Oferta Relâmpago: 4 revistas pelo preço de uma!

Cláudio Castro: ‘Lula promove um debate inócuo na segurança pública’

O governador do Rio anuncia que vai endurecer na área, mesmo com as limitações impostas pelo STF às operações policiais

Por Ricardo Ferraz Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Ludmilla de Lima Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 21 fev 2025, 11h19 - Publicado em 21 fev 2025, 06h00

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, 45 anos, vive dias tensos diante da escalada da violência promovida pelo crime organizado, que há décadas disputa o território com as forças de segurança no estado. No início deste ano, alguns dos indicadores de criminalidade, como o de roubo de carros, aumentaram, bem como a ousadia dos bandidos, que chegaram a metralhar uma delegacia após a prisão de um dos líderes de uma facção. O remédio para a chaga que amedronta a população e imprime enormes desafios aos gestores públicos, sustenta Castro, é endurecer o combate à bandidagem, mas uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, movida no Supremo Tribunal Federal, impõe uma série de limitações à ação das polícias. Rever a “ADPF das Favelas”, como a medida se tornou conhecida, virou uma das principais bandeiras do governador. Na entrevista a VEJA, concedida em seu gabinete, no Palácio Guanabara, o governador dividiu a responsabilidade sobre a crise com Brasília, garantiu que as operações são decisivas para a manutenção da lei e tratou de seu futuro na política.

A impressão hoje é a de que há no Rio uma intensificação no número de operações policiais. Ela está correta? Há uma visão deturpada de que as operações aumentam a letalidade da polícia, mas os números mostram que essa não é a realidade. A ADPF torna a ação policial extraordinária. Isso é antítese da ostensividade que o Estado tem como dever oferecer à população. Como a polícia não pode mais ser ostensiva, só restou fazer operações nos territórios dominados pelo crime. Se não fizermos uma análise maior, desapaixonada, sobre o que está acontecendo no Rio e em outros estados brasileiros, vamos seguir com essa visão míope.

As facções estão mesmo mais ousadas e organizadas? Essa organização versus a impossibilidade de contra-ataque leva à ousadia. O tráfico de drogas se aproximou da milícia na ideia de domínio territorial e de business. A questão hoje é dinheiro. Com a aliança entre o Primeiro Comando da Capital e o Comando Vermelho, há a nacionalização e transnacionalização dessas facções. Elas estão se tornando máfias. Sem tirar a responsabilidade dos estados, é preciso achar uma solução global para o problema.

Como agir diante desse novo cenário? Às vezes, me cobram, dizendo que o Rio não tem política de segurança. Mas ela é muito clara. O primeiro viés é a recuperação das polícias, que estavam sucateadas; o segundo, a inteligência e a capacidade de investigação; e o terceiro, a desestruturação das organizações criminosas. A polícia está avançando nas investigações de lavagem de dinheiro e nas ações para impedir essas ocupações territoriais.

“Me cobram, dizendo que o Rio não tem política de segurança, mas ela é muito clara: recuperação das polícias, investigação e desestruturação de organizações criminosas”

Na semana passada, uma operação no Complexo Israel fechou a Avenida Brasil por horas e amedrontou a população. Esse tipo de ação ainda é eficaz? Mais que eficaz, é necessária. Quem fechou as vias fomos nós, para impedir que as pessoas fossem usadas como alvos, como já tinha acontecido antes. Ao chegarmos perto do líder do tráfico na área, os criminosos foram para a avenida e passaram a atirar a esmo contra os moradores para tirar a polícia de lá. Se a gente não fizer essas incursões, não impuser a força do Estado, vai chegar uma hora que tudo estará tomado. Dizem que é a mesma coisa que enxugar gelo, mas, se não fizermos isso, vai molhar tudo e vai ter uma série de novos problemas. Enxugar gelo é importante.

Continua após a publicidade

Como evitar que haja vítimas entre inocentes e policiais no meio desse fogo cruzado? A polícia vai lá para libertar as pessoas do jugo dos criminosos, até para que esses lugares não virem daqui a pouco uma cidade dentro da cidade. A gente sabe que é um efeito colateral muito ruim quando uma vítima inocente perde sua vida. A gente montou, no âmbito da Polícia Militar, uma sala de tomada de decisões, investimos no maior centro de treinamento policial da América Latina e há o controle das operações pelo Ministério Público, conforme pede a ADPF. Essa parte da Arguição, a propósito, eu acho até positiva.

O que o senhor propõe como revisão da ADPF das Favelas? Só o Rio tem uma limitação como essa. Somos obrigados a avisar nove órgãos diferentes sobre as operações. É impossível que não haja vazamento de informação. Outra questão é o uso da aeronave, fundamental no combate à criminalidade. Nos últimos trinta anos, nenhum inocente foi atingido por uma bala disparada de uma plataforma de tiro de um helicóptero. Também quero convidar o Brasil para um debate nacional sobre revisão das penas. Se um cidadão comum portar um fuzil sem autorização, ele pode responder por crimes que vão de dezesseis a 24 anos de cadeia. Mas, se for traficante, isso cai para três a dez anos, porque a lei de drogas, criada para amenizar um problema social, prevalece. Isso atrapalha demais a segurança pública.

No início do governo Lula houve uma tentativa de atuação conjunta para coibir o avanço da criminalidade. O que aconteceu depois? Não sei se por ideologia política, ou não, o trabalho da força-tarefa contra lavagem de dinheiro foi descontinuado. A sensação que a gente tem é que segurança não é a pauta principal do governo federal. Quase metade da população fala que o principal problema hoje é a segurança pública. Tivemos o G20, com presença dos maiores chefes de Estado aqui, e não se tocou no assunto. Quando o presidente Lula chama para uma reunião de segurança pública, coloca todos os governadores numa sala. Promove um debate inócuo.

