União Africana pede que RDC adie a conclusão das eleições presidenciais
Pedido foi negado pelo governo do atual governante, Joseph Kabila, que atribuiu ao judiciário o poder de exigir a recontagem dos votos, cercada por polêmica
A União Africana (UA) pediu que a conclusão dos resultados da eleição presidencial na República Democrática do Congo (RDC) seja suspensa. Segundo a organização, existem “sérias dúvidas” sobre a contagem de votos do pleito, realizado no dia 30 de dezembro.
O candidato eleito foi o opositor Felix Tshisekedi, mas Martin Fayulu, outro oponente da administração atual, insiste que foi o vencedor legítimo da votação. Seus apoiadores acusam Tshisekedi de ter feito um acordo para dividir o poder com o atual presidente, Joseph Kabila.
No comunicado publicado na quinta-feira 17, a UA disse que chefes de estado e governo do continente concordaram em formar uma delegação a ser enviada para o Congo com “o objetivo de alcançar um consenso para resolver a crise pós-eleitoral.”
“Os chefes de estado e governo que compareceram a reunião concluíram que existem sérias dúvidas sobre a conformidade dos resultados provisórios proclamados pela Comissão Eleitoral Nacional Independente (CENI) como veredito das urnas”, explicou a nota.
O governo negou o pedido da UA, alegando que a decisão cabe aos juízes do Supremo Tribunal congolês. Segundo fala do porta-voz Lambert Mende à AFP “o tribunal é independente, tanto de nós como da União Africana”: “Não acho que seja da conta do governo ou até mesmo da AU dizer ao nosso judiciário o que ele deveria fazer.”
No Twitter, Jason Stearns, diretor do Grupo de Pesquisa do Congo na Universidade de Nova York, elogiou a atitude da União Africana como “verdadeiramente incrível”.
A decisão causou surpresa pois, até o momento, a União Africana havia declarado somente ter “tomado nota” dos resultados provisórios e tinha pedido a manutenção da paz, especialmente se os recursos possíveis forem respeitados.
Segundo os resultados provisórios divulgados pela CENI, Tshisekedi obteve 38,57% dos votos; seguido pelo também opositor Martin Fayulu, com 34,86%; e pelo candidato do presidente Joseph Kabila, Emmanuel Ramazani Shadary, com 23,84%.
Fayulu, deputado nacional e ex-empresário petroleiro, tachou os resultados de “inventados”, enquanto a influente Conferência Nacional Episcopal (CENCO) também discordou deles.
Fayulu contestou os resultados perante o Tribunal Constitucional no dia 12 e exigiu uma recontagem manual dos votos e a expectativa é de que o órgão defira o pedido nos próximos dias.
O deputado garante que sua formação obteve 61% dos votos e não 34,86%, segundo os números da CENI.
Na comunidade internacional, a União Européia (UE) pediu à RDC que publique as atas das eleições para apaziguar as dúvidas sobre o triunfo de Tshisekedi, enquanto os Estados Unidos exigiram um “esclarecimento”.
As eleições de dezembro marcariam a primeira transferência pacífica de poder na RDC, o maior país da África Subsaariana, desde sua independência em 1960, e foram realizadas com um atraso de dois anos. Em 2016, ano inicialmente previsto as eleições, Kabila se recusou a deixar o governo.
O atual presidente, Joseph Kabila, sucedeu ao pai, Laurent-Désiré Kabila, assassinado em 2001 em plena Segunda Guerra do Congo (ou Grande Guerra da África, 1998-2003), da qual participaram vários países e etnias africanos.
A taxa de participação dos eleitores ficou em 47,56%, depois que mais de 18 milhões de congoleses foram às urnas. A votação, porém, foi marcada por vários erros técnicos, como problemas nas máquinas de votação e falta de nomes em algumas listas eleitorais, além de atrasos na abertura de colégios em redutos da oposição.
(com EFE)