O líder chinês Xi Jinping chegou à Ásia Central nesta quarta-feira, 14, em sua primeira viagem ao exterior desde o início da pandemia. Ele retorna ao cenário mundial na tentativa de reafirmar a influência global de Pequim durante um período de crescente atrito com os Estados Unidos.
Xi fará uma visita ao Cazaquistão nesta quarta, antes de viajar para o vizinho Uzbequistão para uma cúpula regional, onde se encontrará com o presidente russo, Vladimir Putin – seu primeiro encontro desde a invasão da Ucrânia.
Semanas antes da Rússia dar início à guerra, os dois líderes declararam uma amizade “sem limites”, e Pequim prometeu continuar fortalecendo os laços com Moscou durante o conflito. A China, Belarus e Coreia do Norte são os únicos países a declarar apoio a Moscou, ao invés de Kiev.
A reunião entre os líderes representa uma demonstração (muito necessária) de apoio diplomático a Putin, que enfrenta reveses significativos na Ucrânia e considera Xi seu aliado mais poderoso. E para Xi, o chefe do Kremlin continua sendo um parceiro estratégico próximo, que compartilha suas queixas em relação ao Ocidente e sua visão de uma ordem mundial alternativa.
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A reunião acontecerá à margem de uma cúpula da Organização de Cooperação de Xangai, grupo econômico e de segurança liderado pela China que reúne nações da Índia ao Irã.
A viagem também ocorre em um momento crucial para Xi, apenas algumas semanas antes que, como é esperado, ele assegure um terceiro mandato no poder em uma reunião do Partido Comunista Chinês em outubro. Caso isso se confirme, ele será consolidado como o líder mais poderoso e longevo da China em décadas.
A escolha de usar a Organização de Cooperação de Xangai para sair do país após 1.000 dias sem viagens não foi por acaso. Enquanto em um evento como o G20 ele é apenas um entre 20, nesta cúpula Xi está no controle e é praticamente dono da agenda. Além disso, ter a Ásia Central como destino envia uma mensagem clara sobre as prioridades da política externa de Pequim, à medida que as tensões com o Ocidente aumentam por causa da ilha autônoma de Taiwan.
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Se a economia chinesa encontra fragilidade em caso de um conflito real a leste, já que depende muito de rotas marítimas, a Ásia central torna-se porto seguro em momentos de tensão.
Na última década, a China expandiu sua rota comercial terrestre para o oeste, particularmente por meio da Iniciativa do Cinturão e Rota (também conhecida como “Nova Rota da Seda”), um enorme projeto de infraestrutura que se estende pelo mundo inteiro.
A primeira parada de Xi no Cazaquistão é uma homenagem a esse legado – o país é onde Xi anunciou a iniciativa em 2013, menos de um ano depois de chegar ao poder.
A Ásia Central também é importante para a China por conta de Xinjiang. Desde que o Escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas divulgou um relatório condenando a repressão da China contra os muçulmanos uigures em Xinjiang, ativistas de direitos humanos e acadêmicos renovaram pedidos por uma intervenção internacional.
Em caso de intervenção, a região onde as ações provavelmente serão tomadas é a Ásia Central, que faz fronteira com Xinjiang e abriga cerca de meio milhão de uigures. Por isso, Xi quer garantir que a região está do lado da China.