Ucrânia reduz operações contra Rússia por escassez de artilharia
Dificuldades no campo de batalha refletem bloqueio dos EUA e Europa no financiamento às tropas ucranianas
A Ucrânia disse nesta segunda-feira, 18, que reduziu o número de operações militares contra a Rússia por enfrentar escassez de artilharia, em meio à redução de assistência militar e financeira internacional. Na semana passada, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, viajou aos Estados Unidos para apelar ao Congresso e à Casa Branca por uma nova leva de auxílio, sem sucesso, enquanto a União Europeia bloqueou um pacote de 50 bilhões de euros a Kiev.
“Há um problema com a munição, especialmente [cartuchos da era] pós-soviética – são 122 mm, 152 mm. E hoje estes problemas existem em toda a linha da frente”, disse o general do Exército ucraniano Oleksandr Tarnavskyi à agência de notícias Reuters.
“Os volumes que temos hoje não são suficientes para nós hoje, dadas as nossas necessidades. Então, estamos redistribuindo isso. Estamos replanejando tarefas que definimos para nós mesmos e tornando-as menores porque precisamos sustentá-las”, acrescentou.
Devido à falta de financiamento, os soldados ucranianos da linha de frente sudeste estariam atuando na defensiva, e não na ofensiva, em alguns locais. Tarnavskyi afirmou, contudo, que as tropas continuam a contraofensiva, iniciada em junho, com ataques “por manobra, fogo e avançando”. O general disse ainda que parte da munição teria sido separada para “futuras ações em grande escala”, sem oferecer mais detalhes.
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Cansaço e desgaste
Os comentários do general ocorrem após deputados e senadores republicanos dos Estados Unidos bloquearem um novo pacote de financiamento de US$ 60 bilhões (cerca de R$296 bilhões). A má notícia vinda do outro lado do Atlântico soma-se ao veto, por parte da Hungria, do direcionamento de mais 50 bilhões de euros (R$ 269 bilhões) da União Europeia a Kiev.
“Hoje temos certas dificuldades com o pessoal que temos na linha de frente. Sim, hoje eles não estão tão revigorados, nem tão descansados”, admitiu o general Tarnavskyi. “Todo comandante deveria ter uma reserva.”
“Mas temos muitos anos de experiência na condução de operações militares em condições de inverno. A logística, a retirada e a movimentação de equipamentos e pessoal são complicadas”, continuou.
A esperança do experiente militar está no cumprimento das promessas de aliados. Ele acredita que a chegada de caças F-16 proporcionará uma virada de jogo, possibilitando que o país avance em meio à ataques de drones de Moscou.
“Com a presença do F-16, será totalmente [diferente]. Na minha opinião, como oficial de infantaria, o F-16 é como um Mercedes comparado com um Zaporozhets [velho carro soviético]”, explicou. “Todo mundo está esperando por eles.”
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A mudança na tática russa
No comando da unidade “Tavria”, Tarnavaskyi liderou o mais eficaz plano orquestrado por Kiev desde o início da guerra, em fevereiro de 2022. O general e sua equipe foram responsáveis por expulsar os soldados russos da cidade de Kherson, situada do lado ocidental do rio Dnipro, em novembro do ano passado.
De lá para cá, embora a Ucrânia tenta iniciado a prometida contraofensiva, o país não registrou conquistas significativas no campo de batalha. Em contrapartida, a Rússia apertou o cerco na cidade de Avdiivka, considerada vital para que o país consiga controlar por completo as províncias de Donetsk e Luhansk, anexadas ilegalmente junto com Kherson e Zaporizhzhia por Vladimir Putin.
A defesa de Avdiivka é supervisionada por Tarnavskyi, que relatou à Reuters que os soldados de Moscou mudam suas táticas regularmente, de forma a obter “sucesso parcial em algumas áreas”.
“A intenção [das forças russas] permanece [a mesma]. A única coisa é que suas ações mudam, suas táticas mudam… ataques são realizados constantemente”, afirmou. “Hoje, o inimigo está nos pressionando com toda a força. Eles nunca se importaram e não se importarão com seus próprios soldados.”