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“Faremos diferente”, diz novo presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB)

Executivo sabe ter imenso desafio para fazer o país avançar no número de medalhas em 2028, mas pretende encaminhar o futuro feito de pódios

Oferecimento de Atualizado em 10 jan 2025, 09h21 - Publicado em 10 jan 2025, 06h00

Entre 2018 e março de 2024, o ex-triatleta Marco La Porta foi vice-presidente do Comitê Olímpico do Brasil, o COB, durante a gestão de Paulo Wanderley. Nos Jogos de 2012 , em Londres, e 2016, no Rio de Janeiro, ele chefiou a equipe brasileira de triatlo nos torneios. O zelo com a organização e administração esportiva o fizeram crescer dentro da burocracia do comitê nacional. Contudo, divergências de gestão provocaram o rompimento com a administração de Wanderley. Não demorou para que decidisse lançar sua candidatura para um novo ciclo, de mãos dadas com Yane Marques, pentatleta medalhista de bronze em 2012. Em outubro do ano passado, a dupla oposicionista recebeu 30 votos, antes 25 da chapa situacionista. A nova gestão tomará posse na quarta-feira, 15 de janeiro, com mandato até 2028. O desafio: melhorar o desempenho na Olimpíada de Los Angeles em comparação a de Paris, quando o Brasil ganhou 20 medalhas, das quais três de ouro, sete de prata e dez de ouro, em nítida estagnação na comparação com Tóquio, durante a pandemia.

La Porta, de 57 anos, sabe que será cobrado, mas insiste na postura inovadora. Ele conversou com VEJA dias antes da concorrida posse.

O que há de errado no Comitê Olímpico do Brasil, o COB? Falta uma gestão mais moderna, de modo que a distribuição de verbas para as confederações seja mais inteligente. O dinheiro deve ser encaminhado de maneira assertiva, ao apoiar as modalidades que precisam de mais investimentos e representem, em futuro breve, medalhas. Nosso plano inicial é cuidar da alocação monetária, de mãos dadas com os patrocinadores e os programas governamentais.

Há algum modelo que sirva de exemplo? Gosto muito do trabalho dos comitês olímpicos britânico e australiano, mas sobretudo o holandês.

O que a Holanda faz de tão especial? Lembremos que, tanto em Tóquio quanto em Paris, os holandeses ficaram no top ten de medalhas, o que é extraordinário para um país tão pequeno. Há, na Holanda, um sistema de permanente atenção e estratégia com clubes e modalidades que encaminhem o pódio, como o atletismo, o remo e o ciclismo de pista. Um atleta sem chance não vai para a olimpíada. Há surpresas, claro, mas são raras.

Mas como aplicar o modelo da Holanda, país com pouco mais de 17 milhões de habitantes e do tamanho do estado do Rio de Janeiro, a uma nação continental como o Brasil? Não dá para adotar um único modelo, como se todas as realidades fossem iguais, e é esse cuidado que a Yane Marques, a vice-presidente do COB, e eu pretendemos ter, em diálogo com os dirigentes e os atletas. Veja o caso do surfe, por exemplo, que nos deu três medalhas em dois jogos. Não é possível atrelá-lo a um clube esportivo. Com o judô, ímã de 25 medalhas, no topo do ranking brasileiro de todos os tempos, sim. É preciso valorizar iniciativas como as de Maricá, no Rio de Janeiro, a cidade do tiro com arco, e Ubaitaba, a capital da canoagem, que revelou Isaquias Queiroz.

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Existem outros lugares com potencial equivalente? Sim, e já começamos a estudar as possibilidades reais. O estado de Sergipe é um polo extraordinário de ginástica rítmica. O Praia Clube, de Uberlândia, tem promessas em wrestling, tiro e vôlei de praia. O Clube Pinheiros, de São Paulo, voltou de Paris com nove medalhas, na soma de pódios olímpicos e paralímpicos.

Os dirigentes esportivos são vistos, com atávica frequência, como cartolas nem sempre cuidadosos com o dinheiro público e privado. Como garantir ao cidadão comum que sua gestão com a Yane dará certo? Porque faremos diferente.

No quê? Insisto: organizaremos uma distribuição meritocrática das verbas, tanto da iniciativa privada quanto dos valores determinados pela Lei das Loterias. Hoje, o COB tem os recursos, uma confederação bate à porta, pede ajuda e o problema é resolvido sem muito zelo, sem critério nítido. Não pode ser assim. A ideia é que possamos agir com rapidez e solidez, olhando para as reais necessidades.

O torcedor pode, então, a partir dessa reestruturação, desse novo olhar, esperar em Los Angeles, daqui a três anos, resultado melhor do que em Paris? Não vou economizar palavras. Estamos muito preocupados com o resultado de Los Angeles. Houve um grande investimento nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio. Depois, contudo, as empresas se afastaram um pouquinho. No Rio e Tóquio o Brasil foi muito bem. Em Paris, estagnou. Dificilmente ultrapassaremos o patamar de 2024. É possível que caíamos e não cheguemos a 20 medalhas.

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Por quê? Porque a geração formada para os Jogos de Tóquio e Paris tende a ser a mesma de Los Angeles, mas ela está perdendo fôlego. Não há como descobrir revelações em um único ciclo de quatro anos. Vamos nos esforçar, sem dúvida, mas é preciso ser realista. Trabalharemos desde já, de olho em Los Angeles, mas mirando Brisbane, em 2032.

