Quando fez coro presidente Jair Bolsonaro (PSL) nos ataques ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que constatou um aumento no número de desmatamentos na Amazônia nos últimos meses, o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles colocou em xeque a eficiência do sistema Deter, que emite alertas diários de desmatamento para orientar ações de fiscalização. O chefe da pasta considera a plataforma imprecisa e anunciou a abertura de licitação para um serviço privado que considera mais eficaz.
Ponderações do ministro à parte, uma plataforma criada por uma rede formada por universidades, empresas de tecnologia e entidades ambientais já confirma os efeitos detectados pelo Inpe e contra os quais os presidente e seu ministro se insurgiram. Lançada no mês passado, a MapBiomas cruza os alertas de satélite com informações fundiárias e dos órgãos de fiscalização e os refina com imagens em maior resolução, fornecidas pela Planet — a mesma que foi elogiada por Salles em entrevista a VEJA. Visto de cima, o resultado dá feições ainda mais dramáticos do que os números que o presidente chamou de “mentirosos”.
Somente entre janeiro e março deste ano, o sistema cruzou mais de 2.307 alertas com dados fundiários, em uma área que cobre pelo menos 59 mil hectares em todo o país. Mais de 95% não tinham autorização ou estão em situação ilegal, por afetarem áreas de reserva legal ou de preservação permanente. Coordenador da plataforma, o engenheiro florestal Tasso Azevedo explica que o número é preocupante por uma particularidade climática, em especial na Amazônia: no início do ano, há tradicionalmente menos desmatamentos por causa do tempo mais úmido e a alta nebulosidade dificulta a captação de imagens. A tendência, portanto, é piorar.
Ele explica que os sinais emitidos pelo governo Bolsonaro, que vai da desautorização dos órgãos de controle à intenção de reduzir as unidade de conservação, tendem a favorecem este cenário. “Desmatar é uma atividade cara e que se torna mais ou menos frequente de acordo com o risco de ser penalizado por uma ilegalidade. No momento vive se tornou uma aposta de baixo risco diante da certeza da impunidade”. Reportagem de VEJA mostra que a política ambiental de Bolsonaro prejudica não só a imagem do país, mas também podem gerar perdas na economia.
Arraste as setas para os lados para ver os maiores desmatamentos sem autorização de 2019, segundo a MapBiomas
Área desmatada:
Equivale a:
Bioma:
Bacia hidrográfica:
O que afeta?
493,67 hectares
457 campos de futebol
Cerrado
Rio Tocantins
Reserva legal, área de preservação permanente e nascente
Área desmatada:
Equivale a:
Bioma:
Bacia hidrográfica:
O que afeta?
465,95 hectares
431 campos de futebol
Amazônia
Rio Tapajós
Reserva legal, área de preservação permanente e área com embargo (não pode ser utilizada em razão de uma penalidade anterior)
Área desmatada:
Equivale a:
Bioma:
Bacia hidrográfica:
O que afeta?
406,91 hectares
377 campos de futebol
Cerrado
Rio São Francisco
Área de preservação permanente
Área desmatada:
Equivale a:
Bioma:
Bacia hidrográfica:
O que afeta?
368,92 hectares
342 campos de futebol
Cerrado
Rio Xingu
Área de preservação permanente
Área desmatada:
Equivale a:
Bioma:
Bacia hidrográfica:
O que afeta?
364,94 hectares
338 campos de futebol
Amazonia
Rio Xingu
Reserva legal
Área desmatada:
Equivale a:
Bioma:
Bacia hidrográfica:
O que afeta?
336,19 hectares
311 campos de futebol
Cerrado
Rio Araguaia
Área de preservação permanente
Área desmatada:
Equivale a:
Bioma:
Bacia hidrográfica:
O que afeta?
280,74 hectares
260 campos de futebol
Cerrado
Rio Tapajós
Reserva legal e área de preservação permanente
Área desmatada:
Equivale a:
Bioma:
Bacia hidrográfica:
O que afeta?
228,87 hectares
212 campos de futebol
Pantanal
Rio Taquari
Área de preservação permanente
Área desmatada:
Equivale a:
Bioma:
Bacia hidrográfica:
O que afeta?
217,68 hectares
202 campos de futebol
Amazonia
Rio Xingu
Reserva legal
3992
Área desmatada:
Equivale a:
Bioma:
Bacia hidrográfica:
O que afeta?
205,70 hectares
190 campos de futebol
Cerrado
Rio Xingu
Reserva legal e área de preservação permanente
Área desmatada:
Equivale a:
Bioma:
Bacia hidrográfica:
O que afeta?
199,49 hectares
185 campos de futebol
Cerrado
Rio Tapajós
Nada, mas o desmatamento não tem autorização