A Alternativa para a Alemanha (AfD) se tornou o primeiro partido de extrema direita a vencer uma eleição estadual na Alemanha desde a Segunda Guerra Mundial, conquistando 32,8% dos votos no estado da Turíngia, no leste do país, neste domingo, dia 1º de setembro.
A legenda anti-imigração, acompanhada de perto pela polícia alemã por seu extremismo e relativização do regime nazista, ficou bem à frente do União Democrata Cristã (CDU), partido de centro-direita que conquistou o segundo lugar com 23,6% dos votos. Na Saxônia, estado vizinho e mais populoso, a sigla de extrema direita também se destacou, ficando o segundo lugar com uma margem mínima em relação à CDU, que conquistou a liderança com 31,9% dos votos.
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Antes disso, a Alemanha já havia visto a AfD conquistar 15% dos votos e se tornar a segunda maior bancada alemã no Parlamento Europeu, legislativo da UE, em junho. Um ano atrás, a sigla arrematou a primeira vitória em uma eleição distrital na cidade de Sonneberg, também no estado da Turíngia.
A Aliança Sahra Wagenknecht (BSW), populista no outro extremo do espectro político, ficou em terceiro lugar em ambos os estados, apesar de ter sido fundada neste ano. O partido esquerdista compartilha dos ideais anti-imigração da AfD.
Rejeição
O chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, descreveu os resultados na Turíngia e na Saxônia como “preocupantes” e pediu que os partidos tradicionais excluíssem os “extremistas de direita”. “Nosso país não pode e não deve se acostumar com isso. A AfD está prejudicando a Alemanha. Está enfraquecendo a economia, dividindo a sociedade e arruinando a reputação do nosso país”, disse ele.
Os partidos da coalizão de centro-esquerda liderada por Scholz tiveram um desempenho fraco nas eleições de domingo, aumentando a tensão dentro do governo um ano antes da Alemanha realizar sua próxima eleição geral.
Ascenção do extremismo
Embora seja pouco provável que a AfD lidere o governo da Turíngia, visto que os demais partidos rejeitaram formar uma coalizão com a extrema direita, uma de suas líderes, Alice Weidel, disse à emissora pública alemã ARD que essa vitória foi “um sucesso histórico”.
“Sem nós, não é possível mais haver um governo estável”, argumentou ela.
O principal candidato do partido na Turíngia, Björn Höcke, disse estar “cheio de orgulho” e “pronto para assumir as responsabilidades de governar”. Ex-professor de história, ele foi condenado em maio por utilizar o slogan nazista “Tudo pela Alemanha” (“Alles für Deutschland”) em um comício em 2021.
O político negou ter conhecimento de que a frase, usada pelas tropas de choque Sturmabteilung, conhecidas como SA, tinha conexão com o regime de Adolf Hitler. “Todo mundo sabe que é um ditado cotidiano”, justificou durante seu julgamento.
Imigração é combustível
Poucos dias antes das eleições estaduais, um homem sírio confessou ter matado três pessoas a facada e ferido várias outras em um festival na cidade de Solingen, no oeste da Alemanha. Alice Weidel, da AfD, culpou a política migratória do país pelo crime.
“Em vez de quebrar a cabeça com os vários modelos de proibição de facas, precisamos finalmente enfrentar as raízes do problema. As (regras) de imigração precisam mudar imediatamente”, disparou.
Além da Turíngia e Saxônia, a AfD lidera nas pesquisas de intenção de voto em um terceiro estado, Brandenburg, que terá eleições daqui a três semanas. Deve ser uma disputa acirrada contra o Partido Social-Democrata, de Scholz, e o CDU. Em caso de vitória do extremismo, este ano pode tornar-se um divisor de águas na política alemã.