E o que precisaria ser feito? Quem tem Ministério da Fazenda, Coaf e Receita Federal são eles. Recentemente identificamos uma quitanda que vendeu 30 milhões de reais em um ano. Não fecha a conta. Outro ponto é a política de fronteiras. Você pode não concordar com o Donald Trump, mas, quando ele tinha um problema de tráfico, ameaçou punir o México e o Canadá. No primeiro dia, cada país botou 10 000 agentes na fronteira com os Estados Unidos. O Brasil não dialoga sobre combate ao crime com seus vizinhos.

Continua após a publicidade

Qual será o peso da questão da segurança nas próximas eleições, em 2026? Vai ser o mote do Brasil. Só que a esquerda está presa à narrativa dos anos 1980, dizendo que se trata de um problema social. Hoje você tem indícios sérios de parcerias das facções do Rio com terroristas do Oriente Médio. Esse é um problema que pode se tornar mundial. O que é feito no Rio por essas facções é terrorismo. Prender um líder de facção e ele fuzilar uma delegacia é terrorismo.

Após esse ataque, o senhor disse para a “turminha dos direitos humanos não encher o saco”, como quem diz que vai para cima dos criminosos… Vamos, dentro da lei, mas vamos.

Isso não pode dar a impressão de que a polícia está liberada para cometer excessos? Não. Quando fizemos a operação no Jacarezinho, esse pessoal dos direitos humanos tentou fazer um memorial para os 27 criminosos mortos. O único inocente dessa história foi um policial civil, assassinado no primeiro tiro daquela manhã, enquanto retirava uma barricada. Mas não torcemos por mortes, a gente quer prender os criminosos.

Os níveis de popularidade medidos pelos institutos de pesquisa nas capitais o colocam entre os piores governadores avaliados. A segurança pública está minando sua popularidade? Totalmente. Quando a gente faz pesquisas, a minha avaliação ruim se concentra 90% nessa área. A vida das pessoas não está boa. Elas olham para a liderança e cobram isso. Mas os outros dados do Rio são os melhores da história.

Continua após a publicidade

Como o senhor vê o projeto de criação de uma força municipal armada, encampado pelo prefeito Eduardo Paes? Eu agradeço o prefeito por mudar de ideia e passar a achar que a responsabilidade da segurança também é dele, porque na campanha eleitoral ele dizia o contrário. A segurança pública começa no ordenamento urbano, então estou feliz e grato pelo fato de o município do Rio ajudar, até porque grande parte dessa criminalidade está aqui na capital. Mas tenho dificuldade de entender, caso ele seja candidato a governador, como vai fazer para abrir concurso, treinar e armar os agentes no período em que ainda estiver à frente da prefeitura.

“Hoje há indícios sérios de parcerias entre o crime organizado daqui e gente do Oriente Médio. O que é feito no Rio por essas facções é terrorismo. É um problema que pode se tornar mundial”

E seu grupo político virá em torno de quem em 2026? Estou cercado de líderes que se mantiveram unidos, mesmo depois das eleições. É natural que haja diversos candidatos à reeleição. Considero, no entanto, que o presidente da Assembleia Legislativa, Rodrigo Bacellar, o único eleito por unanimidade na história da Casa, é quem tem o melhor instrumento político na mão. A Assembleia é muito poderosa e Bacellar é quem reúne mais condições para disputar com o Eduardo Paes, em pé de igualdade. É preciso que cada um encontre seu espaço, o que nós queremos é vencer a eleição.

Com o atual nível de popularidade, o senhor se considera um bom cabo eleitoral? Se a gente olhar os números do governo, eu sou um excepcional cabo eleitoral. Só que o candidato tem que querer explorar isso.

Continua após a publicidade

E no campo nacional, quem o senhor defende? Eu estou com Jair Messias Bolsonaro, sempre. Seria até uma traição da minha parte não defendê-lo apaixonadamente. Se ele não puder concorrer, estarei com quem o presidente Bolsonaro indicar. Irei ao ato convocado para o dia 16 de março, em Copacabana. Sempre estou a seu lado quando ele vem ao Rio para agendas públicas.

O ex-presidente foi denunciado pela PGR. O senhor reconhece que há fortes indícios que demonstram uma tentativa de golpe de Estado? O próprio ministro da Defesa do presidente Lula, José Múcio, disse que não teve. Quando você se encontra em um espaço de poder igual ao que o presidente Bolsonaro estava, surge toda sorte de pessoas com ideias mirabolantes. Muitas vezes a gente ouve e analisa a viabilidade daquilo. Se não for viável, descarta. Me parece que o presidente ouviu, mas não consigo enxergar a existência de atos preparatórios.

O futuro político do senhor é concorrer ao Senado? Se eu vier a me candidatar a alguma coisa, será ao Senado. É minha aspiração pessoal. Não saio nem para deputado federal nem estadual. Eu tenho o benefício da escolha. Minha força no interior, onde estão 60% dos votos, é muito grande.

Publicado em VEJA de 21 de fevereiro de 2025, edição nº 2932

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
a partir de 9,90/mês*
ECONOMIZE ATÉ 47% OFF

Revista em Casa + Digital Completo

Nas bancas, 1 revista custa R$ 29,90.
Aqui, você leva 4 revistas pelo preço de uma!
a partir de R$ 29,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a R$ 9,90/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.