Trump é passado, ‘presidente agora é Biden’, diz Bolsonaro
Fala acontece pouco antes de encontro bilateral com mandatário americano em Los Angeles, primeiro entre os dois desde que democrata chegou à Casa Branca
Depois de citar sem quaisquer provas nesta semana uma suposta fraude na eleição presidencial americana de 2020, o presidente Jair Bolsonaro parece ter dado um passo para trás. Perguntado por jornalistas em Los Angeles nesta quinta-feira, 9, sobre sua relação com o ex-mandatário Donald Trump, ele disse que o assunto “já é passado”.
“Não vim aqui tratar desse assunto. É o passado. Vocês sabem que eu tinha um excelente relacionamento com o presidente Trump”, declarou na saída do hotel, a caminho da Cúpula das Américas. “O presidente agora é Joe Biden, é com ele que eu converso, ele é o presidente”.
A fala acontece pouco antes de um encontro bilateral com Biden em Los Angeles, o primeiro entre os dois desde que o democrata chegou à Casa Branca.
Perguntado sobre a reunião, disse que não levou pedidos específicos, mas que espera um encontro sem quaisquer problemas e que entre os temas estão assuntos como Rússia, fertilizantes e o Brasil como “um ator cada vez mais importante para a humanidade”.
“Vai ter uma conversa reservada e cada um suscitará seus interesses nessas partes. Precisamos aprofundar nosso relacionamento. Sempre tive uma enorme consideração com o povo americano, temos valores em comum, como democracia, liberdade, e eu tenho certeza de que será um bom encontro com o presidente americano Biden”, afirmou.
Em entrevista a VEJA na quarta-feira, Kristina Rosales, porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, afirmou que o governo americano deseja medidas concretas no combate ao desmatamento, citando uma “mudança de tom por parte do governo” no tema meio ambiente depois da COP 26 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima , realizada em novembro de 2021 na Escócia).
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Acusação de fraude
Na terça-feira, durante entrevista, Bolsonaro disse que “fica com o pé atrás” com as informações de que recebeu e o ex-presidente Donald Trump, derrotado em 2020, estava “muito bem”.
“Quem diz é o povo americano. Eu não vou entrar em detalhes na soberania de outro país. Agora, o Trump estava muito bem. E muita coisa chegou para gente que a gente fica com pé atrás”, disse Bolsonaro. “A gente não quer que aconteça isso no Brasil. Tem informações de próprios brasileiros que teve gente que votou mais de uma vez”.
A fala desta quinta-feira, por sua vez, pode ter objetivo de aliviar um pouco as tensões de um encontro já visto como difícil entre Bolsonaro e Biden. Os dois líderes ainda não tiveram nenhuma reunião bilateral e o Brasil foi o penúltimo país a parabenizar o democrata pela vitória, em 2020.
Pouco antes, o presidente e o deputado federal Eduardo Bolsonaro, seu filho, chegara a citar publicamente supostas fraudes nas eleições americanas, apoiando falsas alegações de Trump, derrotadas inclusive na Suprema Corte dos EUA e pelo secretário de Justiça. Em outro episódio, em meio às falas de Biden de que o Brasil pode sofrer consequências econômicas caso não atue de forma mais firme para combater as queimadas e o desmatamento na Amazônia, Bolsonaro afirmou que “apenas pela diplomacia” não é possível chegar a um consenso.
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Apesar das falas, não há evidências ou provas de qualquer fraude no processo eleitoral que resultou na vitória do democrata. Pelo contrário, uma investigação do Departamento de Justiça dos Estados Unidos apontou irregularidades na campanha de Donald Trump nas eleições de 2020. Segundo o relatório, membros do Partido Republicano teriam organizado um esquema com eleitores falsos na Geórgia a fim de reverter a vitória de Joe Biden no estado.