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‘Falta liderança’, diz Jorginho Mello sobre Lula

Governador de Santa Catarina vê um presidente isolado e projeta ampla vitória da direita em 2026, com a união do grupo em torno de Jair Bolsonaro

Por Laísa Dall'Agnol Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 21 jun 2025, 10h50 - Publicado em 20 jun 2025, 06h00

Aliado de primeira hora do ex-presidente Jair Bolsonaro, o governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), chega ao terceiro ano de mandato com índices positivos em áreas sensíveis como crescimento econômico e segurança pública. A pouco mais de um ano de tentar a reeleição, esse desempenho se reflete na avaliação da gestão, que tem 77% de aprovação, segundo levantamento deste mês do instituto Paraná Pesquisas. Com a mesma ênfase com que defende Bolsonaro — que espera ver de volta ao Palácio do Planalto —, o catarinense faz críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que avalia como alguém isolado, sem credibilidade e que colhe os efeitos de uma pauta contrária ao interesse da população. Para a eleição de 2026, ele defende a conjunção das forças de oposição em torno de Bolsonaro e projeta a vitória esmagadora da direita e a derrota de Lula. “Ele não ganhará se continuar com a política que tem feito. A gastança faz com que seu governo piore a cada dia”, diz.

Qual a sua avaliação sobre a dificuldade do governo em aprovar um pacote sobre as contas públicas? A situação mostra, mais uma vez, a falta de credibilidade e liderança do presidente Lula. Ele tenta aumentar impostos e repassar a conta para a população, mas os parlamentares sabem que isso tem custo político. O governo está isolado, sem articulação sólida, e colhe os frutos de sua agenda impopular. O Congresso, em boa parte alinhado aos valores liberais, resiste porque entende que o Brasil precisa de corte de gastos, não de mais carga tributária.

Como está a sua relação com a gestão Lula? Tenho posição política 100% contrária à do presidente. Não possuo afinação nenhuma com o governo federal. O que tenho feito é trabalhar questões importantes para o estado, pois isso transcende qualquer tipo de partido, de ideologia. Tenho a responsabilidade de ser governador, assim como Lula tem a responsabilidade de ser presidente. O governo federal não vai bem, tanto é que as pesquisas indicam que está em queda livre. Santa Catarina aprendeu a resolver seus problemas, porque a cada 100 reais que mandamos para o governo federal voltam 10. Outros estados mandam 100 reais, voltam 300, 500, 800. Se sobra qualquer coisa em Brasília, ninguém se lembra de nós, porque eles acham que não precisamos de nada.

Lula corre o risco de não ser reeleito? Não tenho dúvida. Ele não ganhará a eleição se continuar com a política que tem feito. A gastança faz com que o governo piore a cada dia. Se você gasta mais do que ganha, vai se arruinar, e isso não é um bom exemplo.

“Santa Catarina aprendeu a resolver seus problemas, porque mandamos 100 reais ao governo federal e voltam 10. Se sobra qualquer coisa em Brasília, ninguém se lembra de nós”

O senhor acredita que o ex-presidente Jair Bolsonaro conseguirá disputar a eleição? Torço muito para isso. Ele é meu candidato. E, se não for ele, será o candidato que ele indicar. Torço muito para que a justiça seja feita e que ele fique elegível, porque o Brasil quer isso de novo. Ele é o maior líder dos últimos anos no Brasil.

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Insistir até os “48 minutos do segundo tempo” na candidatura, como Bolsonaro defende, não atrapalha a direita? Nada acontece antes da hora. Ele vai ser sábio para ver até que momento seguirá construindo a candidatura. Mas é preciso perguntar: por que ele não pode disputar? O presidente Lula teve uma série de dificuldades. O Supremo deu um golpe de mestre, disse que os processos não estavam certos, que tinha que voltar para outra instância. Qual o crime que Bolsonaro cometeu? Quando teve aquele barulho em Brasília, o 8 de Janeiro, ele estava fora, não estava lá.

O que achou do depoimento do ex-­presidente no STF? Bolsonaro foi firme, respeitoso e deixou claro que não cometeu nenhum crime. Está tranquilo, sabe que não deve nada.

O senhor apoia a anistia aos envolvidos no 8 de Janeiro? Apoio, porque têm sido dadas muitas penas excessivas, penas que muito traficante não tem. É um projeto que pode acontecer, um entendimento entre Supremo, Câmara e Senado. A pena excessiva não vai corrigir absolutamente nada, só esquenta mais a chapa, coloca mais dificuldade na política nacional.

Houve tentativa de golpe? Não houve. O que houve foi uma série de trapalhadas, com alguns das Forças Armadas, aquelas conversas todas. Não teve, porque não teve armamento, não teve quem queria assumir. Golpe de Estado é outra coisa. Não houve absolutamente nada. Estão exagerando.

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Governadores têm se movimentado para ocupar o campo da direita na corrida presidencial. Como enxerga isso? Todos são pessoas preparadas, inteligentes, que sabem que têm que se somar a Bolsonaro. Nenhum tem condições de fazer qualquer tipo de voo solo. É por isso que todas as nossas forças têm que estar ao lado do ex-­presidente. Não é inteligente um leque de candidaturas de direita. Precisamos ter um líder, e o líder é Bolsonaro. A direita tem que estar unida para reconquistar a política nacional.

