Trump pressiona Ucrânia e diz que ‘Crimeia ficará com a Rússia’ em acordo de paz
Zelensky já havia descartado reconhecer a península, tomada em 2014, como russa, enquanto aumenta a frustração do presidente dos EUA com as negociações

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse em uma entrevista publicada nesta sexta-feira, 25, que “a Crimeia ficará com a Rússia” em um possível acordo para encerrar a guerra, que já dura mais de três anos. Foi o mais recente exemplo da pressão de Washington sobre a Ucrânia para fazer concessões a Moscou.
“(Volodymyr) Zelensky entende isso”, disse Trump, referindo-se ao presidente ucraniano, “e todos entendem que isso está nas mãos deles há muito tempo”.
Concessão de territórios
Os comentários foram feitos em uma entrevista à revista Time, conduzida na terça-feira 22. O chefe da Casa Branca vem acusando seu homólogo na Ucrânia de prolongar a guerra ao resistir às negociações com o presidente russo, Vladimir Putin. Kiev, por sua vez, pede um acordo de paz “justo”, que não dê uma vitória virtual a Moscou e ofereça garantias de segurança contra futuras invasões.
A Crimeia é uma península estratégica no Mar Negro, no sul da Ucrânia. A região foi tomada pela Rússia em 2014, durante o governo do ex-presidente americano Barack Obama, anos antes da invasão em grande escala que começou em 2022.
“Eles (os russos) já tinham seus submarinos lá muito antes de qualquer período que estamos discutindo, por muitos anos. As pessoas falam principalmente russo na Crimeia”, disse Trump. “Mas isso foi dado por Obama, não por Trump.”
Negociações complexas
Em paralelo, a Rússia continuou seus ataques aéreos contra a Ucrânia nesta sexta-feira. Ao menos 103 drones foram disparados contra cinco diferentes regiões ucranianas nesta madrugada. Sumy e Kharkiv registraram danos a infraestruturas civis, mas nenhuma baixa, enquanto um drone atingiu um prédio residencial em Pavlohrad, no sudeste do país, ferindo dez pessoas e matando três, incluindo uma criança e uma mulher de 76 anos, um dia depois de Trump repreender o líder russo por um bombardeio mortal a Kiev.
O ataque à capital ucraniana, que resultou em doze mortes e 87 feridos, suscitou uma rara repreensão de Trump a Putin. “Não estou satisfeito com os ataques russos a Kiev. Desnecessários e em péssimo momento. Vladimir, PARE! Cinco mil soldados estão morrendo por semana”, escreveu na sua rede social, a Truth. “Vamos CONCLUIR o Acordo de Paz!”
Um dia antes, na quarta-feira, o americano acusou Zelensky de prolongar o “campo de extermínio”, como chamou o conflito, e fazer declarações “muito prejudiciais” às negociações. O ucraniano havia descartado reconhecer a Crimeia como russa e afirmado ser necessário implementar um cessar-fogo completo antes que qualquer acordo seja discutido. Nesta sexta, um militar russo de alta patente foi morto por um carro-bomba perto de Moscou, e embora a Ucrânia não tenha assumido a autoria do ataque, o incidente deve prejudicar as negociações.
A frustração de Trump parece estar crescendo. O secretário de Estado americano, Marco Rubio, afirmou no início da semana que o governo dos Estados Unidos abandonará os esforços para intermediar um acordo de paz “dentro de alguns dias”, se não houver sinais claros de progresso. Na quarta-feira 23, diplomatas europeus cancelaram negociações de alto nível sobre o fim da guerra na Ucrânia, após a retirada repentina de representantes americanos do encontro.
O enviado especial de Trump, Steve Witkoff, se reuniu com Putin em Moscou nesta sexta-feira, o segundo encontro entre eles neste mês e o quarto desde fevereiro. No dia seguinte, os presidentes americano e ucraniano devem se cruzar em Roma, durante o funeral do papa Francisco. Não está claro se os dois marcaram uma bilateral – mas o climão é garantido.