Ucrânia vai assinar ‘em 24 horas’ acordo para brindar EUA com minerais do país
Primeiro-ministro ucraniano qualificou texto, que fornecerá acesso às terras raras no subsolo da nação, como 'um verdadeiro pacto de parceria'

O primeiro-ministro da Ucrânia, Denis Shmyhal, afirmou nesta quarta-feira, 30, que o país vai assinar “em 24 horas” um acordo com os Estados Unidos que dará a empresas e ao governo americano acesso privilegiado aos minerais chamados “críticos” no subsolo ucraniano. O avanço ocorre em meio às negociações para um acordo de paz entre Kiev e Moscou, mediadas por Washington, e pode colocar a nação invadida em posição de maior vantagem, enquanto Donald Trump vem privilegiando a relação com o líder russo, Vladimir Putin.
De acordo com Shmyhal, o texto reformulado se tornou um “verdadeiro acordo de parceria”. Anteriormente, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, havia expressado que a Ucrânia não aceitaria nenhum acordo de direitos minerais que ameaçasse sua integração com a União Europeia.
O primeiro-ministro acrescentou que o acordo terá que ser ratificado pelo Parlamento ucraniano, com consultas programadas para esta quinta-feira, 1º de maio, informou a agência de notícias Reuters.
No início das negociações, Trump afirmou que o acesso aos minerais ucranianos seria necessário para Kiev “pagar” por toda a ajuda militar e humanitária americana ao longo do conflito com a Rússia, uma injeção de US$ 190 bilhões (500 bilhões, na conta do presidente). Nesta quarta, Shmyhal declarou que assistências futuras dos Estados Unidos à Ucrânia pode ser considerada parte da contribuição de Washington para o fundo de investimento a ser estabelecido sob o acordo.
O que prevê o acordo?
Na versão original do texto, os Estados Unidos e a Ucrânia estabeleceriam um fundo de investimento de reconstrução para coletar e reinvestir receitas de fontes ucranianas. Kiev contribuiria para o fundo com 50% da receita, subtraindo despesas operacionais, até que as contribuições atinjam a soma de US$ 500 bilhões. Washington, por sua vez, estabeleceria um compromisso financeiro de longo prazo para o desenvolvimento de uma “Ucrânia estável e economicamente próspera”.
Em meio às negociações de cessar-fogo e do pacto sobre minerais, o presidente dos Estados Unidos suspendeu temporariamente o fornecimento de armas e munições, assim como o compartilhamento de informações de inteligência com o Exército ucraniano, no início do ano. Pressionada, a Ucrânia não teve muita opção a não ser avançar com o acordo. Nas tratativas, Kiev pressionou para assinar primeiro um memorando de entendimento e assinar um acordo detalhado mais tarde, aliviando, ainda que momentaneamente, as cobranças do obstinado Trump.
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O memorando de entendimento foi assinado há duas semanas. Na época, a vice-primeira-ministra da Ucrânia, Yulia Svyrydenko, afirmou que o avanço mostrou o “trabalho conjunto construtivo de nossas equipes e a intenção de finalizar e firmar um acordo que será benéfico para ambos”. Ela também destacou a importância dos Estados Unidos investirem “em uma Ucrânia livre, soberana e segura”.
O pacto teve seus percalços. Em fevereiro, uma aguardada reunião entre Zelensky e Trump na Casa Branca terminou num tenso bate-boca. Na ocasião, o republicano acusou o ucraniano de flertar com a Terceira Guerra Mundial e de demonstrar ingratidão pelo apoio de Washington a Kiev na guerra contra a Rússia – de quem Trump se aproximou desde que retornou à Casa Branca, em 20 de janeiro.
Após a discussão, a coletiva de imprensa marcada para após o encontro foi cancelada, assim como a assinatura do acordo sobre minerais que permitiria que os Estados Unidos explorassem terras raras. O país tem depósitos de 22 dos 34 minerais identificados como “críticos”, de acordo com dados ucranianos, incluindo materiais industriais e de construção, ferroligas, metais preciosos e não ferrosos.