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Trump e Kim: do ‘fogo e fúria’ às juras de amor

Atenção do americano no jantar de trabalho com norte-coreano tende a ser desviada para Washington, onde seu ex-faz-tudo vai depor no Congresso

Por Lúcia Guimarães
Atualizado em 26 fev 2019, 19h20 - Publicado em 26 fev 2019, 19h11
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  • O segundo encontro do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com o líder norte-coreano Kim Jong-un começa nesta quarta-feira, em Hanói, sob crescente moderação das expectativas no lado americano. De acordo com o website Vox, que obteve informações exclusivas de fontes que participaram das negociações prévias, o melhor cenário é uma clara vitória diplomática para o ditador norte-coreano.

    Primeiro, seria declarado oficialmente o fim da Guerra da Coreia, que terminou em armistício em 1953, mas não um tratado definitivo de paz. Em seguida, a Coreia do Norte devolveria os restos mortos de mais alguns dos milhares de soldados americanos mortos em combate em seus campos. No ano passado, depois da reunião de cúpula histórica de Singapura, Kim Jong-un permitiu o retorno dos corpos de 55 soldados.

    O terceiro ponto seria a criação de pequenas representações diplomáticas sem status de embaixada, os chamados escritórios de contato, para abrir caminho a um futuro restabelecimento das relações entre Washington e Pyongyang. Por fim,  a Coreia do Norte se comprometeria a não mais produzir combustível para suas bombas nucleares na usina de Yongbyon.

    Se este último estágio for cumprido, os Estados Unidos poderão levantar algumas das sanções econômicas, de forma a permitir que a Coreia do Sul toque projetos em seu vizinho do Norte. O restante do bloqueio econômico, porém, deverá continuar como meio de pressão de Washington para que Kim cumpra suas promessas e conduza a completa desnuclearização de seu país.

    Kim Jong-un e Donald Trump
    Donald Trump, caminha ao lado do ditador Kim Jong-un na área externa do hotel Capella, na ilha de Sentosa em Singapura – 14/06/2018 (Kevin Lim/The Straits Times/Reuters)
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    Ao referir-se a Kim Jong-un, o presidente americano foi da retórica de “fogo e fúria”, com suas ameaças de atacar a Coreia do Norte em 2017, a um linguajar de telenovela mexicana, ao declarar que “nós nos apaixonamos.”

    A jornalista Susan B. Glasser, da revista The New Yorker, comenta ser comum Donald Trump gritar para seus assistentes: “vão buscar as cartas”. Eles já sabem que se tratam das  duas cartas que o presidente americano recebeu de Kim Jong-un antes dos encontros de Singapura e de Hanoi e que mostrar orgulhoso, como troféus, aos visitantes do Salão Oval. Causa desconforto entre seus colaboradores mais graúdo a excitação quase juvenil de Trump com a prosa adornada e cheia de clichês do ditador norte-coreano, ciente de como seu destinatário gosta de adulação.

    “Não sou fã de Trump mas, desta vez, acho que ele acertou ao criar uma aproximação pessoal,” disse a VEJA Michael O’Hanlon, diretor de pesquisa em política externa do Brookings Institution, um think tank de Washington. “Suspeito que foi um fator para  aumentar as chances de sucesso.”

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    Para o pesquisador, o que constitui sucesso é deter novos testes nucleares e aumento do arsenal existente na Coreia do Norte, especialmente da produção de mísseis de longo alcance. O’Hanlon não acredita na possibilidade de Trump convencer Kim Jong-un a abrir mão do programa nuclear em curto prazo. Mas admite que os Estados Unidos não t~em muitos detalhes sobre o arsenal de Kim.

    “Não sabemos se eles têm uma ogiva que possa ser acoplada a um míssil, nem conhecemos os desenhos de suas armas avançada”, afirmou O´Hanlon.

    A questão da verificação do arsenal e da capacidade de produção de urânio altamente enriquecido é uma incógnita importante no encontro em Hanói. A maioria das reuniões dessa natureza são definidas por times avançados de negociadores para que os encontros de cúpula sejam eventos simbólicos e cerimoniais para marcar o que foi acertado antes.

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    A improvisação não assusta Michael O’Hanlon. “Até aumenta o drama,” disse. “Mostra que não é apenas um show. É mais parecido com a primeira visita de Henry Kissinger à China, na década de 1970, do que com a pompa que veio depois, com Richard Nixon”, completou, referindo-se à história reunião que permitiu o início do degelo nas relações entre Washington e Pequim.

    Tempestade entre Trump e Kim

    Na Casa Branca, assessores têm revelado a repórteres, sempre em condição de anonimato, outro ponto de incerteza que estará a 13.336 quilômetros da capital vietnamita. Quando Donald Trump sentar-se para seu primeiro jantar de trabalho com Kim Jong-un, em Hanói, será manhã de quinta-feira, 28, em Washington, que vai parar para ouvir o depoimento aberto de Michael Cohen,  ex-advogado e “pau para toda obra” no Comitê de Supervisão e Reforma da Câmara dos Deputados.

    Donald Trump e Michael Cohen
    Donald Trump e seu ex-advogado pessoal Michael Cohen em evento de campanha em  Cleveland Heights, Ohio, em 2016 (Jonathan Ernst/Reuters)
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    Cohen foi condenado a 3 anos de prisão por evasão de impostos e, para temor do presidente, por violar leis federais sobre as contribuição financeiras para sua campanha eleitoral de 2016. Ele acertou a compra do silêncio da atriz pornô Stormy Daniels, que alega ter tido um caso com Trump. Quem conhece o presidente acostumado a passar horas de seu dia assistindo à TV a cabo, o que é listado na agenda oficial como “tempo executivo”, sabe que vai ser impossível blindar sua atenção do depoimento de Cohen.

    A sessão na Câmara foi montada sob medida pela nova maioria democrata na Câmara para constranger o presidente americana e promete lavar roupa em larga escala. Cohen, por sua vez, promete não decepcionar. Segundo seu advogado, ele vai dizer que o presidente americano se engajou em conduta criminosa depois de ter assumido seu mandato, em janeiro de 2017. Tendo passado uma década como faz-tudo, defensor e leão de chácara nas Organizações Trump, as palavras do ex-aliado e hoje inimigo do presidente devem complicar o clima em Hanói.

    Com ou sem distrações no encontro de líderes, Michael O’Hanlon prevê um cenário crítico se não houver avanço no encontro em solo vietnamita. “Podemos voltar à escalada de tensão que vimos em 2017. Ou pode ser pior.”

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