O presidente da China, Xi Jinping, rompeu o silêncio nesta segunda-feira, 26, e falou pela primeira vez sobre o surto de Covid-19 que atinge o país após a flexibilização de uma série de medidas de controle da doença para se afastar da polêmica política de Covid zero.
Em seu discurso, Xi pediu às autoridades que tomem medidas para proteger de maneira eficaz a população e não deu indicativos de que pode voltar atrás com o relaxamento das normas.
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“Atualmente, a prevenção e o controle da Covid-19 enfrentam uma nova situação e novas tarefas na China. Devemos lançar a campanha de saúde patriótica de um modo mais direcionado, fortalecer a linha comunitária de defesa para o controle e prevenção epidêmica e efetivamente proteger a vida, a segurança e a saúde das pessoas”, disse ele ao canal de notícias estatal CCTV.
Por quase três anos, o governo chinês usou bloqueios rígidos, quarentenas centralizadas, testes em massa e rastreamento rigoroso de contatos para conter a propagação do vírus. Essa estratégia, que custou muito à economia do país e afetou cadeias de produção no mundo todo, foi abandonada no início deste mês, após uma onda de protestos em toda a China.
Segundo números oficiais, apenas seis pessoas morreram de Covid-19 em todo o país em dezembro, número que não representa a real situação nacional. O governo já havia dito que iria contabilizar apenas óbitos por pneumonia ou insuficiência respiratória em seu balanço oficial, além de perder o controle da contagem com a não obrigatoriedade de testagem da população.
Especialistas apontam que mais de 5.000 chineses estão morrendo diariamente em decorrência da doença e que o número total previsto está entre 1 e 2 milhões de mortes até o final de 2023.
A fala do presidente ocorre em meio ao maior surto sanitário em décadas no país. Com a abolição de uma série de medidas restritivas de uma só vez, a China tem visto o número de casos da doença disparar, o que tem levado a uma sobrecarga do sistema de saúde, que recebe levas de pacientes com problemas respiratórios.
Além dos hospitais e das clínicas, os crematórios espalhados pelo país, principalmente em Pequim, também têm enfrentado dificuldades em meio à forte demanda. Segundo relatos de profissionais da saúde, a situação pode se tornar ainda mais crítica devido à falta de leitos e medicamentos.
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O governo já havia alertado para que as casas de saúde trabalhassem ao máximo para evitar que seus funcionários se contaminassem na mesma velocidade que os pacientes, algo que não vem dando certo. De acordo com uma enfermeira da província de Hubei à Reuters, cerca de 50% de sua equipe está impossibilitada de trabalhar, obrigando-a a realizar turnos de mais de 16 horas sem o apoio suficiente.
Para tentar amenizar o surto e voltar a ter o controle sobre o vírus, o governo chinês tem intensificado a sua campanha de vacinação, sobretudo em idosos, com autoridades indo de porta em porta para vacinar aqueles acima de 60 anos.
Em 29 de novembro, a Comissão Nacional de Saúde anunciou um grande plano para aumentar a taxa de idosos imunizados, algo que os especialistas apontam como fundamental para evitar uma crise de saúde. Este é também o maior obstáculo que impede o Partido Comunista de suspender as últimas restrições que ainda seguem em vigor. Mais de 90% da população total da China foram vacinados, mas quando há um recorte nos idosos acima de 80 anos esse número cai para 65%.
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