O vice-presidente Hamilton Mourão se reuniu nesta quinta-feira, 9, com investidores que divulgaram uma carta ameaçando deixar o Brasil caso a destruição da Amazônia não seja contida pelo governo. Os administradores de 3,7 trilhões de dólares (19,7 trilhões de reais) ouviram de Mourão e de alguns ministros de estado que há no exterior falta de informações e distorções relacionadas à atuação do país na preservação do meio ambiente. O vice garantiu que os indicadores provarão que houve queda no desmatamento e defendeu o trabalho desempenhado pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
Os últimos dados apresentados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostram que o Brasil registrou treze meses consecutivos de aumento no desmatamento na Amazônia. Ambientalistas dizem que este ano está mais seco do que o anterior e temem a destruição que pode ser provocada pelas queimadas na região, cujo período de pico está se aproximando. Nesta semana, o Ministério Público Federal (MPF) entrou com uma ação pedindo o afastamento de Ricardo Salles do cargo por desmontar o sistema de proteção ambiental do país.
“O ministro tem a total confiança do presidente Bolsonaro e a minha também. Todos estamos sujeitos a críticas, não somos pessoas infalíveis, mas parcelas das críticas [direcionadas ao ministro Salles] são injustas”, afirmou Mourão, em coletiva de imprensa após o encontro com os investidores.
O vice-presidente disse que convidou os representantes a investirem em fundos de proteção ambiental no Brasil e criticou o que considera ser uma campanha difamatória contra o agronegócio do país. “Há uma disputa geopolítica. O Brasil tem um potencial extraordinário pelas características do seu território e do seu povo. Temos água, luz, terra fértil e espaço para avançar e crescer. Nós seremos, em breve, a maior potência agrícola do mundo. E existem aqueles que serão incomodados pelo avanço da produção brasileira”, afirmou.
O Brasil ganhou status de pária internacional em função da negligência do governo em relação às questões ambientais, à proteção aos povos indígenas e ao combate à pandemia de Covid-19. Mas, para Mourão, as críticas ao país têm outras motivações. “Vamos sofrer pressões. Uma delas é dizer que o Brasil destrói a Amazônia para produzir alimentos. A floresta está em pé. Coloca-se que as florestas estão queimando, mas é muito claro que isso só ocorre numa área que já foi desmatada”, declarou.
Fundo Amazônia
Mourão disse que reabriu negociações com Alemanha e Noruega para reativar a injeção de dinheiro no Fundo Amazônia. Os países interromperam o financiamento de programas de preservação da floresta no ano passado por não concordarem com a política ambiental de Bolsonaro. O vice disse que está confiante de que poderá apresentar índices melhores aos países europeus no segundo semestre para convencê-los a investir novamente no fundo.
“Iniciamos novas conversas com os dois grandes doadores e estamos aguardando o visto bom deles, que também está ligado à nossa resposta em relação ao desmatamento. Uma vez que a gente consiga apresentar dados consistentes, os recursos que estão lá serão novamente abertos para o desenvolvimento e a preservação da Amazônia. Não há prazo para isso acontecer, mas se tivermos um resultado positivo em relação às queimadas, podemos colocá-lo na mesa de negociação e dizer: ‘Estamos cumprindo nossa parte, voltem a cumprir a de vocês'”, disse Mourão.
Além de Mourão e Salles, participaram da reunião com os investidores a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.