Trump volta a chamar julgamento de ‘injusto e enviesado’ após condenação
Ele tornou-se o primeiro ex-presidente dos EUA a ser considerado culpado de crimes após veredito em caso de pagamento de suborno à ex-atriz pornô
Um dia depois de um júri de Nova York ter condenado o ex-presidente americano Donald Trump por 34 acusações criminais de falsificação de registos de negócios, no caso de pagamento de suborno à ex-atriz pornô Stormy Daniels, o candidato presidencial republicano deu uma declaração nesta sexta-feira, 31, acusando “pessoas más” de serem responsáveis pelo veredito e reforçando que considerou o julgamento “injusto” e o juiz responsável pelo processo de “enviesado”. Ele prometeu recorrer da decisão do tribunal.
“No que diz respeito ao julgamento em si, foi muito injusto. Não nos foi permitido usar o nosso perito eleitoral em nenhuma circunstância”, disparou ele em coletiva de imprensa diante da Trump Tower, um de seus edifícios mais icônicos.
Em seguida, Trump passou a criticar o juiz Juan Merchan, responsável pelo caso, dizendo que “ele parece um anjo, mas na verdade é um demônio”.
“Nunca houve um juiz mais enviesado”, disse o ex-presidente dos Estados Unidos. “Agora, estou sob uma ordem de silêncio, que ninguém jamais esteve – nenhum candidato presidencial jamais esteve sob uma ordem de silêncio antes. Uma ordem de silêncio desagradável, pela qual tive que pagar milhares de dólares em multas e fui ameaçado de prisão”, acrescentou, referindo-se a uma ordem judicial que Merchan emitiu para que ele parasse de comentar o caso nas redes, prática sempre acompanhada de ataques verbais violentos contra os jurados, a promotoria e o próprio juiz.
“Viram o que aconteceu a algumas das testemunhas que estavam do nosso lado, foram literalmente crucificadas por este homem (Merchan)“, Trump completou.
Além disso, o republicano afirmou que “pessoas más” eram responsáveis pela condenação, e voltou a chamar o julgamento de “muito injusto”.
“Se eles podem fazer isso comigo, podem fazer isso com qualquer um”, declarou, prometendo ainda recorrer da decisão do tribunal.
Segundo os jurados, os promotores de Nova York conseguiram provar que Trump e sua equipe praticaram maquiagem financeira para esconder as transferências de dinheiro à ex-atriz pornô Stormy Daniels, com objetivo de evitar que viesse à tona um caso extraconjugal do passado. O veredito concluiu que ele falsificou registros de negócios para não prejudicar sua campanha durante a corrida presidencial de 2016, da qual saiu vitorioso.
Isso porque as despesas com Daniels, no valor de US$ 130 mil (cerca de R$ 460 mil na cotação da época), foram pagas primeiro por Michael Cohen, então fiel advogado e espécie de “faz-tudo” do republicano. Só depois, por meio de onze cheques que saíram tanto de contas da empresa Trump Organization quanto de contas pessoais de Trump, Cohen foi restituído – mas os gastos foram enganosamente registrados como “despesas judiciais” com o advogado.
“Perseguição política”
A fala desta sexta-feira ocorre após uma declaração que Trump fez momentos depois do veredito de quinta-feira, quando culpou o chefe da Casa Branca, Joe Biden, por sua condenação. Ele acusou o líder dos Estados Unidos nesta quarta-feira, 30, de usar do sistema judiciário praticar perseguição política e chamou o julgamento de uma “desgraça”.
“Todo o nosso país está sendo fraudado neste momento”, disse Trump a repórteres depois de deixar o Tribunal Criminal de Manhattan. “Isso foi feito pela administração Biden para ferir ou prejudicar um oponente, um oponente político”.
Além disso, o candidato republicano à presidência disse que “o verdadeiro veredicto será dado pelo povo em 5 de novembro”, referindo-se às eleições dos Estados Unidos que ele provavelmente disputará contra Biden.
E depois do advogado de Trump, Todd Blanche, ter um pedido de absolvição negado pelo juiz, o ex-presidente prometeu que vai continuar tentando provar sua inocência.
“Continuaremos lutando, lutaremos até o fim e venceremos, porque nosso país foi para o inferno”, disse ele, acrescentando que “não temos mais o mesmo país, temos uma bagunça dividida”.
“Vamos lutar pela nossa Constituição. Isto ainda está longe de acabar”, completou.
Próximos passos
Merchan convocou para o dia 11 de julho uma nova audiência do julgamento, desta vez para definir a sentença cabível diante dos crimes cometidos.
Como Trump foi considerado culpado de 34 acusações, cada uma das quais é passível a quatro anos de prisão, na teoria, ele poderia ficar atrás das grades por até 136 anos. No entanto, ainda é incerto se ele realmente será preso. E, se for, isso não o impediria de continuar na corrida pela Casa Branca.
Inclusive, até agora, as acusações e julgamentos contra o ex-presidente só fizeram aumentar sua popularidade com o eleitorado, que muitas vezes compra a narrativa de que ele estaria sofrendo “perseguição política”. A audiência em que o juiz emitirá a sentença é bastante próxima da Convenção Nacional Republicana, que terá início no dia 15 de julho, quando Trump se tornará candidato oficial do partido – timing que pode dar novo impulso a sua campanha.