Como fazer, portanto, para evitar decepção ruidosa em Los Angeles? Blindar e cuidar ao máximo, com investimentos, dos atletas medalhistas em Paris e que podem voltar ao pódio, ainda que não representem novidade. Vamos mapeá-los. É o caso da Rebeca Andrade. Do surfe. É o caso da Rayssa Leal no skate. Do Isaquias na canoagem. Da Duda e Patrícia no vôlei de praia. Precisamos garantir a eles um ciclo seguro.

Mas como crescer sem renovar? Não existe outra escolha. Os campeões de Los Angeles já estão prontos. O que a gente precisa agora é mantê-los fortes e em paralelo começar a preparar a geração de Brisbane. Não há uma receita de bolo, mas diria que o movimento é claro, se olharmos para o futuro: quanto mais aumentar a base de praticantes, nas escolas, com apoio do Ministério da Educação, maiores serão as chances de vitórias. Não é exatamente algo novo, mas a engrenagem precisa girar nessa direção.

E de onde virão, no futuro, para outros Jogos, as novas estrelas? Um plano é fazer o COB, e sua estrutura, mais conhecido e atuante nos estados do Nordeste e Norte do Brasil, inclusive com centros de treinamentos regionais. É um modo de minerar futuros campeões. Há imenso espaço para crescimento, tenha certeza. A Yane, nascida em Pernambuco, tem especial afeição por essa ação.

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A exagerada atenção ao futebol atrapalha os outros esportes? Já atrapalhou mais. O futebol no Brasil extrapola os gramados. É cultura e, para muitas pessoas, religião. Foge, portanto, do estereótipo de esportes olímpico. Mas pense… quando é que a gente imaginaria que o Brasil seria o país da ginástica, não é? Se falássemos isso há 10 anos, nos chamariam de malucos. E que bom que as meninas possam se mirar na Rebeca e em outras ginastas, e não apenas em jogadores de futebol.

Antes de Los Angeles, porém, haverá a Copa do Mundo dos Estados Unidos, México e Canadá, em 2026, e a Copa feminina no Brasil, em 2027. Como manter viva a chama do movimento olímpico durante esse período? Teremos de fazer do limão uma limonada, para atrair interesse. Não será fácil. O caminho até 2028 será duro, mas possível de ser atravessado com sucesso.

Uma modalidade em especial – ela sim, totalmente fora do estereótipo – cresce sem parar: os e-sports, de jogos eletrônicos. Eles farão parte, um dia, do calendário olímpico? Nos Jogos Olímpicos de verão ou inverno, no calendário das competições de hoje, não creio. Mas certamente teremos, periodicamente, olimpíadas de e-sports. É um modo de atrair a juventude. O Comitê Olímpico Internacional (COI) foi inteligente a incentivá-los. Convém lembrar que muita gente criticava o skate e o surfe, e vingaram com louvor, especialmente no tabu. E quem fazia cara feia, já não faz mais.

Há outras modalidades que deveriam entrar no calendário olímpico? Faço aqui uma provocação para a CBF: por que não brigar pelo futsal? E, quem sabe, até o beach tennis. Sei que o COI está atento, e não fechará as portas antes de muita discussão.

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Vingará a ideia de um empresário australiano, Aron D’Souza, que propõe a realização do que ele batizou de Enhanced Games (Jogos Aprimorados), sem testagem alguma para substâncias químicas atreladas ao doping? Não. É projeto que não cabe no movimento olímpico, é contra a saúde dos atletas, uma provocação sem muito sentido. Mas as pessoas tem o direito de defender o que bem quiserem. Mas é bom lembrar que a Wada, a agência anti-doping, tem feito um trabalho cuidadoso e essencial.

E a participação de atletas transgêneros, é viável? Há, logo de cara, uma premissa que não pode ser abandonada, em respeito aos direitos humanos: todo mundo tem direito à prática esportiva. É básico e inegociável. No alto rendimento, contudo, há regras que precisam ser respeitadas, em nome da justiça e do equilíbrio. No momento que a competição for injusta para as mulheres, ou não for igual, ou não for segura, a participação de esportistas que firam essas condições deve ser repensada. Mas isso não impede a prática de esportes. Haveria restrições em disputas de alto rendimento, insisto. Gosto de citar um exemplo do futebol. O lateral é batido com as mãos. É a regra do jogo. Não se pode bater com os pés. É norma e ponto. O caminho é seguir as orientações das confederações – entre as que autorizarem atletas trans, então ok.

Mesmo que provoque imensa grita? Sim. Deve-se acompanhar as transformações do mundo, cada vez mais rápidas e inclusivas. Lá atrás, as mulheres eram barradas na maioria das modalidades. Em Paris, felizmente, houve exata divisão feminina e masculina. Era avanço fundamental. Toda olimpíada deve ser retrato do mundo em que vivemos.

Houve, nos Jogos de Paris, o triste episódio da boxeadora argelina Imane Khelif, uma pessoa intersexo, acusada de ter força masculina, o que a levaria a algum tipo de vantagem na conquista do ouro. Concorda com os ataques feitos contra ela? De modo algum. Houve inaceitável preconceito com as críticas injustas. A participação da pugilista tinha sido aprovada pelo COI, depois de sucessivas testagens. E convém lembrar que a Associação Internacional de Boxe (IBA), que alimentou a celeuma em Paris, não é reconhecida pelo COI desde 2019. Imane estava dentro das regras.

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