Vencedora do Nobel da Paz começa greve de fome em prisão no Irã
Protesto de Narges Mohammadi tem como motivo a falta de atendimento médico para tratar de problemas cardíacos e pulmonares
A iraniana Narges Mohammadi, vencedora do último Prêmio Nobel da Paz, começou uma greve de fome nesta segunda-feira, 6, como forma de protesto pela falta de atendimento médico na prisão em que está detida, de acordo com a agência Human Rights Activists (HRANA). Defensora dos direitos da mulheres no Irã, ela cumpre sentença de 12 anos por difundir propagandas contra o Estado. O conjunto de todas as suas acusações soma 31 anos de reclusão, além de 154 chibatadas. Não é de conhecimento público se as penas físicas foram aplicadas.
“Mohammadi fez greve de fome para protestar contra o fracasso das autoridades em atender às suas exigências, incluindo a recusa em transferi-la para um hospital especializado”, disse a HRANA. “Esta privação continua por ordem das autoridades penitenciárias.”
Segundo a agência, Mohammadi foi impedida de visitar um hospital na semana passada para tratar de problemas cardíacos e respiratórios, já que a mulher de 51 anos se recusou a vestir o véu obrigatório na cabeça. A família alega que sua condição de saúde é frágil. Em resposta, entre 29 e 30 de outubro, um amplo conjunto de prisioneiras protestou pela inação dos responsáveis pela prisão de Evin, onde está detida desde 2021, frente o sofrimento da defensora dos Direitos Humanos, disse sua família em nota à agência de notícias Reuters.
+ Quem é Narges Mohammadi, vencedora do Prêmio Nobel da Paz
“Ela está disposta a arriscar a vida ao não usar o ‘hijab forçado’ nem mesmo para tratamento médico”, indicou o comunicado, antes do anúncio de greve nesta segunda-feira.
Não é a primeira vez, contudo, que Mohammadi encara as duras condições da penitenciária de Teerã. Ela já foi presa mais de uma dúzia de vezes, sendo a sua terceira passagem por Evin desde 2012. A ativista procura combater a pena de morte no país, tendo iniciado sua militância ainda na década de 1990 ao defender a igualdade e os direitos femininos. Formada em física, a iraniana atuou como engenheira e passou a integrar, em 2003, o Centro de Defensores dos Direitos Humanos em Teerã, fundado por Shirin Ebadi, também ganhadora do Nobel da Paz.
No livro “White Torture” (Tortura Branca, em português), ela denuncia os abusos sofridos por prisioneiros do regime teocrático, tendo sido vítima de alguns deles. Na cerimônia do prêmio, realizada em 6 de outubro, o comitê afirmou que “reconhece o trabalho de centenas de milhares de pessoas que se manifestaram contra as políticas de discriminação e opressão do regime iraniano” – uma fala que enfureceu o país, que acusou a entidade de politizar a questão dos Direitos Humanos e de se intrometer nas decisões do governo.