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Venezuela: Guaidó acusa Maduro de encenar invasão para próprio benefício

Líder opositor pede pressão internacional e civil sobre Nicolás Maduro para realizar transição democrática, que 'não vai acontecer voluntariamente'

Por Amanda Péchy Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 20 Maio 2020, 19h24 - Publicado em 20 Maio 2020, 15h14
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  • O autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, afirmou nesta quarta-feira, 20, que Nicolás Maduro contratou supostos “mercenários” para realizar uma invasão no país, a fim de justificar a perseguição política promovida por seu regime. Segundo o governo venezuelano, a incursão foi negociada por Guaidó, com o objetivo de assassinar o atual presidente.

    “A única pessoa beneficiada por essa operação foi Maduro”, disse Guaidó, em entrevista virtual com a ex-presidente da Costa Rica, Laura Chinchilla. “Agora, ele pode usar o ocorrido como justificativa para seguir perseguindo seus críticos”. Segundo o líder da oposição na Venezuela, há atualmente 17 deputados perseguidos e 402 presos políticos no país.

    No ano passado, o “número dois” de Guaidó, Roberto Marrerro, foi preso durante uma batida policial em sua casa. Em fevereiro deste ano, após retornar de uma turnê internacional, o oposicionista também denunciou o desaparecimento de seu tio, Juan José Márquez. Segundo a equipe do deputado, Márquez foi interceptado por autoridades alfandegárias pouco depois de desembarcar em Caracas com o sobrinho. Guaidó alega que “está sendo torturado pelo regime”

    Contudo, o cenário acerca da suposta invasão permanece nebuloso. No dia 12 de maio, um dos consultores políticos de Guaidó, Juan Rendón, renunciou ao cargo após admitir ter debatido a deposição de Maduro com a empresa privada americana de segurança Silvercorp, envolvida na fracassada incursão de um grupo de mercenários em 3 de maio. O deputado Sergio Vergara também renunciou, sem explicação, ao cargo de membro integrante da comissão da oposição venezuelana para Estratégia de Crise. 

    As crises política e humanitária na Venezuela se aprofundam há cerca de quatro anos, marcada por corrupção, escassez de produtos básicos, fechamento de empresas e deterioração da produtividade e da competitividade. Segundo um relatório de 2018 das Nações Unidas, 94% dos venezuelanos vivem em situação de pobreza. Com a atual emergência de saúde em razão da pandemia de coronavírus, espera-se que a situação se agrave ainda mais.

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    O regime de Maduro registra apenas 749 casos confirmados e 10 mortes pela Covid-19, doença causada pelo coronavírus. Os dados fariam do país um dos menos atingidos pela pandemia, com apenas 0,02 mortes a cada 1.000 habitantes (o Brasil, por exemplo, onde a taxa de testagem é uma das menores do mundo, tem cerca de 1,3 casos a cada 1.000 habitantes).

    Contudo, as suspeitas de que os números do governo não representem a realidade são altas – em entrevista a VEJA, o próprio Guaidó havia dito que “as autoridades se dedicam a ocultar informações”.

    “A resposta da Venezuela à pandemia é preocupante, há apenas 84 leitos de UTI equipados com respiradores mecânicos”, disse Guaidó à ex-presidente da Costa Rica. “Só que a população está muito mais preocupada com outras coisas. Mesmo em meio à pandemia, ontem houve 37 protestos no país, reivindicando direitos básicos como alimentação, água e energia elétrica”, completou.

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    Segundo o líder opositor, a crise humanitária deveria ser a prioridade da nação. Estima-se que 92% da população passa até 15 dias sem água em casa, 40% sofre de desnutrição crônica, e 32% está cozinhando com lenha, por falta de energia. Um dos países mais ricos em petróleo do mundo, a Venezuela precisou articular-se com o Irã para obter insumos para obter a preciosa matéria prima, além de recentemente encomendar toneladas de gasolina do país.

    Cinco petroleiros iranianos, transportando pelo menos 45,5 milhões de dólares em gasolina, zarparam em direção à Venezuela no domingo 17. Os dois países sancionados pelos Estados Unidos já haviam negociado a compra de produtos químicos necessários para uma refinaria abandonada na Venezuela, para combater a escassez de gasolina no país.

    “Essa relação só aprofunda o processo de isolamento da Venezuela, que não tem mais relações com governos locais, como Colômbia, Equador e Peru“, afirmou Guaidó. Além disso, o autoproclamado presidente disse que essa quantidade de gasolina deve durar apenas 20 dias e será comercializada a preços exorbitantes.

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    “Quem mais precisa do combustível, como produtores agrícolas que sequer conseguem levar seus produtos a Caracas, não será beneficiado pelo acordo”, declarou o líder opositor. Segundo Guaidó, antes mesmo de enfrentar a questão política no país, é preciso implementar um “tratamento paliativo” para a questão humanitária. Ele espera que uma pressão internacional e cívica sobre Maduro possibilite a entrada de ajuda humanitária, como as Nações Unidas, no país. “O auxílio já existe, já está pronto. Só falta a autorização do ditador”, declara.

    Guaidó bate na tecla da pressão também para que o país possa ter uma transição democrática. No início de abril, o deputado americano Elliott Abrams, representante do Departamento de Estado destacado para lidar com a atual situação venezuelana, afirmou que o fim da crise poderia ter três desfechos: um milagre, uma invasão estrangeira, ou uma negociação interna. Para o líder opositor, a única opção é uma negociação.

    “Por meio de uma pressão internacional diplomática e de uma interna e civil, Maduro precisa concordar em realizar uma transição democrática”, disse Guaidó. Ele ressalta a necessidade de um mediador imparcial para conduzir a negociação, como a tentativa no ano passado com a Noruega, mas admite: a oposição precisa articular-se também com as forças armadas.

    “Será preciso forçar uma negociação, porque ela não vai acontecer voluntariamente”, declara Guaidó.

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