Como está a expectativa da direita para 2026? Teremos um aumento considerável do número de senadores e deputados. A população está cansando desse discurso pobre, que não constrói nada. Isso é importante para equilibrar, para qualificar a política brasileira. Os partidos começam a se aglutinar, como o União Brasil e o PP, para ficar um bloco muito fortalecido, pensando nas eleições lá na frente.

O que acha de o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) ser candidato ao Senado por Santa Catarina? Ele é um amigo que luta por um Brasil melhor. Está do lado certo. O seu nome vem sendo cogitado numa articulação do PL nacional com Bolsonaro. Se for a escolha do ex-presidente, será a minha. No final, é o povo catarinense que decide quem será o seu representante. Acredito no potencial de Carlos no estado e no seu trabalho para nos representar e ajudar o Brasil no Senado.

Santa Catarina teve um crescimento da economia de 5,7% em 2024, acima da média nacional e dos demais estados da Região Sul. A quais fatores credita os bons resultados? À política econômica que temos feito. Santa Catarina é um estado vocacionado ao trabalho, que tem o maior número de carteiras assinadas no país e proporcionalmente o menor número de beneficiários do Bolsa Família. Se um empresário quer expandir a sua empresa e gerar empregos, nós postergamos o pagamento de tributos para que ele retribua com incremento da força de trabalho e crescimento econômico. Há também a política austera nas contas públicas. Isso faz com que a máquina fique mais leve. Não aumentamos tributos, porque se você diminui a carga arrecada mais. Temos seis portos e estamos fazendo mais investimentos, por meio da iniciativa privada. No agro, temos um rebanho todo rastreado e somos o que mais vende proteína animal para o Japão, por causa da nossa questão sanitária.

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Com redução de roubos, furtos e a menor taxa de homicídios do país (9 por 100 000 habitantes em 2024), o senhor tem propagado que bandido não tem “moleza” no estado. O que significa isso? Combatemos o crime com dureza. As forças policiais são bem qualificadas. Investimos muito em tecnologia e no material humano, com fardamento, reposição salarial, equipamentos e inteligência, para estar sempre à frente da bandidagem.

Por que o senhor tem investido em programas de trabalho dos presos? Temos a política de que o preso precisa trabalhar. Dos 28 000 apenados, quase 40% trabalham. E há empresas que procuram essa mão de obra, que é muito concentrada e dedicada, porque ela está ali em tempo integral, não tira atestado médico, não falta ao serviço. O preso ganha um salário mínimo por mês, sendo que 50% vai para a família, 25% coloca-se num fundo que, quando ele se inserir de novo na sociedade, pode sacar para levar, mas 25% é para pagar o custo dele no presídio. Tem fila de empresários que desejam essa mão de obra. Vamos abrir mais 8 000 vagas. É um programa que é bom para a empresa, para o governo e para o próprio detento.

“Acredito no potencial do Carlos Bolsonaro no estado para concorrer ao Senado e no seu trabalho para nos representar. Se for a escolha do pai dele, será também a minha”

O presídio de Florianópolis vai ser demolido e, em seu lugar, será erguida uma estátua semelhante à do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. Qual é o propósito? É um sonho de muito tempo desativar essa prisão, que está numa zona central. Queremos fazer um polo cultural, em vez de ter esse complexo penitenciário. Faremos uma parceria público-privada com restaurantes, bares e a construção da estátua de Santa Catarina, que é a padroeira do nosso estado. Será um complexo de turismo, de gastronomia e de religiosidade. Vai ser uma transformação em toda aquela região.

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Sobre a PEC da Segurança, proposta pela gestão Lula, há queixas dos governadores, que temem perder protagonismo. Qual a sua avaliação? Não defenderei nenhum tipo de PEC, nenhum tipo de lei que tire autonomia dos estados. Isso foi conquistado na Constituição e é sagrado. O governo federal quer fazer uma política pública em apoiamento, em fortalecimento das polícias estaduais? Concordo 100% com isso. O que não concordo é criar uma outra estrutura policial, uma estrutura nacional, para dizer que está preocupado com segurança pública. O Brasil não precisa de mais leis. Precisa fazer acontecer o que já está escrito na Constituição.

De que forma isso deveria ser feito? O governo federal precisa cuidar das fronteiras, algo que faz de forma muito incompetente. Porque dali é que vêm drogas, armas. E apoiar os estados e suas polícias estaduais, com recursos para se modernizarem, com equipamentos, uma série de ações que poderão ser feitas sem intromissão, sem querer criar uma nova polícia.

Santa Catarina passou a multar quem está usando drogas nas ruas. Como está sendo essa política? Você não pode estar numa praça com teu filho, com a tua mãe ou com alguém da tua família e do teu lado alguém estar fumando maconha. Então a gente fez uma lei para aplicar multa administrativa, em dinheiro. Eu não quero que maconheiro esteja na praça fumando maconha, convivendo com crianças, com qualquer cidadão.

Recentemente, em uma reunião com outros governadores da região, o senhor disse que o Sul pode se separar do resto do país se continuar o quadro nacional atual. Foi uma piada ou tem um fundo de verdade? Não sou separatista. Tenho orgulho de ser brasileiro, e o catarinense também tem. Mas não estamos satisfeitos com o tratamento que Brasília nos dá.

Publicado em VEJA de 20 de junho de 2025, edição nº 2949

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