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A meta de Cabral e o reencontro com o estudante a quem chamou de ‘otário’

Condenado a mais de 400 anos, ex-governador quer anular todas as condenações impostas pelo juiz Marcelo Bretas

Por Hugo Marques Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Laryssa Borges Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 5 mar 2023, 13h42
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  • Condenado a 425 anos de cadeia por um rosário de crimes investigados no escândalo do petrolão, o ex-governador Sergio Cabral pode circular livremente pela cidade do Rio de Janeiro. Depois de seis anos preso – período em que admitiu ser “viciado” em poder e dinheiro – o que lhe resta é apenas uma tornozeleira eletrônica, apetrecho do qual, se seus planos derem certo, ele pretende se livrar muito em breve. É que o mais notório dos presos do braço fluminense da Lava-Jato se prepara para entrar com uma enxurrada de recursos contra o juiz Marcelo Bretas, afastado do cargo pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), na terça-feira, 28, com um objetivo único: anular todas as mais de 20 condenações impostas a ele pelo magistrado.

    Com a queda de Bretas, suspenso do posto sob a acusação, revelada por VEJA, de orientar investigados e combinar estratégias com o Ministério Público, o ex-governador quer agora repetir o receituário do presidente Lula, que jogou por terra todas as acusações e condenações contra ele após o Supremo Tribunal Federal (STF) ter concluído que o então juiz Sergio Moro perseguiu politicamente o petista. “A lei diz que o Lula foi absolvido de todos os processos. Cabral foi condenado a mais de 400 anos de prisão e do nada caiu isso tudo. Ele consegue prisão domiciliar e regalias, mas uma pessoa que rouba um pote de manteiga, um saco de feijão ou um pacote de carne para dar para os filhos está mofando no xadrez”, diz o estudante Leandro dos Santos de Paula.

    Desconhecido do público, Leandro lembra exatamente do momento em que, no final do segundo mandato de Lula, viralizou na internet após ter sido chamado de “otário” e “sacana” pelo então governador Sergio Cabral. No mesmo evento político no Rio, o presidente também ironizou uma sugestão sua de opção de lazer para a população local: a construção de uma quadra de tênis. “É um esporte da burguesia”, afirmou o petista na ocasião.

    Leandro dos Santos de Paula, estudante hostilizado por Sergio Cabral, diz que justiça é falha
    Leandro dos Santos de Paula (Reprodução/Divulgação)

    Morador da comunidade de Manguinhos, local visitado pelos dois políticos antes de a Lava-Jato bater em seus calcanhares, o estudante hoje vê com descrédito a eficiência da Justiça, ainda que diga não entender os meandros que levam presos poderosos a poder responder aos processos em liberdade. “Tudo isso é dizer para as pessoas que elas irão continuar a ser enganadas, roubadas pelos agentes públicos, e dizer que o crime compensa. O político rouba, fica preso, mas menos tempo que outros”, comenta ele, que espera reencontrar Sergio Cabral e Lula para dizer-lhes, cara a cara, as voltas que o mundo dá. No caso do petista, afirma já tê-lo avistado em uma atividade de campanha no Complexo do Alemão, mas ainda aguarda esbarrar com Sergio Cabral e sua tornozeleira. “Quero me encontrar com o Cabral de novo e ele vai me ouvir”, afirma.

    A evidente repulsa aos dois políticos não o inibiu de tentar ele próprio ingressar na mesma carreira de seus desafetos. Leandro tentou ser deputado estadual nas últimas eleições, mas teve apenas 1006 votos. Até hoje, contudo, aguarda a quadra de tênis na comunidade.

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