‘Visões de Brasil e Rússia são únicas’, diz chanceler russo em Brasília
Sergei Lavrov se encontrou nesta segunda-feira com o ministro Mauro Vieira
Depois de cerca de duas horas de reunião em Brasília com o chanceler Mauro Vieira, o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei Lavrov, afirmou nesta segunda-feira, 17, que Brasil e Rússia têm “visões únicas” em relação ao que acontece no Leste Europeu.
“As visões de Brasil e Rússia são únicas em relação aos acontecimentos na Rússia. Também estamos atingindo uma ordem mundial mais justa, mais correta e baseada no direito. Nisso, nós temos uma visão de mundo multipolar, onde estamos levando em consideração vários países, não só poucos”, disse Lavrov.
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Logo em seguida, o ministro russo agradeceu o que definiu como “contribuição” do Brasil na busca por uma solução no conflito desencadeado pela invasão russa à Ucrânia, em fevereiro do ano passado. Segundo Lavrov, Moscou está considerando posições levantadas pelo governo brasileiro.
“Estamos agradecidos à parte brasileira pela contribuição para a solução desse conflito que precisamos resolver de forma duradoura e imediata”, disse, reafirmando apoio da Rússia à candidatura do Brasil a uma vaga permanente no Conselho de Segurança das Nações Unidas. “Há uma cooperação construtiva entre nossos países baseada em igualdade, respeito e de não depender de mudanças da conjuntura mundial”.
A previsão de encontro entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Lavrov consta na agenda oficial de Vieira. A agenda de Lula não havia sido divulgada até a noite deste domingo, 16. Também está prevista uma palestra para alunos do Instituto Rio Branco.
Após o encontro, em entrevista coletiva, o ministro Mauro Vieira reforçou a posição brasileira de defesa de um cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia, colocando o governo à disposição, junto a um “grupo de países amigos”, de mediar qualquer acordo. O tema foi sugerido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a vários líderes estrangeiros, incluindo o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e, durante sua viagem a Pequim na semana passada, Xi Jinping. Além disso, Lula enviou seu assessor especial (e guru de política externa), Celso Amorim, para discutir as perspectivas de paz com o presidente russo, Vladimir Putin, em uma viagem discreta a Moscou no final de março.
“Renovei a disposição brasileira em contribuir para uma solução pacífica para o conflito e facilitar a formação de um grupo de países amigos, para mediar negociações entre Rússia e Ucrânia”, disse Vieira.
Embora o Brasil tenha votado para condenar a invasão russa nas Nações Unidas em março, Lula sempre foi ambivalente sobre o conflito. Recentemente, ele sugeriu que a Ucrânia deveria considerar abrir mão da Crimeia para concretizar um acordo de paz e, em uma coletiva de imprensa no sábado 15, disse que os Estados Unidos e a Europa prolongam e encorajam a guerra na Ucrânia.
No Brasil, a abordagem da guerra na Ucrânia é vista como parte de uma longa tradição de neutralidade da política externa. Em um mundo altamente polarizado e muito diferente do que era nos dois primeiros mandatos de Lula, contudo, ser imparcial tem um preço cada vez mais alto.