Trump diz que paralisação do governo ainda pode durar ‘muito tempo’
Presidente americano insiste em aprovação de verba para construção de muro na fronteira, enquanto ‘shutdown’ já dura 12 dias
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a defender nesta quarta-feira, 2, a necessidade da construção de um muro na fronteira com o México e destacou que a paralisação do governo “levará o tempo que for necessário”.
O governo americano enfrenta o chamado shutdown, a paralisação parcial de suas atividades, desde o dia 22 de dezembro. Cerca de 800.000 trabalhadores federais foram afetados.
O Congresso americano tem enfrentado dificuldades para aprovar um plano de orçamento para os próximos meses e colocar um fim à paralisação, principalmente porque o Partido Democrata se recusa a aprovar a verba para o muro.
Trump vem pressionando os parlamentares para incluírem 5,6 bilhões de dólares no plano orçamentário para a construção da barreira. Segundo o presidente, o valor é um preço pequeno a pagar pela segurança na fronteira.
Em comentários durante uma reunião do gabinete, o presidente disse que manterá o governo parcialmente paralisado por “quanto tempo for necessário”, enquanto ele busca recursos para o muro em qualquer legislação sobre o financiamento do governo. A paralisação pode durar “muito tempo”, segundo Trump.
O republicano também afirmou que autoridades de segurança interna vão fazer um apelo aos líderes congressistas para que aprovem o orçamento com verba prevista para o muro.
Os 5 bilhões de dólares que Trump está buscando cobririam apenas uma parte dos recursos necessários para um muro de fronteira e, quando perguntado por um repórter se ele aceitaria menos do que isso, Trump disse: “Eu prefiro não dizer isso. Poderíamos fazer isso por um pouco menos? É tão insignificante comparado ao que estamos falando”.
O presidente sinalizou hoje que estaria disposto a fazer um acordo com os parlamentares democratas para convencê-los a aprovar o orçamento da maneira que deseja e resolver a paralisação que já dura 12 dias. Trump disse estar aberto a negociar um estatuto legal para os jovens imigrantes ilegais conhecidos no país como dreamers (sonhadores).
Os democratas lutam pela legalização definitiva desses jovens imigrantes, que chegaram ao país ainda crianças e eram protegidos por um programa especial criado pelo ex-presidente Barack Obama e suspenso por Trump.
A decisão de acabar com o sistema da antiga administração foi barrada pela Justiça americana e, desde então, os jovens tem vivido em um limbo legal que dificulta sua estabilidade.
Proposta democrata
Nas eleições de meio de mandato de novembro, os democratas conquistaram a maioria dos assentos na Câmara dos Deputados e devem assumir o controle da Casa nesta quinta-feira, 3.
O partido, que será provavelmente liderado pela deputada Nancy Pelosi na Câmara, planeja aprovar um pacote de gastos em duas partes para acabar com a paralisação. Mas suas perspectivas de aprovação no Senado são sombrias, já que os republicados detêm a maioria.
As medidas dos democratas não incluem os 5 bilhões de dólares para o muro — uma das promessas-chave da campanha de Trump — e preparam o terreno para a primeira grande batalha do novo Congresso entre a Câmara democrata liderada por Pelosi e um Senado republicano liderado por Mitch McConnell.
A Casa Branca rejeitou a proposta dos democratas. “O plano de Pelosi é inaceitável, porque não financia nossa segurança interna nem mantém famílias norte-americanas a salvo do tráfico de pessoas, drogas e do crime”, disse Sarah Sanders, porta-voz do governo, em um comunicado divulgado na terça-feira.
Trump continua comprometido com “um acordo que reabra o governo e mantenha os norte-americanos seguros”, disse ela.
O pacote de duas partes dos democratas inclui um projeto de lei para financiar o Departamento de Segurança Interna nos níveis atuais até 8 de fevereiro e fornecer 1,3 bilhão de dólares para cercas de fronteira e 300 milhões de dólares para outros itens de segurança de fronteira, incluindo tecnologia e câmeras.
A segunda parte do pacote financiaria agências federais que agora estão sem financiamento, como os Departamentos de Justiça, Comércio e Transporte, até 30 de setembro.
Trump diz que o muro é crucial para conter a imigração ilegal. Os democratas discordam, com Pelosi chamando o muro de imoral, ineficaz e caro. Trump repetidamente disse durante a campanha presidencial que o México pagaria pelo muro, mas o país se recusou e os contribuintes dos Estados Unidos provavelmente vão arcar com o custo.
O pacote democrata poderia colocar Trump e seus aliados republicanos em uma posição difícil. Se rejeitarem os projetos de financiamento para os departamentos que não têm conexão com a questão da segurança na fronteira, os republicanos podem ser acusados de manterem esses órgãos públicos e seus 800.000 trabalhadores reféns do desejo de Trump de construir um muro.
(Com Estadão Conteúdo e Reuters)