O governo da Ucrânia convidou, novamente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a visitar Kiev nesta terça-feira, 18. Em postagem no Facebook, o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores ucraniano, Oleg Nikolenko, afirmou que deseja que o presidente brasileiro compreenda “as verdadeiras causas da agressão russa e suas consequências para a segurança global”.
O convite ocorre após as mais recentes — e controversas — declarações de Lula relacionadas ao conflito no país. Ao fim de sua viagem à China, o petista acusou os Estados Unidos de prolongarem conflito com seu apoio bélico a Kiev e cobrou que os americanos “comecem a falar em paz”.
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Depois, em escala nos Emirados Árabes Unidos antes de retornar ao Brasil, voltou a dizer que Kiev tem tanta responsabilidade quanto Moscou pela guerra. Lula já havia feito afirmação semelhante em entrevista à revista americana Time em maio passado, quando ainda era pré-candidato às eleições. “Uma guerra não tem apenas um culpado”, argumentou na época.
“A Ucrânia observa com interesse os esforços do presidente do Brasil para encontrar uma solução para dar um fim à guerra. Ao mesmo tempo, a abordagem que põe vítima e agressor no mesmo patamar e acusa os países que ajudam a Ucrânia […] de incentivarem a guerra não está de acordo com a realidade”, escreveu Nikolenko.
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Ele acrescentou que a guerra é travada em solo ucraniano e causa “sofrimento e destruição indescritíveis”.
“Mais do que ninguém no mundo, esforçamo-nos para acabar com a agressão russa com base na Fórmula da Paz proposta pelo Presidente Zelensky“, declarou Nikolenko, referindo-se ao líder ucraniano. “Confirmem o convite de Luiz Inácio Lula da Silva para visitar a Ucrânia para entender as causas reais e essência da agressão russa e suas consequências para a segurança global”, pediu.
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A proposta de Zelensky é apenas sentar-se à mesa com a Rússia se todas as áreas ocupadas do país forem liberadas. Uma delas é, inclusive, a Crimeia, anexada em 2014 — região que Lula, sugeriu que fosse cedida a Moscou por Kiev em um acordo de paz no início do mês.
O presidente ucraniano já havia convocado o brasileiro a Kiev no mês passado, durante uma conversa por videoconferência — o primeiro contato entre os dois. Na ocasião, o petista afirmou que aceitaria o convite em momento oportuno.
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Em entrevista a VEJA, o encarregado de negócios na embaixada da Ucrânia em Brasília, Anatoliy Tkach, reforçou o interesse de que o Brasil participe do plano de paz proposto pelo presidente Zelensky, já que, segundo ele, o governo brasileiro teria expertise em “negociar com todas as partes envolvidas” no conflito.
“Todos os países do mundo estão entendendo agora que não se trata apenas da Ucrânia, mas se trata da violação da ordem mundial, criada depois da Segunda Guerra. Se, neste momento, não fizermos o que deve ser feito, não parar o agressor, não punir aqueles que cometeram crimes, isso pode voltar acontecer depois em qualquer outra parte do mundo. Um agressor em potencial pode ver essa impunidade e repeti-la”, disse Tkach a VEJA.