Em junho de 2019, o pastor Anderson do Carmo foi assassinado a tiros na frente de casa, em Niterói, região Metropolitana do Rio de Janeiro. Na época, a deputada federal Flordelis estava junto do então marido e disse à polícia que teria sido um assalto; mas as investigações levaram o caso para outro rumo: o de execução premeditada. No julgamento sobre a morte do religioso, iniciado nesta segunda-feira, e que deve se estender até sexta-feira, 12, a estratégia da defesa da ex-parlamentar investiu na narrativa de que o esposo assassinado teria abusado sexualmente de Flordelis e também a agredido fisicamente.
“Ele começou a me judiar, principalmente na hora do sexo. Mas fisicamente também. Ele me sufocava com travesseiro e também torceu meu braço”, disse a ex-deputada federal, que estava em tribunal acompanhada de três filhos e uma neta, também em julgamento. O advogado de defesa da ré também corrobora a versão e afirma ter provas, prints de conversas, as quais elucidam, sim, abusos e agressões por parte da vítima, mas que não foram revelados.
No entanto, a delegada Barbara Lomba, presidente das investigações iniciais, explicou, durante a oitiva que os depoimentos de Flordelis não citaram, em nenhum momento, abusos. “A própria deputada sempre falou muito bem dele, que a prática dele era muito correta, ética. Que tratava a todos com muito carinho e amor”, contou a delegada, à época no comando da Delegacia de Homicídios. Indo além na questão afetuosa, a policial explicitou que havia, na residência do casal, um tratamento de amizade entre todos, não um relacionamento nuclear de família. “Havia uma questão pertinente na forma como eles se tratavam. Não era como se fossem pai, mãe e filhos. Na realidade, as relações ali eram abertas e há declarações de que havia trocas entre eles”, elucidou a investigadora. Neste momento, Flordelis desatinou em choro.
No segundo dia de depoimentos, o delegado Allan Duarte reafirmou a versão da investigadora anterior. A cantora gospel cumpre prisão preventiva desde agosto de 2021, após ter o mandato cassado no Congresso e responde por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e de recurso que impossibilitou a defesa da vítima), além de tentativa de homicídio – em decorrência do envenenamento contínuo do esposo, uso de documento falso e associação criminosa. A juíza que analisa o caso, Nearis dos Santos Carvalho Arce, da 3ª Vara Criminal de Niterói, ainda não deu o veredito, que deve sair ainda nesta semana.