Ucrânia luta para retomar Kherson antes de anexação da Rússia
Exército ucraniano prometeu contra-ofensiva para retomar a cidade, que foi conquistada pelos russos na primeira fase da guerra
A Ucrânia está correndo contra o tempo para recuperar a cidade de Kherson, no sul do país, antes que a Rússia decida anexá-la a seu território, a exemplo da Crimeia, o que pode gerar mais um ponto de inflexão diplomática entre os países. A região foi conquistada pelo Exército russo na primeira fase da guerra.
O conflito em território ucraniano, iniciado em 24 de fevereiro, segue um impasse militar entre ambos os lados. A contra-ofensiva ucraniana no sul do país, que inclui Kherson, segue sem grandes avanços, ao mesmo tempo que o Exército russo parece ter reduzido a sua ofensiva em Donetsk, no leste.
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A Ucrânia ainda conta com a ajuda militar de alguns países do Ocidente, principalmente os Estados Unidos, e tinha o sistema de mísseis de longo alcance HIMARS como um trunfo para virar a batalha. Há algumas semanas, as Forças Armadas chegaram a prometer uma contra-ofensiva em Kherson, mas a essa altura ainda não se sabe se ela irá, de fato, acontecer.
Especialistas apontam que, embora os novos armamentos sejam uma boa adição ao Exército ucraniano, ele por si só não garante grandes avanços, principalmente devido a uma falta de um contingente bem treinado. Além disso, alguns líderes militares argumentam que a quantidade de armas doadas até agora não é suficiente para vencer a Rússia.
Em entrevista à mídia alemã em 7 de agosto, o conselheiro presidencial da Ucrânia, Mykhailo Podolyak, disse que seus soldados precisam de mais artilharia de longo alcance, lançadores de foguetes e drones para contra-atacar. Os Estados Unidos prometeram o envio de 20 HIMARS, mas até o momento 16 foram entregues e não há previsão de um novo envio.
“Se o Ocidente se cansar da guerra, a Rússia atacará novamente com todas as suas forças”, disse Podolyak.
Com o impasse no campo de batalha, a guerra também tem se estendido para a ética de ambas as nações, com o principal foco sendo a questão nuclear. A cidade de Zaporizhzhia, onde está a maior usina nuclear da Europa, foi ocupada por forças russas desde 4 de março e, desde então, a Ucrânia diz que há cerca de 500 soldados com equipamento militar e munição na sala de máquinas da primeira unidade do reator.
Na última segunda-feira, 8, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, pediu que inspetores internacionais recebam acesso à usina nuclear, após a Ucrânia e a Rússia trocarem acusações.
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“Qualquer ataque contra uma usina nuclear é suicídio”, disse Guterres durante evento no Japão, dois dias depois de participar de uma cerimônia em memória às vítimas de Hiroshima, onde houve o primeiro ataque a bomba atômica do mundo.
O Ministério da Defesa da Rússia afirmou que a Ucrânia bombardeou Zaporizhzhia no domingo, danificando as linhas de alta tensão e forçando a usina a reduzir sua produção.
Kiev negou as acusações e atribuiu a autoria dos ataques, que acontecem desde sexta-feira, 5, a Moscou. A empresa estatal de energia nuclear da Ucrânia, Energoatom, informou que um funcionário da instalação foi ferido durante o bombardeio.
Já na última quarta-feira, 10, os países do Grupo dos Sete (G7) condenaram a ocupação russa da usina e pediram a Moscou que “devolva imediatamente o controle total” da planta aos ucranianos.
“A Federação Russa deve retirar imediatamente suas tropas de dentro das fronteiras internacionalmente reconhecidas da Ucrânia e respeitar o território e a soberania do país”, afirmou.
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O G7 disse que as ações das forças armadas da Rússia estão aumentando significativamente o risco de um acidente nuclear, colocando em perigo a população e toda a comunidade internacional. Além disso, o grupo reiterou sua “condenação mais forte” à invasão, que eles chamam de “guerra de agressão não provocada e injustificável”.