‘A direita irá vencer’, diz Ciro Nogueira, presidente do PP, sobre disputa de 2026
Senador defende Bolsonaro e a anistia ao 8 de Janeiro, e diz que Lula lidera um governo ultrapassado
Ex-ministro da Casa Civil de Jair Bolsonaro e um dos principais aliados do ex-presidente, Ciro Nogueira divide-se hoje entre as funções de senador e de líder partidário, à frente da presidência do Progressistas, uma das siglas mais importantes do Centrão. Nessa seara, comanda a consolidação de uma federação com o União Brasil, que se tornará a maior bancada da Câmara e a terceira maior do Senado, além de reunir seis governadores e um quarto dos prefeitos do país. Uma vez formalizada a aliança, as legendas deverão atuar juntas pelos próximos quatro anos, quando se valerão de um dos mais generosos tempos de rádio e TV e de um robusto caixa de campanha (em 2024, receberam, somadas, mais de 1,1 bilhão de reais dos fundos eleitoral e partidário). Embora o PP esteja no ministério de Lula, o cacique defende o rompimento com o governo, que considera ultrapassado e sem conexão com a população. Na entrevista a VEJA, ele reafirmou o apoio à candidatura de Bolsonaro ao Planalto ou a um nome ungido por ele, mas defendeu que a definição ocorra ainda este ano. Também fez previsões otimistas para seu campo político na disputa nacional de 2026. “O centro e a direita vão eleger 80% do Congresso. Faremos a maioria dos governos”, calcula.
O senhor é conhecido por monitorar a pré-corrida eleitoral de 2026 por meio de pesquisas. A direita e a centro-direita terão o mesmo triunfo que tiveram nas duas últimas eleições? Não tenho dúvida. Vamos ter a maior vitória da nossa história, muito superior à que obtivemos nas eleições de 2022 e de 2024. O centro e a direita vão eleger 80% do Congresso, e a vitória no Senado será esmagadora. E faremos a maioria dos governadores, inclusive na Região Nordeste. A vitória da centro-direita será ampla no país, principalmente se conseguirmos unificar o nosso projeto nacional.
Acha que isso é possível, uma vez que só no recente ato na Avenida Paulista promovido por Bolsonaro havia quatro governadores de direita que são potenciais presidenciáveis? Se o ex-presidente Bolsonaro for candidato, acho que todos que estavam ali o apoiariam. Caso não possa ser eleito, se souber conduzir a escolha dentro do critério de quem é o melhor, conseguiremos unificar o nosso campo. Se não unificar no primeiro turno, ao menos no segundo estaremos juntos, inclusive aquele grupo de governadores. Não tem como perder a eleição. Tenho trabalhado muito para que as pessoas da direita e do centro estejam unidas no projeto que apresentaremos ao país em 2026 para virar a página do fracasso que está sendo a gestão do PT. As pesquisas indicam uma crescente rejeição não só ao petismo, mas à esquerda como um todo.
O senhor já apoiou Lula, mas agora está na oposição. Qual é sua avaliação sobre o terceiro mandato dele? Hoje, na prática, o governo é um governo de oposição ao próprio país. Completamente ultrapassado, obsoleto, com ideias envelhecidas e práticas antigas. A população não vê mais no presidente nenhuma capacidade de inovar e de ser um alento para o futuro do país. E não estou falando de questão de idade, não. A idade do Lula (79 anos) é o menor dos problemas.
“A população não vê mais nenhuma capacidade de o presidente inovar e ser um alento para o futuro do país. E não estou falando da questão de idade, não. A idade do Lula é o menor dos problemas”
E qual seria o maior problema? O presidente Lula passa a imagem de uma pessoa que não se conecta com a população, que não sabe nem como é que as pessoas trabalham atualmente. Vou dar um exemplo: essa questão dos aplicativos, dos autônomos. O Lula parece que não entende como é que esses brasileiros trabalham, que eles não se sentem representados quando o presidente vem com essa visão de sindicalizar. As pessoas não querem saber disso.
Esse cenário, então, impõe um desafio ao futuro não apenas do PT, mas da esquerda como um todo? A esquerda não foi capaz de se reinventar, atrair novos quadros e formar outros valores. Por isso, tem o desafio enorme de convencer o Lula a disputar, mesmo com a perspectiva de perder a eleição. Porque não estão pensando só no Lula vencer, mas em eleger deputados e senadores, para que a esquerda não tenha uma derrota histórica.
O Progressistas integra o governo Lula. Tem o ministro do Esporte, André Fufuca, e comanda a Caixa Econômica Federal. A sigla pretende deixar formalmente a gestão? Por mim, o partido não faria parte de nada desse governo. Fui contra a indicação do Fufuca, que tomou essa atitude individual. Por mim, ele não seria ministro. Ele não tem ajudado a legenda e o governo não tem nada a ver com as nossas bandeiras. Quase a totalidade do partido é de oposição. A Caixa não tem nada a ver com o Progressistas, foi indicação do presidente da Câmara, Arthur Lira. Nosso foco agora é a federação, mas vai chegar um momento em que vamos ter que discutir a saída em definitivo desse governo.
O ex-presidente Jair Bolsonaro está inelegível até 2030, por decisão da Justiça Eleitoral, pode ser condenado pelo Supremo Tribunal Federal por tentativa de golpe de Estado e corre risco de ir para a prisão. Acredita que ele será candidato em 2026? Meu candidato a presidente número 1 é Bolsonaro, o número 2 é Bolsonaro e o número 3 é Bolsonaro. Ele seria eleito se a disputa fosse hoje. Mas está inelegível, por mais absurdo que isso seja. Temos que buscar ter um projeto de anistia para que ele se torne elegível.
