Autoridades ucranianas acusaram a Rússia de coagir os moradores de regiões separatistas a votarem a favor de se juntarem ao país nos referendos nesta sexta-feira, 23. Segundo a Ucrânia, grupos armados estão obrigando as pessoas a irem às votações e ameaçando funcionários que se recusam a participar de demissão.
“Hoje, a melhor coisa para o povo de Kherson seria não abrir suas portas”, disse Yuriy Sobolevsk, primeiro vice-presidente do conselho da cidade, atualmente deslocado.
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O governador de Luhansk, uma das regiões onde o referendo acontece, disse que os moradores da cidade de Starobilsk foram obrigados a votar a favor da anexação. Ao mesmo tempo, um empresário da cidade de Bilovodsk prometeu demitir todos os funcionários que se recusassem a participar e que enviaria seus nomes ao serviço de segurança russo.
Os referendos para a anexação das regiões separatistas de Kherson, Zaporizhzhia, Donetsk e Luhansk foram organizados às pressas pelo Kremlin depois do sucesso da contra-ofensiva ucraniana, que já recuperou mais de 6.000 km² de território ao longo das últimas semanas.
Caso o processo seja concluído, Moscou pode argumentar que os ataques sofridos nessas áreas são uma ofensiva contra o território russo diretamente, abrindo prerrogativa para um eventual ataque nuclear. Segundo a legislação do país, é permitido o uso de armas nucleares após um ataque direto contra a Rússia.
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Em discurso à nação na última quarta-feira 21, o presidente russo, Vladimir Putin, fez uma ameaça velada sobre o uso de armas de destruição em massa, ao mesmo tempo que anunciou uma mobilização “parcial” que prevê a convocação de 300.000 reservistas militares para tentar mudar o curso do conflito, que completa sete meses no próximo sábado, 24.
A votação sobre a anexação das quatro províncias, que representam 18% do território ucraniano, teve início nesta sexta-feira e está prevista para durar quatro dias. Além da população local, os ex-moradores dessas áreas que agora vivem na Rússia também poderão votar por meio de assembleias instaladas em Moscou.
A Ucrânia, com apoio das Nações Unidas e líderes ocidentais, condenam o referendo como um precursor ilegítimo da anexação ilegal de território. Ao mesmo tempo, a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa disse que os resultados não teriam relevância legal, uma vez que não estão em conformidade com a lei ucraniana ou os padrões internacionais.
Em resposta, a Rússia diz que a votação oferece uma oportunidade para a população local expressar a sua opinião.
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O processo de utilizar um referendo popular sem o reconhecimento da comunidade internacional já foi utilizado pelo Kremlin contra a Ucrânia em 2014, durante a anexação da península da Crimeia, que oferece uma saída para o Mar Negro. Na época, o resultado final apontou que 97% dos moradores eram favoráveis ao movimento.