Tusk diz que chance de o Brexit ser cancelado é de ‘até 30%’
Segundo o presidente do Conselho Europeu, consequências negativas no Reino Unido poderiam motivar a rejeição da proposta em um novo referendo
As chances do Reino Unido continuar na União Europeia giram em torno de 30%, segundo uma estimativa do presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, apostando na rejeição do Brexit em um possível segundo referendo sobre o assunto.
A autoridade mais importante do bloco econômico afirmou que a população britânica só passou a discutir realmente o Brexit depois do plebiscito de 2016, com a aprovação da proposta por 51,9% dos eleitores, e disse ter “razões claras” para acreditar que esta decisão pode ser revertida.
Comentando a medida do ex-primeiro-ministro britânico David Cameron de fazer um refendo sobre a saída da União Europeia, Tusk mencionou a ignorância sobre as consequências de deixar o bloco.
“O referendo foi realizado no pior momento possível e foi resultado de um erro de cálculo político”, afirmou o presidente do Conselho Europeu em entrevista ao jornal polonês Gazeta Wyborcza.
“Um debate verdadeiro sobre as consequências do Brexit não foi feito durante a campanha do referendo mas apenas depois da votação. Hoje, o resultado provavelmente seria diferente. Paradoxalmente, o Brexit gerou o despertar do movimento pró-europeu no Reino Unido.”
Paciência
Tusk, mandatário do conselho composto pelos chefes de Estado dos 28 países membros até novembro, afirmou ter ficado “emocionado” com a marcha anti-Brexit realizada em Londres no início deste ano, na qual ele foi lembrado como o possível intermediário para a reconsideração do processo, liderado pela primeira-ministra conservadora, Theresa May.
Apesar de sugerir uma “crise de liderança” entre os movimentos britânicos a favor da permanência na União Europeia, confirmando suas afirmações anteriores de que o Partido Trabalhista, chefiado por Jeremy Corbyn, é essencialmente pró-Brexit, Tusk insistiu em seu otimismo com a possibilidade de uma nova consulta.
Nesta semana, porém, Corbyn sugeriu que um segundo referendo faria parte de um “processo de cura” para os territórios britânicos, apesar das discussões entre a oposição e o governo não terem apresentado grandes resultados.
“Hannah Arendt disse que na política e na história as coisas só se tornam irreversíveis quando o povo os reconhece como tal. Porque, em si, elas não são irreversíveis”, disse Tusk.
“Depois do referendo britânico em 2016, pensei que se reconhecemos o caso como encerrado, isso seria o fim. E hoje a chance do Brexit não acontecer está, na minha opinião, entre 20 e 30%. O que é muito.”
Em abril, a filiação do Reino Unido à União Europeia foi estendida até o dia 31 de outubro, com seus 27 membros concordando em dar a Downing Street mais tempo para a aprovação de um acordo de retirada.
A data inicial para a saída era dia 29 de março, depois de dois anos de negociação dos termos do governo, mas quatro rejeições ao acordo de May pelo Parlamento britânico forçaram a primeira-ministra a pedir o adiamento. Tusk afirmou ter ouvido “quase todo dia” que o Reino Unido deveria ser expulso imediatamente do bloco se não conseguisse resolver o impasse.
“Minha principal tarefa é mostrar o lado paciente da União Europeia apesar dessas animosidades em várias partes do continente. Eu digo para meus colegas esperarem um pouco mais e, por agora, nós conseguimos ganhar algum tempo. A data limite é outubro, mas eu vou convencê-los, se necessário, a não ser tão fieis a esse calendário. Não existe motivo para apressar o Brexit. Churchill costumava dizer que um problema adiado é parcialmente resolvido.”