E caso não seja possível ele sustentar sua candidatura, qual seria a alternativa? Se isso ocorrer, defendo que teremos que definir a questão do candidato a presidente da República até o fim do ano. Pode ser que seja alguém da família, algum dos filhos do ex-presidente. Se for alguma das outras pessoas, como Tarcísio (de Freitas, governador de São Paulo), Ratinho Jr. (governador do Paraná), Tereza Cristina (ex-ministra e senadora pelo PP) ou Ronaldo Caiado (governador de Goiás), temos que decidir este ano. Essa é a minha tese e é o que eu vou aconselhar Bolsonaro a fazer.
Qual dessas opções seria a mais viável para derrotar Lula no ano que vem? Quem ele (Bolsonaro) escolher. A decisão é dele, ele é o grande eleitor. Qualquer candidato que Bolsonaro apoiar se tornará viável. E eu espero estar ao seu lado para aconselhá-lo.
A anistia aos envolvidos nos ataques de 8 de janeiro de 2023 tem sido a principal bandeira da direita, sob o argumento de que há excessos do STF (leia a reportagem na pág. 36). Como o senhor enxerga isso? Acho que existe um consenso no país de que as penas foram exageradas. As pessoas têm que ser condenadas, sim, mas por vandalismo, que foi o que realmente aconteceu. Não houve nada contra as instituições, não teve golpe. Temos que virar essa página. O próprio Supremo acha que as penas foram exageradas, tanto que a moça do batom (Débora Rodrigues dos Santos, que ficou conhecida por pichar a estátua do STF) está em casa. Outras pessoas estavam ali muito em razão da incompetência das forças policiais para proteger os prédios públicos. Existe um clamor das pessoas para que as penas sejam revistas.
Como avalia a ação contra Bolsonaro e pessoas ligadas a ele por tentativa de golpe de Estado? Se acontecer um julgamento justo, com base nas provas já apresentadas, ele tem que ser inocentado. Porque até hoje não tem nenhuma prova. Vamos aguardar. Espero que o processo não seja açodado, pensando apenas em condenar o ex-presidente. Isso seria um erro.
Mas não houve uma tentativa de dentro do Planalto para barrar a posse de Lula após a vitória em 2022? Não acredito que tenha havido. Eu, como ministro da Casa Civil, que era o ministério mais importante, fiz a transição, demos tudo o que foi preciso. Eu nunca vi uma pessoa dar um golpe de Estado depois de entregar o poder.
O Progressistas e o União Brasil caminham para a consolidação de uma federação, que deverá ser uma das principais forças do Congresso. Em que pé estão as conversas e o que pretende, afinal, esse novo grupo? Já está praticamente consolidado. Há algumas questões de disputas em estados, mas estamos chegando ao fim com o processo. Essa federação vai se tornar uma bússola para nos direcionar, para fazer com que as pautas que são importantes para o país sejam realmente discutidas e que consigamos virar a página das questões que não ajudam em nada o povo brasileiro.
“Não acredito que tenha havido tentativa de golpe. Como ministro da Casa Civil, fiz a transição, demos tudo o que foi preciso. Nunca vi uma pessoa dar um golpe depois de entregar o poder”
Qual assunto considera importante, por exemplo? Nos últimos quarenta anos, o Brasil cresceu 140%, 150%. A China cresceu 3 000% e a Índia, 1 000%. Aqui, alguma coisa está errada. Isso não é culpa só de um governo. Nosso foco, como federação, será fazer o Brasil crescer, aumentar a renda, o emprego e a produtividade. E seremos o grande dique de proteção da sociedade contra medidas populistas do governo, como tentar tirar mais dinheiro do bolso do cidadão.
Bolsonaro e aliados defendem que ampliar as bancadas de senadores será importante para emplacar agendas que a direita considera relevantes, como o impeachment de ministros do STF. O que pensa a respeito? Não vou negar que o impeachment de ministros do STF é uma pauta muito importante. Se o Supremo não der um passo atrás nesse excesso de protagonismo, essa será a principal pauta depois de 2026. Isso não será uma bandeira minha e eu espero que não seja uma bandeira do país. Mas, para que isso não aconteça, é muito importante o Supremo dar um passo atrás e passar a cumprir mais as suas funções e não dar opinião sobre tudo no país.
O senhor precisa renovar seu mandato de senador em 2026. Vai disputar a reeleição ou tentará o governo do Piauí? Agora tenho que trabalhar para viabilizar a federação. É um foco importante, mas preciso buscar a reeleição para o Senado, e as pesquisas mostram que estamos indo bem. O meu pai me ensinou que não adianta ter uma árvore muito frondosa, uma copa muito bonita, se não estiver bem fixada. E a minha raiz é o Piauí.
Têm crescido também as especulações de que o grande projeto político do senhor para 2026 vai muito além do Piauí. Ele incluiria o desejo de ser o vice da chapa presidencial da direita em 2026. É mesmo seu maior desejo? Candidatura ao Senado e ao governo do Piauí só depende de mim, mas a presidente ou vice-presidente vai depender do contexto. É algo que o meu estado nunca teve, mas o mais importante é ganhar a eleição. Se o meu nome, na época certa, estiver como o melhor para compor a chapa, vou ficar muito feliz e honrado.
Publicado em VEJA de 17 de abril de 2025, edição nº 2940