Turquia e Israel em crise diplomática após mortes em Gaza
Ao menos 60 palestinos foram mortos em protestos na Faixa de Gaza; Erdogan acusa Netanyahu de ter as mãos sujas de sangue
Turquia e Israel entraram em crise diplomática nesta terça-feira por causa da morte de 60 palestinos durante manifestações na fronteira da Faixa de Gaza. O presidente turco, Tayyip Erdogan, expulsou o embaixador de Israel. O primeiro-ministro israelense, Benyamin Netanyahu, reagiu com a expulsão do cônsul-geral da Turquia em Jerusalém.
A Turquia tornou-se um dos mais contundentes críticos da reação violente de Israel aos protestos em Gaza e da transferência da embaixada dos Estados Unidos para Jerusalém. Na última sexta-feira (11) já havia convocado a Ancara seus embaixadores em Tel Aviv e Washington e pedido uma reunião de emergência das nações islâmicas para tratar do reconhecimento americano a jerusalém como capital de Israel.
O presidente Erdogan descreveu os episódios de violência de segunda-feira, os mais mortíferos para os palestinos desde o conflito de 2014 em Gaza, como “genocídio” e classificou Israel como um “Estado terrorista”. O governo decretou três dias de luto.
De Londres, onde faz visita oficial ao Reino Unido, Erdogan valeu-se do Twitter para acusar Netanyahu de “ter sangue de palestinos em suas mãos”. O primeiro-ministro israelense rebateu em tuíte que “Erdogan está entre os maiores apoiadores do Hamas, e não há dúvidas de que ele compreende bem o terrorismo e a mortandade”. “Sugiro que ele não ensine moralidade para nós.”
Segundo fonte do Ministério das Relações Exteriores turco, o embaixador israelense, Eitan Naeh, tomou conhecimento das decisões de Ancara e “foi informado de que seria apropriado ele voltar ao seu país por algum tempo”.
O porta-voz do governo turco, Bekir Bozdag, explicou ao Parlamento, nesta terça-feira, que a Turquia considera os Estados Unidos responsáveis pelo derramamento de sangue de segunda-feira. Ergogan está em Londres em visita oficial ao Reino Unido.
“O sangue de palestinos inocentes está nas mãos dos Estados Unidos. Os Estados Unidos são parte do problema, não da solução”, disse.
As relações entre Ancara e Washington, dois aliados da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), se tensionaram muito devido à transferência da embaixada, a desentendimentos sobre mobilizações militares no norte da Síria e a processos contra cidadãos turcos e norte-americanos em tribunais dos respectivos países.
Houve manifestações contra Israel em Istambul e em Ancara. Erdogan, que está fazendo campanha para as eleições parlamentares e presidencial do mês que vem, disse que uma manifestação será realizada na sexta-feira em protesto contra as mortes. Ele é candidato a presidente.
A causa palestina ecoa entre muitos turcos, incluindo os eleitores nacionalistas e religiosos que foram a base de apoio de Erdogan.
Bozdag disse ao Parlamento que a manifestação em planejamento em Istambul “mostrará mais uma vez que o povo turco não ficará em silêncio diante da injustiça e da crueldade, que defende as vítimas diante dos cruéis”.
O primeiro-ministro, Binali Yildirim, também disse que países muçulmanos deveriam rever seus laços com Israel após os episódios de violência de segunda-feira.
(Com Reuters)