A Comissão Europeia anunciou nesta terça-feira, 5, a abertura de um escritório humanitário em Caracas para atender às necessidades dos afetados pela crise na Venezuela. Órgão executivo da União Europeia (UE), a comissão também prometeu o envio de 5 milhões de euros em ajuda emergencial ao país.
“Ajudar as pessoas em necessidade é uma prioridade para nosso bloco”, disse Margaritis Schinas, porta-voz da Presidência da Comissão.
A ajuda humanitária incluirá cuidados de saúde de emergência, educação, acesso a água potável e saneamento, bem como as necessidades de proteção, abrigo, alimentação e nutrição.
Com o montante anunciado hoje, a União Europeia totaliza 39 milhões de euros enviados à Venezuela desde o ano passado em auxílio para atenuar os efeitos da crise de desabastecimento de alimentos e remédios. Parte do dinheiro foi destinada à ajuda para os acampamentos de refugiados montados em diferentes países vizinhos da Venezuela.
Para facilitar a distribuição dos itens por parceiros na Venezuela, especialmente as agências da ONU, o bloco tem a intenção de abrir uma unidade do Escritório Europeu de Ajuda Humanitária (Echo) na capital venezuelana. O órgão deve ficar na sede da representação diplomática que a UE já possui em Caracas.
Até então, a ajuda humanitária enviada pela UE à Venezuela era administrada pelas unidades do Echo em Manágua ou Bogotá. Os produtos também eram distribuídos via organizações não-governamentais e/ou agências das Nações Unidas.
Fontes da União Europeia disseram que os agentes que trabalham na Venezuela relataram que o trabalho não tem sido fácil.
Desafio a Maduro
Com a oferta de ajuda vindo de diversos países, o opositor Juan Guaidó redobrará a sua pressão pela entrada de ajuda humanitária. Ele desafia o ditador Nicolás Maduro, que até agora vem fechando suas fronteiras para qualquer tipo de doação internacional.
Guaidó é presidente da Assembleia Nacional e se autoproclamou presidente da Venezuela no último dia 23. Sua posição foi apoiada por 40 países, entre os quais 19 da União Europeia, que consideraram ilegítimo o atual mandato de Maduro, iniciado em 10 de janeiro.
Além da União Europeia, os Estados Unidos e o Canadá ofereceram ajuda aos venezuelanos. Segundo Guaidó, haveria também pontos de coleta de ajuda humanitária no Brasil, na Colômbia e no Caribe.
A Assembleia Nacional da Venezuela, controlada pela oposição, informou nesta terça-feira que está coordenando a entrada do primeiro lote de ajuda humanitária no país, apesar da resistência de Maduro.
“O Legislativo é um ente de canalização, de coordenação e de acompanhamento dessas doações de remédios e alimentos”, explicou em entrevista coletiva o deputado Miguel Pizarro, presidente da Comissão Especial de Acompanhamento da Ajuda Humanitária.
Segundo o deputado, a Assembleia Nacional não entregará diretamente os produtos doados à população venezuelana, apenas coordenará que eles cheguem às ONGs que farão o serviço.
“A ajuda humanitária não é uma esmola. É uma necessidade urgente do nosso país, de centenas de milhares de venezuelanos que não tem o que comer, não tem medicamentos”, afirmou Guaidó, pedindo que os agentes que protegem as fronteiras desobedeçam as ordens de Maduro.
O primeiro lote de ajuda humanitária, segundo o líder opositor, foi comprado por empresas com capital venezuelano no exterior e pelos governos da Colômbia e dos Estados Unidos. Ainda falta transformar os recursos doados recentemente por Canadá e Alemanha em produtos que possam ser oferecidos à população local.
Os remédios e alimentos serão armazenados em três centros, um deles na fronteira da Venezuela com a Colômbia e outro em Pacaraima, cidade que liga o Brasil ao país vizinho. Essa informação, no entanto, ainda não foi confirmada pelo governo de Jair Bolsonaro.
Um terceiro posto também será criado em um país que será anunciado nos próximos dias, segundo Pizarro.
“O único embaraço para a entrada de ajuda humanitária é Nicolás Maduro no poder”, criticou o deputado
‘Show da ajuda’
Os Estados Unidos, que não descartam uma ação armada na Venezuela, ofereceram uma ajuda inicial de 20 milhões de dólares. O Canadá ofereceu outros 40 milhões, uma “esmola”, segundo o governo venezuelano.
Maduro acusa Washington – com o qual rompeu relações diplomáticas – de usar Guaidó como “fantoche” para derrubá-lo e se apropriar do petróleo venezuelano, e os países europeus de apoiar esses “planos golpistas”.
“Aqui na Venezuela não vai entrar ninguém, nem um soldado invasor. Nesta terra ninguém toca”, sentenciou o presidente socialista, que conta como aliados Rússia, China, Turquia e Irã.
“Querem mandar dois caminhõezinhos com quatro panelas. A Venezuela não tem que mendigar a ninguém. Se querem ajudar, que acabem com o bloqueio e as sanções”, disse o presidente, assegurando que não permitirá que “humilhem” o país com o “show da ajuda humanitária”.
(Com EFE e AFP)