Trump diz que perdeu Rússia e Índia para ‘sombria’ China: ‘Tenham um longo futuro juntos’
Na véspera, republicano acusou os três países de "conspirarem contra os Estados Unidos da América"
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse nesta sexta-feira, 5, que “parece” que perdeu a Índia e a Rússia para a “sombria” China. A declaração ocorre dois dias após o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, participarem da Cúpula de Cooperação de Xangai, na cidade chinesa de Tianjin, e visitarem Pequim para um grande desfile militar desfile militar chinês que marcou o 80º aniversário da rendição formal dos japoneses no final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
“Parece que perdemos a Índia e a Rússia para a China mais profunda e sombria. Que tenham um longo e próspero futuro juntos”, escreveu Trump na Truth Social, rede social da qual é dono.
Na véspera, o republicano já havia demonstrado descontentamento pelo comparecimento russo e indiano à parada militar chinesa. Também na Truth Social, ele acusou os três países de “conspirarem contra os Estados Unidos da América” e pediu que fosse lembrado o papel decisivo dos americanos na vitória chinesa contra o Japão durante a Segunda Guerra Mundial.
Até então Trump havia evitado classificar o desfile como uma ameaça direta. Em um evento na Casa Branca, o líder americano disse ter achado a cerimônia “muito impressionante”, afirmando: “Eles esperavam que eu estivesse assistindo, e eu estava assistindo. Meu relacionamento com todos eles é muito bom. Vamos ver quão bom é nas próximas semanas”. Apesar do tom conciliador, demonstrou incômodo por os Estados Unidos não terem sido citados no discurso de Xi.
“O presidente Xi é meu amigo, mas achei que os EUA deveriam ter sido mencionados, porque ajudamos a China. Muitos americanos morreram na busca de vitória e glória para a China, e espero que sejam honrados por sua bravura e sacrifício”, afirmou.
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Ameaças de Putin
Na quarta-feira, 4, Putin afirmou que a guerra na Ucrânia pode ser encerrada por negociações “se o bom senso prevalecer”, mas que estava disposto a “resolver todas as tarefas” através da “força das armas”. Ele ponderou, ainda, que havia “uma certa luz no fim do túnel” pela influência dos EUA nas tratativas — isso, claro, antes de Trump desejar que a Rússia tenha um “um longo e próspero futuro” sem ele.
“Parece-me que, se o bom senso prevalecer, será possível chegar a um acordo sobre uma solução aceitável para pôr fim a este conflito. Essa é a minha suposição”, opinou Putin a repórteres. “Principalmente porque podemos ver o humor do atual governo americano sob o presidente (Donald) Trump, e vemos não apenas suas declarações, mas seu desejo sincero de encontrar essa solução.”
“E acho que há uma certa luz no fim do túnel. Vamos ver como a situação evolui”, continuou, mas logo retomou ao costumeiro tom de ameaça: “Se não, teremos que resolver todas as tarefas que temos pela força das armas.”
A relação entre Trump e Putin têm sido marcadas por vai-e-vens, de declarações de admiração a insultos — em maio, o presidente americano chamou o russo de “louco”. Já na cúpula no Alasca, em 18 de agosto, os líderes mostraram uma postura amigável. Um dia após a reunião, o chanceler russo, Dmitry Peskov, disse que “ficou claro que o chefe dos Estados Unidos e sua equipe, em primeiro lugar, querem sinceramente alcançar um resultado que seja de longo prazo, sustentável e confiável”, acrescentando que a atmosfera do encontro foi “muito boa”.
Nem Moscou, nem Kiev parecem dispostos a flexibilizar as reivindicações. A Rússia exige que a Ucrânia ceda 20% do seu território, incluindo as regiões de Luhansk e Donetsk, abandone a pretensão de aderir à Otan, principal aliança militar ocidental. Além disso, Putin quer que a Ucrânia se desmilitarize, uma ideia rejeitada por Zelensky, que insiste em “um forte exército ucraniano” como uma exigência imutável. Ele também nega abrir mão de parte do país e defende o princípio da soberania, apoiado por uma série de países da Europa.