O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse na noite deste domingo, 29, que quer conhecer a identidade de seu denunciante no escândalo envolvendo a divulgação da transcrição de sua comprometedora conversa telefônica com o presidente da Ucrânia, que levou ao início de processo de impeachment contra ele. Trump sugeriu “grandes consequências” caso tenha sido alvo de espionagem e também afirmou que o presidente da Comissão de Inteligência da Câmara dos Deputados americana, o democrata Adam Schiff, deve ser interrogado por fraude e traição.
Em sua conta no Twitter, Trump também declarou que deseja saber a identidade de quem teria fornecido informações de “segunda e terceira mão”, que estariam incorretas, ao denunciante.
“Esses esquerdistas radicais estão causando grandes danos ao nosso país”, afirmou o republicano, na rede social. “Eles estão mentindo e trapaceando como nunca antes, a fim de desestabilizar os Estados Unidos a as eleições de 2020”, completou.
Donald Trump enfrenta o início de um processo de impeachment, baseado na denúncia de que o presidente americano teria pedido ao presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, para investigar o ex-vice-presidente dos EUA Joe Biden e seu filho, em troca de 250 milhões de dólares em ajuda militar. Biden é pré-candidato democrata à Casa Branca, nas eleições de 2020.
Na quarta-feira 25, a Casa Branca liberou a transcrição da conversa telefônica de Trump com Zelensky para provar que o americano não tinha dito nada “inadequado”.
Mas os documentos provaram que o presidente americano fizera realmente o pedido. Como não abarcou toda a conversa, as transcrições não incluíram a suposta ameaça de Trump a Zelensky de eliminar a assistência militar de 250 milhões de dólares dos Estados Unidos à Ucrânia, congelada pela Casa Branca semanas antes.
“Há muitas conversas sobre o filho do Biden, que Biden parou a Procuradoria-Geral (da Ucrânia), e muitas pessoas querem saber mais sobre isso. Então, o que você puder fazer com o secretário de Justiça (americano) seria ótimo”, dissera Trump a Zelensky na conversa de 25 de julho passado.
O caso
O telefonema de Trump para Zelensky girou em torno da suposta participação de Hunter Biden, filho de Joe Biden, em um esquema de corrupção na empresa energética ucraniana Burisma, quando atuava no conselho diretor da companhia.
Em 2014, Joe Biden teria pressionado o então líder da Ucrânia Petro Porosheko a demitir o procurador-geral, Viktor Shokin, que supostamente estava encarregado da investigação. Caso contrário, cortaria as garantias de crédito dos Estados Unidos para a Ucrânia, que enfrentava na época uma insurgência separatista no leste de seu território apoiada pela Rússia. Diante das suspeitas, Trump pediu a Zelensky que trabalhasse ao lado do secretário de Justiça americano, William Barr, para investigar as ações de Biden no país.
O jornal Kyiv Post, porém, informou que Hunter e Joe Biden não foram investigados na Ucrânia e que os processos criminais abertos na Justiça local envolviam a Burisma e seu dono, Mykola Zlochevsky. Também publicou que Shokin não participara desses casos e que sua demissão era solicitada por diferentes setores da sociedade por sua obstrução e omissão em investigações de corrupção.
Na conversa telefônica, Trump afirma que pediria ao seu advogado pessoal e ex-prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, e a Barr que entrassem em contato com as autoridades ucranianas para discutir a questão.
“Nós vamos até o fundo da questão”, disse o presidente americano. “Eu ouvi que o procurador (ucraniano) foi tratado muito mal e que ele era um procurador muito justo”, diz.
Zelensky responde de forma positiva aos pedidos de Trump. “A questão da investigação é, na verdade, uma questão de se certificar de que a honestidade seja restaurada”, disse. “Então, nós vamos cuidar disso e vamos trabalhar na investigação do caso”.
Na terça-feira 24, a democrata Nancy Pelosi, presidente da Câmara dos Deputados, anunciou a abertura de um processo de impeachment pelo Congresso contra Trump por abuso de poder.