria muito melhor para a segurança nacional”, e sugeriu que o melhor jeito de driblar suas tarifas seria tornar-se parte dos Estados Unidos.
Futuro comercial do Canadá
A declaração do premiê ocorre em meio a uma guerra comercial, ainda que congelada, entre EUA e Canadá. Na semana passada, Trump determinou que taxas de 25% sobre a maioria das importações de Canadá e México, além de 10% sobre produtos energéticos canadenses, entrassem em vigor à meia-noite desta terça-feira. O tarifaço foi adiado por 30 dias após negociações, que incluíam o compromisso canadense de aumentar a fiscalização na fronteira para conter drogas e crimes, anunciou Trudeau nesta segunda-feira.
Enquanto a imprensa ainda estava dentro da reunião, o primeiro-ministro canadense reconheceu que nem todos eram admiradores de sua gestão, mas agradeceu por terem comparecido ao encontro, que busca planejar os próximos passos estratégicos do país, e acolheu as sugestões. Sob aplausos, ele destacou a necessidade de eliminar as barreiras comerciais entre as províncias, acrescentando: “Já era hora de termos um verdadeiro livre-comércio no Canadá”.